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Dois irmãos fugiram dos pais na Índia. Demoraram 13 anos a voltar a casa

As crianças quiserem regressar a casa, mas acabaram também por ser separadas ao fim de um ano longe da família. Anos mais tarde, houve um segundo 'milagre': Conseguiram voltar a casa, após um dos irmãos entrar em contacto com um ativista, que 'apenas' precisou de uma semana para os colocar em contacto com a mãe. Rakhi e Bablu contam a sua história - de experiências diferentes também - agora que estão de volta a Agra, na Índia.

Dois irmãos fugiram dos pais na Índia. Demoraram 13 anos a voltar a casa
Notícias ao Minuto

23:53 - 29/02/24 por Notícias ao Minuto

Mundo Índia

Corria o verão de 2010 quando Rakhi e Bablu, então com 11 e sete anos, decidiram fugir de casa dos pais na cidade indiana de Agra - mas os caminhos trocaram-lhes as voltas e, para além de não chegarem a casa dos avós, que viviam apenas a um quilómetro, demoraram 13 anos a reencontrar-se com os pais.

Segundo a BBC, tudo se passou em junho desse ano, quando, frustrada por não encontrar trabalho nesse dia, a mãe das crianças, Neetu, bateu em Rakhi com uma pinça de metal que usava para cozinhar.

Depois disso, os irmãos aproveitaram que a mãe tinha saído de casa para fazer um recado para fugirem. "O meu pai também me batia às vezes se eu não estudasse, então quando a Rakhi chegou perto de mim e me disse para irmos viver com a avó, eu concordei", conta o irmão mais novo, Bablu.

As crianças acabaram por se perder na cidade e depois disso, um homem que conduzia um riquexó deu-lhes boleia até à estação de comboios. Entraram num destes veículos, que seguiu até Meerut, uma cidade a vários quilómetros de Agra. Foi durante a viagem que conheceram uma mulher que trabalhava para uma organização de caridade para crianças, e que os encaminhou para junto das autoridades. Daí, a polícia não os levou até casa - mas sim até um orfanato.

"Dissemos-lhes que que queríamos ir para casa, tentámos falar-lhes dos nossos pais, mas a polícia ou os responsáveis do orfanato não procuraram a nossa família", conta Bablu, explicando que um ano depois foi separado da irmã. Ela foi para um abrigo perto de Nova Deli, e ele acabou por ir para um orfanato em Lucknow

Irmãos passaram anos separados

Segundo Bablu contou à BBC, de cada vez que autoridades, trabalhadores de organizações ou jornalistas visitavam o orfanato, este falava-lhes da irmã, na esperança de conseguir reunir-se com ela.

Mas foi só sete anos depois de os irmãos fugirem de casa que conseguiram reencontrar-se. Com a entrada de uma nova funcionária no orfanato, Bablu viu a sua esperança renovada. "Ela ligou para todos os orfanatos em Noida e Grande Noida [perto de Nova Deli], e perguntou-lhes se tinham alguém chamado Rakhi institucionalizado - e depois de muito esforço, conseguiu encontrá-la", recordou o jovem, hoje. O rapaz criticou ainda a atuação do governo e das autoridades, apontando que separar irmãos nestas situações não era algo que se devesse fazer. "Quero dizer ao governo que é muito cruel separar irmãos. Os irmãos deviam ser colocados em centros, ao lado um do outro. Não é justo separá-los", notou.

"Talvez tenha tudo uma vida melhor longe de casa"

Os irmãos contaram à publicação britânica como foram as suas experiências e se Bablu não teve a melhor, com muitas crianças a baterem-lhe e com algumas tentativas de fuga dos orfanatos por onde foi passando. Rakhi contou que a organização onde cresceu tomou conta bem dela e, questionada sobre se a sua vida teria sido diferente se tivesse ficado em casa em primeiro lugar foi assertiva: "Acredito que tudo aquilo que acontece é sempre pelo melhor e talvez tenha tido uma vida melhor longe de casa". A jovem conta agora que teve uma educação e que sempre a trataram bem. "Fui á escola, acesso à saúde e outros serviços que aparecem com o estar perto de uma cidade maior", vincou.

O regresso a Deli

Quando os irmãos e conseguiram conectar falavam muitas vezes ao telefone, e a eventualidade de voltarem à família era tema em cima da mesa. Mas, para Rakhi, esse parecia um sonho distante. "Treze anos não é pouco tempo e eu tinha pouca esperança que conseguíssemos encontrar a nossa mãe", contou à BBC. Mas o irmão não tinha a mesma ideia, contando que estava muito feliz por saber da irmã, mas que se "sentia muito confiante de que agora iam também encontrar a mãe".

Em dezembro passado, Bablu decidiu telefonar a uma organização de direitos das crianças em Agra, onde falou com o ativista Naresh Paras. "Já reuniu muitas famílias, pode ajudar-me a encontrar a minha?", questionou o jovem ao ativista.

Paras conta que este caso não foi simples, já que nenhuma das crianças se lembrava do nome do pai. Eles também não sabiam de que localidade tinham vindo e os registos dos orfanatos diziam que estes tinham vindo de Bilaspur, que fica a 900 quilómetros de Agra.

Apesar de o ativista ter contactado a polícia na cidade indicada nos registos, não conseguiu encontrar rasto da infância destas crianças. Mas, depois, Bablu lembrou-se de um pormenor: na estação onde se começaram a afastar dos pais, havia um comboio fictício.

"E eu sabia que tinha de ser a estação de Agra Cantonment", explicou o ativista, que ligou para as autoridades e, numa das esquadras, havia uma 'luz' - uma queixa do desaparecimento das crianças feita pelo pai. Paras procurou depois a família, que entretanto se mudou. Apesar das poucas esperanças, Rakhi lembrou-se então do nome da mãe e que esta tinha uma marca no pescoço.

Paras foi então até a um centro onde trabalhadores diários procuram trabalho a cada 24 horas e procurou pela mulher. Não encontrou, mas outras pessoas que estavam lá referiram que sabiam quem era e que iria passar a mensagem. E passaram - levando a mulher até à esquadra em questão, e fazendo-a entrar em contacto com o ativista.

Paras reuniu-se então com Neetu, mostrando-lhes fotos e a queixa feita pelo pai. Os três reuniram-se numa videochamada e todos se reconheceram entre si. Neetu admitiu que "se arrependia de ter batido em Rakhi" e sobre todos os esforços que fez para encontrar os filhos.

"Pedi algum dinheiro emprestado e viajei para Patna [capital do estado de Bihar] depois de saber que os meus filhos tinham sido vistos a mendigar nas ruas. Visitei templos, mesquitas e igrejas para rezar pelo seu regresso em segurança", contou.

No reencontro, a irmã mais velha descreveu o momento como "se fosse um filme", dado que nunca esperou que fosse ver a mãe outra vez. "Fiquei muito feliz", contou. Já Bablu confessou que tinha "sentimentos mistos", explicando: "É incrível que o Paras tenha demorado apenas uma semana a encontrar a minha família. Estava zangada com a polícia e com os funcionários das organizações que não me ajudaram apesar dos pedidos repetidos, mas estava muito feliz a falar com a minha mãe. Ela chorava e dizia: 'Porque me deixaste?' Eu disse-lhe: 'Nunca te teria deixado. Perdi-me'".

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