"Acreditamos e continuamos muito confiantes de que estes acontecimentos ainda violam a Convenção do Genocídio, embora Israel diga ao Tribunal que estas declarações são simplesmente retóricas e que não devemos dar-lhes qualquer importância", adiantou o ministro sul-africano.
Em declarações à imprensa no final da audiência de hoje perante o TIJ, o ministro da Justiça sul-africano salientou que Israel "admite que foram feitas estas declarações" que comprovam a alegada "intenção genocida" israelita, mas que "surpreendentemente, afirma que foram feitas como retórica, por pessoas fora do poder, não por líderes políticos, que não explicam nem condenam as ações dos militares", referiu.
"Como é que se pode ignorar a declaração do Primeiro-Ministro, do Ministro da Defesa e dos soldados cantando e repetindo o que o primeiro-ministro disse", questionou o político do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder desde 1994 na África do Su.l, acrescentando que "é pura implementação de políticas".
O governante sul-africano lamentou também que Israel se tenha "focado amplamente nos acontecimentos de 07 de outubro", em vez do impacto humanitário da ofensiva militar na Faixa de Gaza, salientando que a África do Sul "não ignorou este acontecimento, como Israel alegou em tribunal, mas condenou inequivocamente e continua a condenar" o ataque, sem se referir às vítimas dos atentados do grupo islâmico palestiniano em território israelita.
Todavia, o ministro da Justiça da África do Sul frisou que ao abrigo da Convenção sobre o Genocídio "nada justifica os atos genocidas atualmente cometidos por Israel", afirmando que "a autodefesa não é uma reposta ao genocídio".
"Não importa o que alguns indivíduos palestinos em Gaza tenham feito, nem quão grande seja a ameaça aos cidadãos israelitas. Os ataques genocidas a toda a população de Gaza, com a intenção de destruí-la, não podem ser justificados", afirmou o ministro Ronald Lamola à imprensa, em Haia.
Israel acusou hoje a África do Sul de apresentar ao TIJ um "quadro factual e jurídico profundamente distorcido" da realidade da sua guerra na Faixa de Gaza, que definiu como uma resposta "ao maior assassinato em massa calculado de judeus num dia desde o Holocausto", em referência ao ataque do grupo islâmico Hamas, considerado organização terrorista por vários países, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia.
O executivo sul-africano tem sido historicamente um forte apoiante da causa palestiniana e o Congresso Nacional Africano tem frequentemente associado a causa à sua própria luta contra o regime segregacionista do 'apartheid' (1948-1994) na África do Sul.
A ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza seguiu-se aos atentados sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas em território israelita, em 07 de outubro, nos quais, segundo as autoridades, cerca de 1.200 pessoas foram mortas e mais de 200 raptadas.
Segundo o Hamas, os ataques israelitas em Gaza já causaram mais de 23 mil mortos, a maioria civis, e 60.000 feridos.
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