A antiga chefe dos correios Paula Vennells anunciou, esta terça-feira, que renunciou à sua distinção da Ordem do Império Britânico (CBE), entregue em 2019.
A renúncia acontece no âmbito do Escândalo Horizon, que veio à tona novamente na sequência de uma minissérie transmitida na televisão britânica, ‘Mr Bates vs The Post Office’, e que conta a história da campanha em busca de justiça levada a cabo por alguns dos prejudicados.
Em causa estiveram mais de 700 gerentes de balcão que foram acusados de fraude, roubo ou falsificação da contabilidade pelos correios britânicos Post Office entre 1999 e 2015 quando, na realidade, se tratava de uma falha informática.
Centenas de pessoas foram presas, ficaram desempregadas e endividadas e várias suicidaram-se na sequência dos processos criminais ou civis lançados pelo Post Office, que tem o poder de investigar internamente e processar funcionários sem recorrer à polícia ou ao Ministério Público.
Em comunicado, Vennells, que se juntou ao Post Office em 2007, referiu que tem mantido o seu silêncio porque devido ao inquérito que ainda está a acontecer. “Estou, no entanto, ao corrente dos apelos dos sub-chefes dos correios e de outros para que devolva o meu CBE”, lê-se na nota, citada pela Sky News.
“Confirmo que vou devolver o CBE com efeitos imediatos”, explicou, sublinhando que “lamentava a devastação causada” a todos aqueles que foram lesados, assim como às suas famílias.
John Glen, secretário-geral do Tesouro, confirmou a renúncia desta distinção, que assim “mantém a integridade e honra do sistema”, referiu, citado pela imprensa britânica.
O Escândalo Horizon
A série de quatro episódios "Alan Bates vs the Post Office" retrata a batalha liderada ao longo de duas décadas por um dos antigos gestores dos correios para expor a verdade e ilibar os trabalhadores dos correios injustiçados.
A Polícia Metropolitana de Londres revelou na sexta-feira estar a investigar se a empresa cometeu fraude ao ficar com o dinheiro obtido na sequência destas acusações e condenações injustas.
A força policial já estava a investigar responsáveis da Fujitsu por falso testemunho e obstrução à justiça, mas não fez qualquer detenção em quatro anos.
Em dezembro de 2019, um juiz do Supremo Tribunal considerou que o sistema informático continha uma série de "falhas, erros e defeitos" e que havia um "risco significativo" de causar défices nas contas das agências postais.
Desde então, foram anuladas 93 condenações, mas só 30 destas pessoas receberam indemnizações integrais e definitivas e ninguém do Post Office ou de outras empresas envolvidas foi preso ou acusado criminalmente.
Três regimes diferentes de compensação financeira foram criados ao longo dos anos, resultante no pagamento de mais de 150 milhões de libras (174 milhões de euros).
Um inquérito público lançado em 2020 está previsto ser concluído este ano e deverá revelar pormenores sobre aquele que é considerado um dos maiores erros judiciários no Reino Unido.
Mais de um milhão de pessoas assinaram uma petição pela retirada de uma condecoração atribuída à antiga chefe dos Correios Paula Vennells em 2019.
O Post Office é a empresa pública que gere as estações de correio desde que se separou em 2012 do Royal Mail, empresa responsável pelo serviço postal que foi privatizada em 2013.
Leia Também: Sunak pressionado a perdoar funcionários dos correios após programa de TV