"Em troca de um acesso marítimo de 20 quilómetros para as forças navais etíopes por um período de 50 anos, a Etiópia reconhecerá formalmente a República da Somalilândia", disse Muse Bihi Abdi.
Num comunicado, Abdi afirmou ainda que o acordo com a Etiópia constitui "um marco diplomático importante" para a Somalilândia e sublinha "o espírito de cooperação e a parceria estratégica estabelecida".
O Governo da Somália já reagiu, chamando hoje o embaixador na Etiópia para consultas após o acordo entre o Governo etíope e as autoridades da Somalilândia, situado no norte do território somali.
O primeiro-ministro da Somália, Hamza Abdi Barre, disse que o seu Governo rejeita o "acordo ilegal" anunciado na segunda-feira e sublinhou que se trata de uma violação da integridade territorial do país.
O governante sublinhou que "ninguém pode entrincheirar-se em terra e no mar da Somália", ao mesmo tempo que referiu que as autoridades estão "totalmente empenhadas" em defender a soberania, citou a emissora pública somali SNTV.
A Somália garantiu que defenderá o território por "todos os meios legais" e descreveu o acordo de uma "violação flagrante" da soberania.
As autoridades da Etiópia e da Somalilândia assinaram um memorando de entendimento na segunda-feira para dar à Etiópia, o segundo país mais populoso de África, com cerca de 120 milhões de habitantes, acesso ao Mar Vermelho.
A Etiópia tinha acesso ao Mar Vermelho quando formou uma federação com a Eritreia, uma antiga colónia italiana, na década de 1950 e anexou este país em 1962.
No entanto, perdeu o acesso ao mar em 1993, quando a Eritreia se tornou independente após uma guerra de três décadas entre os dois países.
Atualmente, a Etiópia depende do porto de Djibuti para as exportações e importações.
A Somalilândia, um protetorado britânico até 1960, não é reconhecida internacionalmente, embora tenha a sua própria Constituição, moeda e Governo e, até agora, registe um desenvolvimento económico e estabilidade política superiores aos da Somália.
A região declarou em 1991 a separação da Somália, antiga colónia italiana, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado.
Em 28 de dezembro, os presidentes da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, e da Somalilândia chegaram a acordo, no vizinho Djibuti, sobre a realização de conversações para "encontrar um terreno comum", após várias tentativas de diálogo infrutíferas.
A Somalilândia está agora numa crise política, depois de Abdi ter decidido prolongar o mandato - que deveria ter terminado em novembro -, por um período de dois anos e cancelado a realização de eleições regionais, previstas para novembro de 2024.
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