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Posse de Milei terá apelo popular para atenuar minoria parlamentar

A posse do Presidente argentino, Javier Milei, terá este domingo demonstrações de força popular e de vínculos internacionais como sinais de capital político para amenizar a resistência do Congresso em aprovar leis, dada a minoria parlamentar do novo Governo.

Posse de Milei terá apelo popular para atenuar minoria parlamentar
Notícias ao Minuto

10:34 - 09/12/23 por Lusa

Mundo Argentina

"Neste domingo, Javier Milei não vai falar perante os legisladores, mas perante o povo. Essa mudança de enfoque é estratégica. Ele sabe que a sua legitimidade está no voto popular que o elegeu para aprovar reformas e não na política. Esse é o seu verdadeiro capital político para conseguir as leis de que precisa, mesmo em minoria parlamentar. E sabe que esse capital vai diminuir se não conseguir estabilizar a economia", indicou à Lusa a cientista política e especialista em opinião pública Camila Rodríguez Nardi, da Poliarquia Consultores, uma referência no país.

Javier Milei vai assumir neste domingo e, logo no dia seguinte, vai enviar ao Parlamento um amplo pacote de leis para uma reforma do Estado, para uma reforma da Economia e para uma reforma política.

As medidas terão como foco reduzir o tamanho do Estado para atingir o equilíbrio fiscal, como arma para superar a emergência de uma economia com 143% de inflação nos últimos 12 meses, mas com uma velocidade atual de 300% ao ano.

A Argentina completa no domingo 40 anos desde a recuperação da democracia em 1983, data em que o então Presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) tomou posse. Foi o primeiro país da região a livrar-se da ditadura militar e tornou-se referência para os países vizinhos.

Se em 1976, quando começou a ditadura, a pobreza no país era de 05%, ao terminar a ditadura, sete anos depois, era de 22%. Hoje, após 40 anos, a pobreza duplicou e atinge 44,7% da população em geral e 62,9% dos menores em particular.

O novo Presidente argentino vai quebrar a tradição de dirigir o seu discurso de posse à Assembleia Legislativa. Depois de receber o poder, sairá do Congresso e, na escadaria da entrada, fará um discurso com o roteiro do seu Governo de frente para o povo, tendo o Parlamento ao fundo. O modelo está inspirado no discurso de posse dos presidentes norte-americanos à frente do Capitólio.

A simbologia dessa decisão é dar as costas ao Congresso, onde Milei tem uma absoluta minoria, e mostrar aos legisladores que tem o mandato popular para fazer as reformas. O novo Presidente convocou a população para lotar a praça do Congresso com bandeiras argentinas.

Milei foi eleito com 55,7% dos votos, mas tem apenas 37 dos 257 deputados e sete dos 72 senadores. Muitos votos e pouca representatividade, uma consequência de chegar ao poder vindo de fora do sistema político, podem ser uma vantagem para não ceder a interesses corporativos, mas uma desvantagem para a governabilidade.

"O lema de Milei durante a campanha foi atacar a 'casta política', como chama aos políticos que alega viverem de privilégios. Ao preferir um discurso para os que estão de fora e não aos legisladores, Milei traça uma aliança com os seus eleitores, onde está o seu verdadeiro capital político, e coloca o Parlamento sob a pressão popular de aprovar as primeiras leis", disse à Lusa o cientista político Patricio Giusto, diretor da consultora Diagnóstico Político.

Depois do discurso, seguirá em carro aberto até a Casa Rosada, em frente à Praça de Maio, onde receberá os cumprimentos dos convidados internacionais e dará posse aos ministros, depois de participar de uma cerimónia interreligiosa na Catedral de Buenos Aires, em frente à mesma praça.

A dimensão internacional é outra demonstração de força. A grande maioria dos líderes internacionais presentes em Buenos Aires é da direita, como os Presidentes latino-americanos do Paraguai, Uruguai e Equador. O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, aliado de Milei, não deverá vir porque pediu licença do cargo.

Da Europa, virão garantidamente os presidentes da Hungria e da Arménia.

Outros líderes da direita serão o ex-Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e Santiago Abascal, do partido de extrema-direita espanhol VOX.

O ex-presidente Donald Trump, também aliado de Milei, disse que viria em outra ocasião, assim como o empresário Elon Musk.

Os únicos presidentes de esquerda serão o boliviano Luis Arce e o chileno Gabriel Boric. Brasil, Estados Unidos, Israel, Colômbia, Peru e o Vaticano enviaram representantes de alto nível.

A presença mais chamativa, no entanto, será a do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Será a primeira vez que o chefe de Estado vem à América Latina. Javier Milei comprometeu-se com Zelensky a organizar uma cimeira em Buenos Aires com países da região que apoiem Kiev na resistência contra a invasão russa.

Não foram convidados os líderes de regimes autoritários como Venezuela, Cuba, Nicarágua e Irão. A Nicarágua, aliás, retirou o seu embaixador da Argentina.

"A nossa política externa será de alinhamento com os Estados Unidos, com Israel, com a Europa e com os países latino-americanos democráticos. A Argentina não terá mais sócios políticos com ditaduras nem com autocracias. As nossas alianças serão com democracias liberais", apontou à Lusa a designada ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino.

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