Uma investigação a agência de notícias francesa France-Presse (AFP) e de uma organização não-governamental concluiu na quarta-feira que o fogo de artilharia que atingiu um grupo de jornalistas no sul do Líbano, a 13 de outubro, foi "deliberado e direcionado" contra a imprensa a cobrir a situação.
O ataque matou um jornalista da Reuters, Issam Abdallah, de 37 anos, que morreu "instantaneamente", segundo aponta o estudo da AFP e da organização Airwars, que investiga ataques contra civis em conflitos e guerras. Ficaram também feridos no incidente dois jornalistas da Reuters, dois da Al Jazeera e dois da AFP.
Uma das jornalistas da AFP, a fotojornalista Christina Assi, de 28 anos, teve de ter uma perna amputada e continua hospitalizada.
O grupo de jornalistas estava devidamente identificado, tanto eles próprios como o seu equipamento e as viaturas em que seguiam. A AFP explica que, portanto, os mísseis israelitas foram "deliberados e direcionados", tendo atingido o grupo no espaço de 37 segundos e a poucos metros de distância entre cada míssil.
An AFP investigation into the strike in southern Lebanon that killed a Reuters journalist and injured six others, including two from AFP, points to a tank round used only by the Israeli army in this border region
— AFP News Agency (@AFP) December 7, 2023
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"Os jornalistas estavam claramente identificados como imprensa, longe de qualquer atividade militar. O exército israelita tem muitos recursos de vigilância aérea na área. Os ataques partiram provavelmente a sudeste da posição dos jornalistas, aparentemente parto da aldeia israelita de Jordeikh onde tanques israelitas estão mobilizados", acrescentou a agência.
Já o armamento que atingiu Issam Abdallah era um munição de tanque de 120 milímetros, de "origem israelita" e "não é usada por outros grupos na região".
A investigação da AFP e da Airwars soma-se a estudos semelhantes da Amnistia Internacional e da Human Rights Watch (HRW), e a análises de centenas de vídeos e fotografias da região, das munições e dos jornalistas atingidos. A HRW também afirmou que os ataques podem ser considerados como um crime de guerra e as autoridades libanesas acusaram os israelitas de "matar deliberadamente" jornalistas.
Tudo aponta para um ataque intencional pelas forças de Israel, que continua a negar que matou intencionalmente o jornalista da Reuters e atingiu os restantes repórteres, prometendo até investigar o incidente. Mas a verdade é que têm sido recorrentes os ataques contra jornalistas de vários órgãos, tanto na Faixa de Gaza como em outros territórios palestinianos ocupados, com dezenas de jornalistas mortos em bombardeamentos que atingiram diretamente as suas casas, destruindo-as e matando toda a sua família.
Também na Cisjordânia são frequentes rusgas policiais à casa de jornalistas palestinianos que estão a cobrir a ocupação israelita na região.
Segundo o Comité para a Proteção de Jornalistas (CPJ), foram mortos pelo menos 63 jornalistas na Faixa de Gaza, incluindo 56 palestinianos, três libaneses e quatro israelitas, e pelo menos 19 jornalistas foram presos pelas forças israelitas.
O caso mais mediático de um ataque israelita contra jornalistas ocorreu em maio de 2022, quando a jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh foi morta por um atirador-furtivo israelita. Shireen tornou-se num símbolo da resistência palestiniana e da imprensa livre na região, especialmente depois do seu funeral ter sido também alvo de forte repressão policial. Israel negou sucessivamente que as suas forças estiveram envolvidas na morte da repórter da Al Jazeera, argumentando que esta foi morta por fogo palestiniano; meses mais tarde, as autoridades admitiram que um soldado israelita tinha matado Shireen, mas recusaram sancioná-lo.
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