Os norte-coreanos foram no domingo às urnas, numas eleições completamente controladas pela ditadura de Kim Jong-un, e surpreenderam o regime de Pyongyang ao não dar uma vitória absoluta aos candidatos selecionados pelo governo, marcando uma rara ocasião de dissidência no país mais excluído e controlado do mundo.
Os resultados divulgados pela agência de notícias estatal, a KCNA, dão conta que os candidatos do governo para as assembleias regionais populares obtiveram 99,91% dos votos, enquanto que os candidatos a assembleias municipais populares atingiram os 99,87%.
Os números podem ser na mesma impressionantes, mas a existência de 0,09% e 0,13% de eleitores, nas respetivas eleições, a não votar nos escolhidos pelo Partido Comunista da Coreia do Norte, que governa o partido único, é considerado por especialistas na região como uma rara demonstração de descontentamento com Kim Jong-un e a ditadura.
Na terça-feira, o regime surpreendeu ainda mais ao comentar o resultado, com Kim Jong-un a garantir, citado pelos órgãos estatais, que a votação demonstra uma sociedade democrática, afastando uma reforma rumo a uma maior liberdade numa das sociedades mais repressivas do mundo.
So North Korea had provincial and local elections and the Kim dynasty got its worst election result since 1950s (under 100.0%) pic.twitter.com/Vn2WceNZRh
— Antonio (@Antonio12I) November 28, 2023
O The Independent refere, contudo, que esta é a primeira vez desde os anos 60 em que são registados votos contra os candidatos do regime.
A Coreia do Norte realiza eleições locais de quatro em quatro anos desde 1999 e o número de deputados é determinado pela população de cada área, embora o processo seja uma mera formalidade, uma vez que os candidatos são previamente selecionados pelo Partido dos Trabalhadores.
Até agora, apenas tinha sido apresentado um candidato por distrito, mas, numa aparente tentativa de introduzir alguma competição, este ano alguns distritos tiveram dois candidatos, graças a uma recente revisão da lei eleitoral norte-coreana.
O Ministério da Unificação da Coreia do Sul, responsável pelas relações com Pyongyang, disse que a mudança não representa a introdução de eleições livres, mas antes uma tentativa de gerir a opinião pública face às dificuldades económicas que o Norte atravessa.
As eleições locais acontecem menos de uma semana depois da Coreia do Norte ter colocado em órbita um satélite espião.
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