Quando a família de Dorca Cherop soube que a menina tinha um cancro na bexiga, já sabia que a batalha contra a doença iria ser penosa, por vários motivos.
O desafio consistia não só em obter ajuda médica, que até é gratuita no Instituto do Cancro de Uganda (UCI), mas essencialmente pelos elevados custos associados às sucessivas viagens entre a sua terra natal e o hospital, bem como em encontrar um local para dormir.
"A minha mãe e o meu pai são agricultores, não tinham dinheiro suficiente para as viagens entre Kapchorwa e o Uganda", afirma a jovem à BBC, dando o rosto por dezenas de crianças que no seu país terão desistido dos tratamentos por não conseguirem suportar os custos associados.
A própria família de Dorca esteve prestes a desistir, e apenas o sofrimento da filha os fez continuar a sonhar com a cura da filha, diagnostica em 2020, aos 11 anos.
"Ficámos sem dinheiro. Mas o pior era vê-la em sofrimento durante a viagem de sete horas para Kamapala e de volta a casa", recordam os pais.
A sua situação não é invulgar no país. Estima-se que, em 2021, uma em cada três crianças diagnosticadas com cancro abandonaram o tratamento devidos aos custos. Segundo a médica Joyce Balagadde-Kambugu, responsável pelo pediatria oncológica do UCI, grande parte das crianças doentes vivem em zonas rurais sendo que 85% das que são assistidas no hospital são de famílias que vivem com três dólares por mês (2,85€).
Assim, não é de admirar que uma simples fundação tenha feito toda a diferença na vida de Dorca.
A sua família recebeu há três anos uma chamada da Bless a Child Foundation [Fundação Abençoa a uma Criança], que oferece alojamento gratuito para pessoas com cancro, que estejam ser assistidas no UCI.
A Fundação abriu portas em 2010, oferecendo alojamento a 10 crianças, mas desde então já alargou a sua oferta para quatro residências, cada uma delas com capacidade para albergar 100 crianças e um acompanhante por cada uma delas.
As residências oferecem refeições, apoio psicológico, acompanhamento educativo e transporte para o hospital. Ao longo dos últimos 13 anos, mais de 6 mil crianças foram apoiadas.
Para Dorca, que está determinada em vencer a doença, esta oferta fez certamente uma enorme diferença.
"Estou muito feliz e já não tenho dores como no passado. Estou grata à fundação por me ter dado um novo sopro de vida", afirma.
A adolescente está agora de volta a casa e voltará a Kampala em dezembro para ver se está em remissão.
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