"Cinquenta carrinhas carregadas de armas" das Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês), em guerra com o exército desde 15 de abril, atacaram no sábado a cidade situada na fronteira entre os estados do Cordofão do Norte e do Nilo Branco, provocando a fuga de "milhares de pessoas", segundo as testemunhas.
"Vivemos horas de terror", disse Al-Tayeb Abdelbaqi, em Odaydab, uma aldeia próxima onde se refugiou.
"O meu primo e o meu vizinho foram mortos por balas perdidas", acrescentou o pai de família, que disse ter perdido a sua quinta e o seu gado, bem como o seu "equipamento para ir buscar água potável", um bem raro em tempos normais no Sudão e agora praticamente impossível de encontrar em muitos estados.
No domingo, a RSF declarou no X (antigo Twitter) que tinha "capturado a guarnição de Wad Achana às milícias ligadas ao exército, o último posto (do exército) antes do Nilo Branco", e ameaçava agora Kosti, a capital deste estado.
O Cordofão do Norte, situado entre o Darfur, reduto das RSF a oeste, e Cartum, que estas controlam quase totalmente, é uma encruzilhada estratégica para os abastecimentos paramilitares.
"A situação estava calma em Wad Achana até que um batalhão do exército se instalou a oeste da cidade, na semana passada", explicou Abdelbaqi. "Três dias depois, a RSF invadiu a cidade e tomou tudo, fazendo com que o exército fugisse" para 35 quilómetros a leste, continuou.
"O mercado foi completamente saqueado e nós fugimos sem levar nada connosco", disse Ahmed, um comerciante que teve de abandonar a sua banca, não querendo revelar o seu apelido.
A guerra entre o exército, liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhane, e as RSF, lideradas pelo general Mohamed Hamdane Daglo, causou cerca de 7.500 mortos, um número muito subestimado devido às dificuldades de acesso à zona.
Deixou também mais de cinco milhões de pessoas deslocadas e refugiadas e agravou a crise humanitária e sanitária no país, um dos mais pobres do mundo, atualmente assolado pela dengue e pela cólera.
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