Dirigente de sérvios do Kosovo diz ter feito comando armado à revelia
Um responsável político dos sérvios do Kosovo, Milan Radojicic, acusado por Pristina de chefiar o comando que efetuou uma ação militar no passado fim de semana no norte do território, afirmou hoje que organizou o grupo à revelia de Belgrado.
© Getty
Mundo Milan Radojicic
Milan Radojicic, que se encontra na Sérvia, explicou numa carta aberta lida em conferência de imprensa em Belgrado pelo seu advogado Goran Petronijevic, que agiu em resposta ao "terror" do Governo do Kosovo contra a comunidade sérvia local.
O objetivo da ação, explicou, foi "criar as condições para realizar o sonho de liberdade do [seu] povo no norte do Kosovo".
A Sérvia recusa reconhecer a independência a sua antiga província do sul, autoproclamada em 2008 pelos independentistas albaneses locais e que constituem a maioria da população.
A morte de um polícia kosovar albanês, morto domingo numa emboscada no norte do Kosovo, onde os sérvios são maioritários, e o intenso tiroteio que se seguiu que opôs forças especiais da polícia kosovar ao comando sérvio fortemente armado, constituiu uma das mais graves escaladas registadas nos últimos anos.
Três membros do comando, que se refugiaram num mosteiro ortodoxo da localidade de Banjska, não longa da fronteira com a Sérvia, foram mortos.
"Fui eu quem realizou todos os preparativos logísticos", assegurou Radojicic na carta, ao afirmar que atuou sem o conhecimento das autoridades de Belgrado, que Pristina acusa de envolvimento nesta ação.
"Não informei ninguém nas instituições de poder da República da Sérvia (...) e não obtive qualquer ajuda da sua parte", escreveu Radojicic.
Segundo indicou, a morte do polícia foi "acidental" e "seguia por um enfrentamento feroz no qual três camaradas, os heróis, deram a sua vida pela liberdade".
No início da semana, o ministro do Interior do Kosovo, Xhelal Sveçla, acusou Radojicic de ser o chefe do comando. Na ocasião difundiu um vídeo filmado por um drone da polícia kosovar no decurso dos confrontos, onde surgia Milan Radojicic entre um grupo de paramilitares.
Esta semana o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, declarou que Radojicic se encontrava na "Sérvia central" e que seria interrogado pelas autoridades sérvias.
Radojicic, que anunciou na sua carta a demissão do cargo de vice-presidente da Lista Sérvia, o principal partido político dos sérvios do Kosovo, é visado desde 2021 por sanções norte-americanas.
Na manhã de hoje a polícia kosovar efetuou rusgas em diversas localidades do norte do Kosovo, incluindo na cidade de Mitrovica, designadamente em locais que pertenciam a Radojicic e ainda num hospital.
Em paralelo, o primeiro-ministro do Kosovo saudou a decisão da NATO em reforçar as suas forças nesta volátil região dos Balcãs, ao considerar que os incidentes do passado fim de semana ilustram as tentativas da Sérvia em desestabilizar a sua antiga província com a ajuda da Rússia.
"Essas pessoas querem regressar ao passado", disse o primeiro-ministro Albin Kurti em declarações à agência noticiosa Associated Press. "Estão em busca da máquina do tempo. Querem que o relógio recue 30 anos. Mas isso não vai acontecer".
A Kfor, a força multinacional da NATO no Kosovo e presente no território desde 1999, possui atualmente cerca de 4.500 efetivos.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo -- a sua antiga província do sul e considerada o berço da sua nacionalidade e religião -- proclamada em fevereiro de 2008 na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria (perto de 90%) de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência do Kosovo.
Os dois países negoceiam a normalização das relações assente num novo plano da UE, apoiado pelos Estados Unidos, com um roteiro acordado por Belgrado e Pristina em março passado, mas que poderá estar comprometido devido à persistência das tensões.
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