"O próximo ano vai ser incrivelmente difícil por causa das eleições", afirmou a também líder do partido ucraniano Golos (oposição), realçando que "os políticos têm tendência para se polarizarem e arriscam dizer que deviam usar dinheiro para outras coisas".
Kira Rudik falava durante o debate "Património estatal russo: Próximos passos na campanha pela justiça contra a agressão", organizado pelo centro de reflexão The Henry Jackson Society, ao qual a agência Lusa teve acesso.
Na sua intervenção, a política liberal alertou para o risco do populismo e referiu como "já está a ser difícil com as eleições na Polónia", agendadas para 15 de outubro.
Recentemente, o primeiro-ministro ucraniano, Denys Chmygal, apontou críticas à Polónia, acusando as autoridades do país vizinho de "populismo político antes das (...) eleições legislativas", devido à proibição das importações de cereais ucranianos.
O homólogo polaco, Mateusz Morawiecki, respondeu, anunciando que o país deixaria de fornecer novas armas à Ucrânia, limitando-se a fazer as entregas acordadas previamente e passando a concentrar-se na modernização das suas próprias forças armadas.
Kira Rudik apontou que o apoio à Ucrânia pode vir a ser questionado durante as campanhas para as eleições para o Parlamento Europeu em junho de 2024, para as presidenciais norte-americanas (previstas para novembro de 2024) e para as legislativas no Reino Unido, em data ainda por determinar.
"Para aqueles que dizem que estão a gastar demasiado dinheiro dos contribuintes, concordo absolutamente", vincou a deputada ucraniana, defendendo, por isso, a urgência no confisco dos ativos financeiros russos congelados pelos países ocidentais para pagarem a reconstrução da Ucrânia.
Também presente no debate, o investidor financeiro Bill Browder concordou com as declarações da política ucraniana e argumentou que o processo de apreensão deve acontecer antes das eleições presidenciais norte-americanas devido ao risco do ex-Presidente e candidato à nomeação republicana Donald Trump ganhar o escrutínio.
Browder, que lidera uma campanha global para denunciar a corrupção e os abusos dos direitos humanos na Rússia, recordou que o candidato republicano manifestou-se contra o fornecimento de armas à Ucrânia como tem feito a atual administração norte-americana liderada pelo Presidente democrata Joe Biden.
"O problema pode ser resolvido com estes 350 mil milhões [de dólares] se forem confiscados antes de novembro de 2024. Parece-me o mais óbvio do ponto de vista jurídico, militar, político e moral", vincou o promotor das chamadas Sanções Magnitsky.
Estima-se que estejam atualmente congelados 350 mil milhões de dólares (cerca de 332 mil milhões de euros) pertencentes ao banco central russo, dos quais 28 mil milhões de dólares (27 mil milhões de euros) no Reino Unido, e 150 mil milhões de dólares (142 mil milhões de euros) pertencentes a empresas privadas e a pessoas individuais, nomeadamente oligarcas russos sob sanções.
A ideia de utilizar os ativos russos congelados no Ocidente desde o início da invasão russa para a reconstrução a Ucrânia, cujos custos estão avaliados em milhares de milhões de euros, divide a liderança ucraniana e os aliados.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, anunciou no início do mês que, para além de um novo pacote militar de mais de mil milhões de dólares (932 milhões de euros), Washington ia transferir pela primeira vez ativos de oligarcas russos sancionados, uma decisão criticada por Moscovo.
Blinken explicou que a intenção dos Estados Unidos é que os fundos sejam utilizados para apoiar a integração e a reabilitação dos veteranos de guerra ucranianos.
Mas diversos países ocidentais continuam a evocar dificuldades jurídicas para proceder a estas transferências passado cerca de um ano e meio desde o início da ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada em 24 de fevereiro de 2022.
Os aliados ocidentais da Ucrânia têm fornecido armas a Kiev e aprovado sucessivos pacotes de sanções contra interesses russos para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra.
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