Líder da junta militar diz que guerra pode alastrar-se além fronteiras
O líder da junta militar no poder no Sudão afirmou na Assembleia Geral da ONU que a guerra no seu país pode alastrar-se para além das fronteiras sudanesas, exortando a que a força rival seja designada grupo terrorista.

© AFP via Getty Images

Mundo Sudão
"A natureza desta guerra é a da ameaça à paz e à segurança regional e internacional. Isto é como uma faísca de guerra, uma guerra que se vai propagar a outros países da região", afirmou o chefe do exército sudanês, general Abdel Fattah al-Burhan, num discurso esta quinta-feira perante os líderes mundiais presentes da reunião magna das Nações Unidas em Nova Iorque.
O Sudão mergulhou num conflito interno em 15 de abril último, quando tensões há muito latentes entre os militares, liderados por al-Burhan, e as Forças de Apoio Rápido (FAR, paramilitares) rivais, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo evoluíram para o combate aberto nas ruas de Cartum, a capital sudanesa, alastrando-se entretanto a todo o país.
O conflito já matou pelo menos 5.000 pessoas e feriu outras 12.000, de acordo com Volker Perthes, o enviado da ONU no país, que anunciou a sua demissão na semana passada.
Al-Burhan afirmou na Assembleia Geral que os militares sudaneses "bateram a todas as portas para acabar com a guerra" e pediu às Nações Unidasa para designarem as FAR como grupo terrorista.
As FAR, acusou, cometeram "todo o tipo de crimes que justificam essa designação", incluindo a ajuda de "foras-da-lei e de grupos terroristas" de outros países.
"Aqueles que apoiaram assassinatos, incêndios, violações, deslocações forçadas, pilhagens, roubos, torturas, tráfico de armas e de drogas, trazendo mercenários ou recrutando crianças - todos estes crimes exigem responsabilização e punição", afirmou al-Burhan.
Tanto as forças armadas sudanesas como as FAR foram acusadas pela Amnistia Internacional de crimes de guerra em larga escala, incluindo assassinatos deliberados de civis e violações e outras agressões sexuais.
De acordo com dados da ONU, pelo menos 4,6 milhões de pessoas foram deslocadas pelos combates. As crianças estão entre as mais afectadas, e, pelo menos, 1.200 morreram já nos campos de deslocação devido a uma combinação de sarampo e desnutrição.
O conflito tem de ser resolvido para que o Sudão possa fazer a transição para a democracia através de eleições pacíficas, afirmou Burhan
"Continuamos empenhados em cumprir as nossas promessas anteriores de transferência do poedr para o povo do Sudão, com grande consenso e consentimento nacional, para que as forças armadas abandonem a política de uma vez por todas", afirmou.
Al-Burhan é o líder, de facto, do Sudão desde o afastamento pelos militares do antigo ditador, Omar al-Bashir, em abril de 2019, e, não obstante vários acordos assinados, tem adiado sucessivamente a realização de eleições e a devolução do poder aos civis.
O Sudão mergulhou no caos há cinco meses, quando se transformaram em guerra aberta as tensões há muito latentes entre os militares, liderados pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e as FAR, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo, ex-número 2 no Conselho Soberano - a junta militar que tomou o poder no país no golpe que depôs o antigo ditador Omal al-Bashir em abril de 2019.
Os combates reduziram a capital do Sudão, Cartum, a um campo de batalha urbano, sem que nenhuma das partes tenha conseguido obter o controlo da cidade.
Na região ocidental do Darfur - palco de uma campanha genocida no início da década de 2000 - o conflito transformou-se em violência étnica, com as FAR e milícias árabes aliadas a atacarem grupos étnicos africanos, segundo grupos de defesa dos direitos humanos e as Nações Unidas.
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