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A guerra, a morte de Prigozhin e a vinda a Portugal. O que disse Zelensky

Chefe de Estado da Ucrânia deu entrevista à RTP e agradeceu "atitude dos portugueses para com os ucranianos". Eis um resumo das palavras de Zelensky.

A guerra, a morte de Prigozhin e a vinda a Portugal. O que disse Zelensky
Notícias ao Minuto

23:59 - 29/08/23 por Notícias ao Minuto

Mundo Volodymyr Zelensky

O presidente ucraniano é o principal rosto do conflito no leste da Europa e deu uma entrevista à RTP na qual abordou vários temas. Volodymyr Zelensky falou sobre a guerra, o envio de caças F-16 para a Ucrânia, a motivação dos seus soldados e a morte de Prigozhin, mas lembrou também a visita de Marcelo Rebelo de Sousa e destacou o apoio dado por Portugal, país que promete visitar. Fazemos agora um resumo dos pontos mais importantes desta entrevista.

"Hoje temos o acordo relativamente à futura entrega de 50, 60 caças"

Zelensky começou por ser questionado sobre o envio de caças F-16 para a Ucrânia e, apesar de o processo para a entrega das aeronaves estar já em curso, confessou: "Um pouco mais tarde do que eu queria".

Notando que esta é uma questão "complicada" e que os caças são importantes para proteger o povo e os corredores de cereais, o presidente ucraniano adiantou "Hoje temos o acordo relativamente à futura entrega de 50, 60 caças".

"Nos momentos diferentes, teremos uma quantidade diferente de caças. Não virão todos ao mesmo tempo", frisou, referindo que, "na totalidade", a Ucrânia necessita de "cerca de 160 caças para ter uma força aérea poderosa que não dê a possibilidade à Rússia de dominar o espaço".

O presidente da Ucrânia ressalvou que o país precisa "desta força não para a contraonfesiva", mas sim para a sua defesa. "Precisamos de caças meramente para nos defender", disse.

Os primeiros F-16 deverão estar a combater na Ucrânia "no início do próximo ano".

"Cada arma tem impacto na motivação da Rússia. Aviões também terão"

Zelensky admite que o envio de caças F-16 para a Ucrânia "terão impacto" na Rússia, nomeadamente na sua "motivação", reconhecendo ainda que, hoje, Moscovo tem "domínio absoluto no céu".

"Cada arma tem um impacto poderoso na motivação da Rússia diminuindo-a ainda mais. Isso é muito importante", disse.

"E, por isso, os aviões também terão impacto. Hoje o domínio da Rússia no céu é absoluto, reconhecemos isso, sabemos que a Rússia tem mais armas deste tipo, tem muito mais aviões, mais drones, mais equipamentos de defesa antiaérea", explicou.

"Nós já temos os equipamentos de defesa área de padrão ocidental, mas a Rússia tem muito mais equipamentos, ainda soviéticos, mas em muito grande quantidade", reconheceu.

"A motivação das forças ucranianas é maior do que a das forças russas"

Ao ser interrogado sobre a situação na linha da frente e sobre o estado de espírito daqueles que continuam a combater pela Ucrânia, o chefe de Estado ucraniano começou por agradecer a todos aqueles que continuam a defender o país.

"Estou grato porque eles não perderam a motivação", disse, notando que muitas pessoas morreram, muitas ficaram feridas e muitos "perderam" irmãos, amigos, pais, filhos.

"Em qualquer caso, a morte de uma pessoa desmotiva. E estou grato aos soldados por não ter acontecido isso", frisou.

"A motivação das forças ucranianas é maior do que a das forças russas", defendeu ainda.

Russos "desmotivados" para combater. "É a sobrevivência que os motiva"

Por sua vez, Zelensky considera que os soldados russos no campo de batalha estão "desmotivados".

"A Rússia aumenta diariamente a sua presença [na Ucrânia], mas nós sabemos que as pessoas que foram mobilizadas estão desmotivadas, não sabem por que razão combatem na Ucrânia", disse o presidente ucraniano.

Notando que muitos militares especializados e do grupo Wagner foram "eliminados" pelas forças ucranianas, Zelensky destacou que, apesar de tudo, lhes restam poucas opções a não ser "avançar".

"Hoje, as pessoas estão desmotivadas. Mas, impendentemente disso, estas pessoas têm medo de não avançar porque quando voltam são presas ou mortas. Por isso, é a sobrevivência que os motiva. Ou seja, estão desmotivadas em geral para combater, mas estão motivadas para ficar no terreno porque têm medo de ser mortas", sublinhou.

Segundo Zelensky, são as forças da Ucrânia que continuam a avançar no terreno. "Aos poucos, mas a avançar. Porque estamos na nossa terra".

"Estou muito grato pela atitude dos portugueses para com os ucranianos"

Quanto à recente visita de Marcelo Rebelo de Sousa à Ucrânia, Zelensky deixou rasgados elogios ao homólogo português e destacou também todo o apoio que tem sido dado por Portugal ao povo ucraniano, nomeadamente apoio humanitário.

"O Presidente é uma pessoa sábia, tem experiência política, tem muitas relações importantes, nem preciso dizer que é muito simpático, com imenso carisma. Para além disso, é o presidente de um país poderoso, esta é a primeira visita do Presidente de Portugal à Ucrânia, nos últimos 20 anos, é uma visita importante para a Ucrânia, para as nossas comunidades", começou por dizer.

"Estamos gratos por este apoio, este apoio é diferente. Não falo só do apoio militar. A vida é composta por partes e etapas diferentes de sobrevivência. O aspeto humanitário é importante, o facto de Portugal acolher mais de 50 mil ucranianos é importante, estou muito grato à comunidade portuguesa pela atitude dos portugueses para com os ucranianos, como se fossem família e isso é muito importante para nós", afirmou.

Além disso, o presidente destacou ainda que é "importante" que os países que "apoiam um futuro civilizado", a "paz e não a guerra", estejam ao lado da Ucrânia.

"Temos aqui uma vertente militar, uma vertente humanitária, uma vertente política que tem um impacto grande sobre a vertente humanitária e militar, sobre as armas que são entregues por um outro país. Porque quando existe a vontade política, os países apoiam-nos", destacou.

"E aqui o apoio político de Portugal é muito importante. O país da língua portuguesa, o país que tem uma história de amizade, de relações amigáveis, com países próximos, porque estes países têm influência em sede do conselho e da assembleia da ONU, bem como influência noutras áreas como por exemplo na fórmula de paz", concretizou, admitindo que o país necessita do apoio de países da América Latina, como do Brasil, e de África.

Marcelo a discursar em ucraniano? "Não me surpreendeu, gostei imenso"

Ao lembrar que Marcelo discursou em ucraniano em Kyiv, Zelensky não se mostrou surpreendido e considerou que o Presidente português é "uma pessoa com muito carisma".

"Não me surpreendeu, gostei imenso", recordou.

"O Presidente [Marcelo] é uma pessoa com muito carisma e ele sente a voz do povo. Não só do seu povo, mas também do nosso", acrescentou, destacando que ambos estão, "como dizem os músicos, em uníssono". "Desta forma, conseguiremos tudo", destacou.

"No Dia da Independência da Ucrânia, o Presidente tentou falar ucraniano, não esteve mal, tinha algum sotaque, mas penso que isso é uma questão de tempo. Em qualquer caso, isso significa respeito pela Ucrânia da parte dele e nós apreciamos muito", rematou sobre este assunto.

Zelensky admite que quer "muito" visitar Portugal no futuro

Na mesma entrevista, o presidente da Ucrânia confirmou que quer "muito" visitar Portugal no futuro, um convite que lhe foi feito por Marcelo.

"Sim, tenho um convite, falei sobre isso com o Presidente [Marcelo]. Quero muito e estou certo de que chegará a altura em que vou visitar Portugal, obrigatoriamente", disse.

Negociações com Moscovo? "Não. Temos uma posição muito definida"

Questionado sobre se admite algum tipo de negociações diretas com Moscovo, o presidente da Ucrânia foi claro e reiterou aquela que tem sido a sua posição. "Não. Temos uma posição muito definida e esta posição consta na nossa fórmula de paz, que tem 10 parágrafos".

"O fim da guerra está previsto após o cumprimento de todos os parágrafos, totalmente honestos, justos, que se baseiam na resolução da ONU", disse, notando que "os assassinos devem ser punidos". 

Zelensky critica posição de Lula da Silva sobre guerra

O presidente da Ucrânia criticou ainda a posição do seu homólogo brasileiro, Lula da Silva, sobre a guerra.

"Quando falamos de uma fórmula de paz, unilateral ou multilateral, devemos ser justos. E o presidente Lula deve perceber claramente que a guerra é na Ucrânia e não é na Rússia. Nem no Brasil. Nem na África. Nem dos Estados Unidos. A guerra é concretamente na Ucrânia, as vítimas são concretamente os ucranianos. Não são os brasileiros, ou outros europeus, nem americanos", afirmou.

Quando instado a comentar declarações de Lula da Silva na semana passada na Cimeira dos BRICS, afirmando que "o Brasil não contempla fórmulas unilaterais para paz", o presidente ucraniano defendeu: "Para dizer algo, é necessário perceber quem é a vítima e quem é o agressor. Isso é muito importante. E, sendo assim, isso não é uma fórmula unilateral, é a fórmula do país que sofre com tudo isso", acrescentou.

Zelensky declarou que a Ucrânia é um país democrático e pretende envolver "o maior número de países possível" para a fórmula de paz de Kyiv. No entanto, alertou:

"Mas se essas propostas se baseiam de alguma forma em cedência de alguma parte do nosso território, então isso não é coerente, primeiro com os nossos pensamentos, e, em segundo, certamente não é compatível com a nossa integridade territorial e soberania", disse o líder ucraniano, insistindo que "as pessoas devem respeitar os territórios dos Estados independentes".

Morte de Prigozhin mostra que "Putin não é assim tão forte"

Para Zelensky, a morte de Yevgeny Prigozhin "dará certeza a muitos países" quanto à fraqueza do presidente russo, Vladimir Putin.

"Putin não é assim tão forte, porque uma pessoa forte não elimina os concorrentes desta forma. Ainda mais quando és o presidente, tens um Estado autocrático, consegues controlar tudo. Ele é um mero terrorista.  Isso fala sobre uma fraqueza do atual presidente da Rússia", disse o chefe de Estado ucraniano.

"O facto de Prigozhin ir contra ele e percorrer toda esta distância tão rapidamente, também diz muito da fraqueza de controle da parte da Rússia, o controle de segurança no território por parte do presidente da Rússia e dos serviços de segurança", acrescentou, lembrando a rebelião espoletada pelo então líder do grupo Wagner.

Além disso, a situação, segundo Zelensky, resolve "a questão das negociações com Putin", sendo "um argumento prático" que "corrobora as palavras da Ucrânia que dizem que Putin não respeita a sua palavra".

"Penso que agora o mundo civilizado percebeu que a palavra de Putin não vale de nada, porque ele, afinal, ou desmente a palavra, ou faz aquilo que fez com Prigozhin", rematou.

Corrupção equiparada a traição à pátria? "Casos podem ser prejudiciais"

Sobre os casos de corrupção que têm sido conhecidos nas forças armadas da Ucrânia e sobre o facto de querer que este crime seja equiparado à traição à pátria, Zelensky defendeu que "em tempos de guerra" estes riscos têm de ser levados de "forma muito mais séria".

"Não devemos arriscar porque as pessoas estão com dificuldades, estão a defender as suas casas, as suas crianças. O povo ajuda as forças armadas, presta assistência", destacou.

"Estes casos mesmo ínfimos de corrupção podem ser prejudiciais", disse ainda, defendendo que não se pode perder a "motivação" do povo.

"Nunca na minha vida deixarei o meu país"

Com eleições em 2024, ou não, o presidente da Ucrânia deixou uma garantia: nunca abandonará o país.

"Em 2024, se a guerra continuar, e se as eleições forem realizadas, nunca na minha vida deixarei o meu país. Porque eu sou o garante da constituição e defendo-a", afirmou.

Fim da guerra? "É difícil dizer"

Quanto ao final da guerra, Zelensky admite que "é difícil" dar uma resposta sobre esse tema, mas admite que o conflito poderá terminar este ano ou no próximo - algo que depende de "alguns componentes".

"É difícil dizer. A guerra pode terminar ainda este ano, isso depende de alguns componentes. Primeiro, se nós tivermos sucesso na contraofensiva e pressionarmos a Federação Russa, se nós destruirmos completamente o espírito russo, então nem podemos imaginar o que pode acontecer. Porque temos o exemplo de Kherson, quando 40 mil pessoas saíram (...) Isso é um argumento militar que se retirou rapidamente, deixou os equipamentos técnicos e isso aconteceu. Por isso, se nós conseguirmos destruí-los,  num ou noutro sentido, isso acontecerá mais rápido", disse.

"E, se assim for, e nós os pressionarmos até uma decisão política, será um momento muito importante e aí será importante saber onde estará o mundo. Se o mundo permanecer ao lado da Ucrânia neste momento, e nós começarmos reuniões sobre a fórmula de paz, penso que conseguiremos encontrar os passos que nos aproximam da paz. Isso pode acontecer no próximo ano", acrescentou ainda.

Zelensky acredita que Ucrânia só entrará na "NATO depois da guerra"

O chefe de Estado ucraniano disse acreditar que a Ucrânia só entrará na "NATO depois da guerra".

Apesar de admitir que pensa que o convite podia ser feito antes do fim do conflito, nomeadamente porque poderia aproximar esse mesmo final, o presidente ucraniano ressalvou: "Mas não somos todos da mesma opinião". Assim, disse que o país deverá estar na NATO "só depois da guerra".

Já sobre a adesão à União Europeia, o presidente da Ucrânia adiantou: "Penso que temos todas as hipóteses de encetar um diálogo sobre o futuro da Ucrânia na UE, ainda este ano. A decisão pode ser tomada até ao final do ano, a partir do próximo ano já começarmos este processo e tudo dependerá da boa vontade ou da vontade política de parceiros europeus, da nossa vontade e da nossas possibilidades". 

"Parece que a guerra ainda não terminou"

Confrontado com o facto de ser um alvo desde o início da guerra e questionado sobre a quantas tentativas contra a sua vida já sobreviveu, o presidente da Ucrânia respondeu com alguns risos e lembrou que a guerra ainda não chegou ao fim.

"Não sei. É difícil dizer, porque parece que a guerra ainda não terminou", completou.

Leia Também: Zelensky recorda "todos os guerreiros" que lutaram por um país livre

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