Joanna, uma mulher polaca, foi internada no serviço de urgência do Hospital Militar de Cracóvia, na Polónia, no final de abril após sentir-se mal física e psicologicamente por ter tomado uma pílula abortiva. Antes de ingressar na unidade hospitalar, ligou ao seu médico, que, por sua vez, alertou as autoridades. Já no hospital sentiu-se "humilhada" pela polícia.
Segundo contou a própria à estação polaca TVN, uma ambulância e um carro da polícia dirigiram-se a sua casa pouco tempo após a chamada com o médico. Já no hospital, algumas agentes da polícia entraram na sala de exames e obrigaram-na a despir-se.
"A palavra ‘aborto’ desencadeou uma espécie de caça ao homem", afirmou, acrescentando que, apesar de querer ser mãe, decidiu abortar após lhe terem sido que a gravidez era uma ameaça à sua vida.
"Despi-me. Não tirei as cuecas porque ainda estava a sangrar e era demasiado humilhante e degradante para mim", disse, revelando ainda que os agentes fizeram uma busca aos seus pertences enquanto estava a ser observada por um obstetra e lhe levaram o telemóvel e o computador portátil.
Um dos médicos que assistiu Joanna contou à TVN que "foi formado um cordão à volta do doente", o que "dificultou o trabalho". "Nem nos conseguiram explicar porque é que a doente estava a ser detida", contou ainda sob condição de anonimato.
Pani Joanna chciała zażyć tabletkę poronną. Do szpitala przyjechali policjanci, zabrali jej laptop i telefon.
— Fakty TVN (@FaktyTVN) July 18, 2023
- Rozebrałam się. Nie zdjęłam majtek, ponieważ wciąż jeszcze krwawiłam i było to dla mnie zbyt upokarzające, poniżające, i wtedy właśnie pękłam, wtedy wykrzyczałam im w… pic.twitter.com/c4DB1TyU2r
Após a emissão da reportagem, na semana passada, a polícia de Cracóvia afirmou que a intervenção foi feita porque havia suspeitas de que Joanna tinha sido ajudada a fazer um aborto, o que é crime na Polónia, e que havia alertas de tentativa de suicídio.
"A conversa com a mulher mostrou que ela estava a receber tratamento psiquiátrico há anos, tinha pensamentos suicidas naquele dia e tinha tomado medicação para induzir um aborto espontâneo algum tempo antes", disse a polícia. "Ela revelou que encomendou o medicamento pela internet, mas recusou revelar os detalhes da compra."
Sublinhe-se que a Polónia, um país predominantemente católico, proíbe o aborto em quase todos os casos, com exceção de quando a vida ou a saúde da mulher está em perigo ou quando a gravidez resulta de violação ou incesto.
Na prática, as mulheres polacas que desejam interromper a gravidez pedem pílulas abortivas ou viajam para a Alemanha, República Checa e outros países onde é permitido, sendo legal a autoadministração de pílulas abortivas, mas ajudar outra pessoa a abortar já não.
O caso originou uma onda de protestos na Polónia e, na terça-feira, milhares de pessoas - maioritariamente mulheres - manifestaram-se em frente a esquadras da polícia em Cracóvia, Varsóvia e outras cidades.
O objetivo dos protestos - cujo imagens pode ver na galeria acima - era mostrar a solidariedade para com Johanna e condenar as práticas de humilhação da polícia, revela a agência de notícias The Associated Press (AP).
O ministro da Justiça polaco, Zbigniew Ziobro, já ordenou uma investigação ao incidente.
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