Paris. Reforço da polícia de intervenção esbarrou com a anarquia da noite

O reforço da polícia do corpo de intervenção em Paris fez da quinta noite consecutiva de protestos a mais curta, mas ainda assim a anarquia percorreu os Campos Elísios e deixou um rasto de violência e destruição.

protestos, nael, polícia

© Getty Images

Lusa
02/07/2023 03:14 ‧ 02/07/2023 por Lusa

Mundo

França

Pelas 23:30 locais (22:30 em Lisboa) começaram a surgir na rede social Twitter os primeiros vídeos: multidões nos Campos Elísios, apetrechadas com capacetes de motociclos e golas antifumo pretas, para aguentarem a carga policial e o lançamento de gás pimenta e lacrimogéneo, fruto da "experiência" dos dias anteriores.

Pouco depois, teve início mais uma noite de confrontos entre a polícia e estes parisienses, a quinta consecutiva desde o homicídio, na última terça-feira, de Nahel Merzouk, um rapaz de 17 anos que foi baleado por um polícia em Nanterre, nos arredores de Paris.

Contudo, esta noite foi diferente das anteriores, com a presença de mais polícias do corpo de intervenção espalhados pelas principais artérias da cidade, incluindo os Campos Elísios.

A polícia rapidamente repeliu os confrontos para as ruas adjacentes, o que permitiu que automóveis voltassem a circular, enquanto a batalha campal prosseguia em outros locais.

O corpo de intervenção foi avançando, enquanto ia lançando gás lacrimogéneo nas ruelas mais pequenas para encurralar os envolvidos nos confrontos.

Do outro lado chegava resposta: garrafas de vidro, pedaços de bicicletas vandalizadas, caixotes do lixo incendiados e esplanadas derrubadas, para impedir a carga policial.

A Lusa constatou que um grupo de cerca de cinco pessoas incendiou um automóvel quando o proprietário se estava a preparar para entrar. Um grupo de pessoas de um restaurante mesmo ao lado apressou-se a ajudá-lo a apagar as chamas.

"Isto é anarquia. Porque é que estão a fazer isto? Olhem para esta merda que estão a fazer", gritou o proprietário de um estabelecimento.

"Entrem, entrem, não fiquem aí fora, isto está para durar", respondeu um funcionário de um restaurante mais adiante para clientes que ainda lá estavam.

Mais à frente, na mesma rua, um outro veículo estava completamente vandalizado: portas abertas, vidros partidos, o chassis amolgado, enquanto algumas pessoas entravam no automóvel para se filmarem a fingir que o conduziam.

O cenário era assim em todas as ruas contíguas aos Campos Elísios. Motociclos derrubados e em chamas, lojas vandalizadas e pilhadas, vidros no chão e as barreiras de segurança colocadas durante a tarde agora estavam derrubadas por cima de lixo que foi incendiado.

Os parisienses envolvidos nos confrontos aproveitavam garagens abertas, lojas vandalizadas e becos para fugir ao gás lacrimogéneo lançado, enquanto encharcavam os olhos com água na esperança de acalmar a dor.

"Venham para aqui, força", gritou o funcionário de uma garagem, que a abriu para abrigar dois rapazes enquanto a polícia investia mais uma vez contra as pessoas que participavam nestes protestos.

Pelas 01:50 locais (00:50 em Lisboa) o ambiente estava mais calmo. Em algumas ruas, pessoas estavam sentadas no chão algemadas, a polícia identificava-as, e "varria" as ruas todas.

Dez minutos depois, centenas de polícias concentraram-se na avenida principal. Ouviu-se o som de um petardo. Depois outros dois.

Uma enchente de pessoas começou a correr na direção da polícia, arremessando garrafas de vidro e outros objetos. A polícia fez o mesmo e recomeçou a batalha campal, enquanto os carros atravessavam os Campos Elísios.

Em poucos segundos havia pessoas no chão, detidas, e cassetetes eram utilizados para obrigar os presentes a abandonarem o local e gás lacrimogéneo para impedir outros de se juntarem.

Um rapaz fugiu pelo meio da estrada, mas acabou apanhado por um polícia, que lhe deu um encontrão e o fez ir contra um carro que estava parado no semáforo. O rapaz caiu e foi levado por quatro polícias, que o carregaram enquanto gritava.

Entretanto, outras pessoas tentavam escapar à polícia por entre os carros que estavam parados nos semáforos e que não arrancaram quando o semáforo mostrou a cor verde, perplexos com aquilo a que estavam a assistir.

A polícia bateu indiscriminadamente em todas as pessoas que passavam, na tentativa de as expulsar dos Campos Elísios e conter a anarquia, inclusive pessoas que diziam que apenas estavam a passar por ali ou a tentar sair.

Em segundos, o caos tomou conta daquela congestionada artéria de Paris, mesmo a um sábado à noite.

Nas zonas adjacentes, o céu estava pintado com uma névoa cinzenta de gás lacrimogéneo, que acabou por afastar as pessoas que recusaram sair das discotecas, mas que, entretanto, foram apoderadas pela curiosidade.

A noite assim foi prosseguindo até às 02:30 locais (01:30 em Lisboa), com a polícia a carregar sobre os parisienses descontentes que, por sua vez, desafiavam os agentes de rua em rua.

Ainda assim, "foi a noite mais calma desde que isto começou", comentou um polícia, que não quis ser identificado.

"Isto hoje não está a ser como nas outras noites, está fraquinho", referiu um homem que caminhava por entre a destruição, observando à distância os passos de uns e outros.

Entre a polícia reforçada, os que prosseguem os confrontos, os que apenas são atraídos pela curiosidade e os turistas atarantados, voltou a reinar a anarquia no coração de Paris.

Para algumas pessoas com quem a Lusa foi conversando ao longo da noite, estes são protestos para contestar o homicídio de Nahel, mas também por outras causas. Para outras, a violência foi desencadeada por pessoas que apenas querem aproveitar a morte de um jovem para justificar o desgoverno.

A polícia permaneceu nos Campos Elísios, com várias carrinhas e centenas de elementos até não haver sinal dos confrontos.

Leia Também: Nahel. Mais de 120 detenções na 5.ª noite de protestos em França

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas