Um dos lugares de Roma onde Berlusconi, conhecido como "o cavaleiro", adorava passear é a via dei Coronari, uma rua próxima da turística Piazza Navona, a dois passos do Senado, que historicamente sempre esteve repleta de antiquários.
Nicola Marletta é proprietário da Galleria dei Coronari desde a década de 1980. Na loja vende estátuas, pinturas e obras clássicas.
"Durante anos comprou-me quadros. Dava o seu passeio habitual pela rua e entrava em todos os antiquários. Comprava quadros de vários tipos, sobretudo nus femininos", contou Nicola Marletta à agência Lusa, lamentando a morte do antigo primeiro-ministro italiano.
A alguns metros desta galeria está outra, a de Francesco Mazza.
Berlusconi "costumava vir aqui perto do final do ano para comprar pequenos presentes. Gostava muito de escultura, escolheu vários pequenos presentes. Depois, nos primeiros dias do ano, chegava o motorista com o cheque e levava tudo o que tinha sido comprado", disse Mazza à Lusa.
O antiquário conta que Berlusconi "gostava muito de bronzes", "não ostentava a sua fortuna" e que as quantias que gastava eram pequenas.
"Eram cerca de 1.500, dois mil, nunca mais de três mil euros", assegurou.
Bastava "o cavaleiro" atravessar aquela rua e os lojistas já sabiam que estava a chegar, porque a sua presença atraia simpatizantes e fãs que lhe pediam fotos e que o queriam cumprimentar.
"Ele nunca se negava. Assim que entrava na loja queria conversar sobre o Milan, sobre como estava o comércio e no final comprava sempre qualquer coisa. Lembro-me de lhe ter vendido alguns bronzes femininos e algumas pinturas a óleo do final do século XIX".
Quando Berlusconi queria tomar um café ou um sorvete, ia ao Giolitti, um bar a vinte metros da entrada da Câmara dos Deputados.
"Lamento profundamente porque antes de ser político ele foi um grande empresário. Quando aqui vinha cumprimentava toda a gente", conta um dos empregados do bar.
A morte de Berlusconi fez com que os que, de alguma forma, estiveram perto dele, perdessem a vergonha e se, durante anos por respeito à sua privacidade, guardaram as peripécias e as lembranças, hoje mal podem esperar para as contar.
Aplica-se a lojistas, bem como a políticos e mesmo às pessoas mais próximas.
O seu mordomo Alfredo Pezzotti, o homem que esteve ao seu lado quase trinta anos, lembra-se das suas noites sem dormir.
"Quase nunca dormia. Também trabalhava quando chegava a casa e dedicava só quatro a cinco horas por noite para dormir. E tinha um hábito antes de ir para cama: pedia-me um iogurte", contou Pezzotti que considera que "perdeu um pai" com a morte de Berlusconi.
A Itália decretou luto nacional pela morte do ex-primeiro-ministro e o Parlamento italiano estará encerrado durante uma semana, algo que nunca aconteceu.
Algumas centenas de metros diante da sede do Governo, turistas norte-americanos passam em frente ao Palazzo Grazioli.
Annabelle Stuart, do Texas, fica surpresa ao saber que este prédio foi um dos lugares onde Berlusconi recebeu as "suas amigas".
"Eu gosto de Berlusconi, ele se parece muito com Trump e eu gosto muito disso", diz.
Silvio Berlusconi, que morreu na segunda-feira, foi uma figura polémica, magnata dos 'media', conservador e de direita e primeiro-ministro de Itália durante nove anos (1994-1995, 2001-2006, 2008-2011).
Foi alvo de acusações de corrupção e esteve no centro de escândalos sexuais que culminariam na sua expulsão do Senado italiano, em 2013, mas em 2022 regressou à ribalta política como senador e líder do partido que fundou, Força Itália, membro da coligação de direita e extrema-direita atualmente no poder, liderada pela primeira-ministra Giorgia Meloni.
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