A Federação Russa declarou sexta-feira a Greenpeace indesejável, uma medida que proíbe as suas atividades, em contexto de repressão de vozes críticas desde que invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.
"O encerramento da Greenpeace na Rússia é uma medida absurda, irresponsável e destruidora que não tem nada a ver com a proteção dos interesses do país", declarou a ONG no seu sítio na internet.
A decisão russa expõe a Greenpeace a eventuais processos judiciais.
Segundo a ONG, a decisão é "devida precisamente às [suas] tentativas de impedir projetos que destroem a natureza", o que "se consegue em muitos casos".
A Greenpeace cita uma longa lista de projetos em que esteve envolvida, entre os quais alguns que afetavam o Lago Baical, o mais vasto e profundo do mundo.
"Todos os anos, os nossos quadros e apoiantes salvam florestas e pântanos dos incêndios", acrescentou.
A procuradoria-geral russa acusou, num comunicado, a ONG, com sede nos Países Baixos, de representar "uma ameaça para os fundamentos da ordem constitucional e para a segurança" da Rússia.
Considerou também que, desde o início da guerra contra a Ucrânia, há 15 meses, a Greenpeace tem trabalhado para difundir "propaganda antirrussa", e para promover "um maior isolamento económico" e o reforço das sanções internacionais.
O Ministério Público acusou a Greenpeace de financiar organizações russas descritas pelas autoridades como "agentes estrangeiros", de encorajar a interferência nos assuntos internos da Rússia e de procurar "minar as bases económicas" do país.
Segundo a acusação, a ONG desenvolve campanhas para "impedir a realização de projetos rentáveis de infraestruturas e energia" para a Rússia.
A secção russa da Greenpeace, criada em 1992, tem trabalhado para sensibilizar para as alterações climáticas, combater os incêndios florestais, lutar contra a poluição e preservar as espécies animais ameaçadas.
O Ministério Público remeteu o processo para o Ministério da Justiça, para que a Greenpeace seja incluída na lista de ONG cujas atividades são reconhecidas como indesejáveis em território russo.
A legislação russa permite limitar ou proibir a atividade de organizações com base em considerações ambíguas relacionadas com a origem dos respetivos fundos ou as atividades no país, de acordo com a agência espanhola Europa Press.
Em geral, são visadas organizações cujo trabalho é considerado contrário aos interesses do Estado ou comprometer a segurança nacional.
O processo contra a Greenpeace foi iniciado por um grupo de deputados russos em novembro de 2022, nove meses depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia.
A decisão anunciada agora resultou do "estudo de materiais" enviados pelos deputados que apresentaram a queixa contra a ONG.
Na Rússia, segundo a ONG especializada OVD-Info, as organizações classificadas como "indesejáveis" estão proibidas de abrir estruturas, realizar projetos e divulgar informações.
Desde o início da invasão da Ucrânia que as autoridades russas aceleraram consideravelmente a repressão das vozes críticas.
Longe de se limitar à oposição política, esta repressão afeta todas as áreas, como os círculos culturais e as organizações ambientais.
Em março, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês) foi classificado como "agente estrangeiro" por Moscovo, um estigma que dificulta muito as suas atividades na Rússia.
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