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Aproximação Riade/Teerão e papéis no Médio Oriente. O que está em causa?

A aproximação entre o Irão e a Arábia Saudita, sob a égide de Pequim, implica uma redistribuição profunda dos papéis no Médio Oriente, com repercussões potencialmente significativas nesta estratégica região.

Aproximação Riade/Teerão e papéis no Médio Oriente. O que está em causa?
Notícias ao Minuto

11:45 - 14/04/23 por Lusa

Mundo Médio

A aproximação entre o Irão e a Arábia Saudita, sob a égide de Pequim, implica uma redistribuição profunda dos papéis no Médio Oriente, com repercussões potencialmente significativas nesta estratégica região.

Mudança de Paradigma 

O acordo Irão/Arábia Saudita "é a ilustração de uma mudança de paradigma muito mais ampla que está em curso há vários anos", defendeu o diretor e académico da Fundação Mediterrânica de Estudos Estratégicos (FMES), Pierre Razoux, .

"Os Estados Unidos já não são vistos como a potência dominante na região. Os seus aliados tradicionais [como a Arábia Saudita] duvidam do seu empenho em protegê-los, por isso olham para outro lado", continua.

Segundo o investigador, "o ator global que é visto como uma nova potência estabilizadora é agora a China". 

O objetivo de Pequim "não é pacificar a região, mas estabilizá-la, através de incentivos económicos e financeiros", uma vez que a China "ainda não está preparada para se empenhar militarmente na região".

Contudo, com este acordo a Arábia Saudita "não quer posicionar-se contra os Estados Unidos", diz Fatiha Dazi-Héni, investigadora especializada no Golfo no Instituto de Investigação Estratégica da Academia Militar Francesa (Irsem).

"Todas as declarações oficiais de Riade consistiram [...] em tranquilizar o seu parceiro norte-americano, enfatizando o seu desejo de encontrar um justo equilíbrio entre as duas superpotências", observa Dazi-Héni na revista Orient XXI.

Al-Assad Reabilitado

Através das suas redes, as duas potências regionais, Riade e Teerão, têm vindo a travar uma guerra por procuração há anos.

A aproximação dos dois países pode ter consequências no Iémen, Iraque, Síria e Líbano, defende Razoux, sublinhando que "não resolve as crises, mas alivia-as" porque os atores regionais "já não têm interesse em deitar gasolina no fogo".

Na Síria, o Presidente Bashar al-Assad, com o apoio de Teerão e de Moscovo, sobreviveu à guerra civil que assola o país desde 2011, enquanto a Arábia Saudita foi um dos muitos patrocinadores dos rebeldes.

Pária da comunidade internacional, al-Assad está de novo a tornar-se um visitante frequente da região.

"A Arábia Saudita deve normalizar as relações com Bashar al-Assad, permitindo a Riade compensar a influência russa e turca e investir na reconstrução do país", sustenta Razoux.

Apaziguamento no Iémen

No Iémen, Teerão está do lado dos rebeldes huthis em guerra com o Governo, que tem sido apoiado desde 2015 por uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita.

"[Riade] não pode garantir um papel construtivo para o Irão, mas conta com a compreensão de Pequim quanto aos seus interesses", sustenta Yasmine Farouk, do Carnegie Endowment for International Peace (CEIP).

Contudo, os huthis poderiam tentar capitalizar os "ganhos militares" que "lhes permitem ditar o ritmo da diplomacia internacional no Iémen", nota Nadwa Al-Dawsari do Instituto do Médio Oriente (IMO).

Além disso, acrescentou, "está a surgir no Iémen do Sul um conflito indireto entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU)", que são aliados na luta contra os huthis.

Os dois aliados "não têm a mesma visão do futuro do Iémen", acrescenta Razoux, e Abu Dhabi "ficaria satisfeito com a sua divisão", o que lhe permitiria prosseguir os seus próprios objetivos geopolíticos no Mar Vermelho e ao largo do Corno de África.

Iraque, Líbano, Israel

No Iraque, "Riade também espera que esta normalização possa ajudar a acalmar o jogo com as milícias xiitas" neste país, onde Teerão desempenha um papel preponderante, observa Dazi-Héni.

"O acordo poderá ajudar a aliviar as tensões internas, reduzindo assim o risco de uma recaída na guerra civil, com cada país a dar garantias às várias partes", disse, por seu lado, Razoux.

No Líbano, Hassan Nasrallah, líder do 'todo-poderoso' Hezbollah, um aliado de Teerão, disse que o acordo poderia "ajudar" a resolver as crises no país.

"O Irão e a Arábia deveriam concordar em evitar o colapso do país", uma vez que tal cenário seria "nefasto para ambas as partes", disse Razoux.

Para o diretor e académico da FMES, dada a situação de profunda crise financeira libanesa, a Arábia Saudita, "cujos cofres estão cheios de petrodólares", poderia "enviar dinheiro, que correria através dos canais habituais de clientelismo e corrupção" no país.

As consequências seriam menos favoráveis para Israel, que já está confrontado com a impressão de que a influência norte-americana na região está a diminuir, a que se acrescenta a grande crise política interna que assola o país.

Neste contexto, a decisão de Riade de retomar as relações diplomáticas com o Irão é "extremamente problemática" para Telavive, dizem os investigadores Giorgio Cafiero e Shehab Al Makahleh na revista "Responsible Statecraft", do centro de investigação norte-americano Quincy Institute.

A pedra angular da política externa israelita é isolar o seu inimigo iraniano e Israel quis incluir a Arábia Saudita nesta coligação contra Teerão, que se aproxima do estatuto nuclear.

Leia Também: Damasco e Teerão debatem escalada de tensão após ataques israelitas à Síria

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