"Em comparação com 2021, o número de pessoas mortas (1.277 em 2022) registou um aumento de 54%", refere a Missão das Nações Unidas no Mali (Minusma) no seu relatório trimestral sobre as violações dos direitos humanos entre outubro e dezembro de 2022.
"No total, 2.001 pessoas foram afetadas pela violência em 2022 (1.277 mortos, 372 raptados/desaparecidos e 352 feridos)", lê-se no documento.
Os grupos extremistas islâmicos são os principais perpetradores da violência, representando 56% das violações registadas, de acordo com a mesma fonte.
Após dois sucessivos golpes de Estado em 2020 e 2021, os militares no poder no Mali cortaram, em 2022, os laços com a França e viraram-se para a Rússia, acolhendo no seu território paramilitares do grupo russo Wagner, os quais designa como "instrutores", mas que os países ocidentais classificam como mercenários, envolvidos em múltiplos abusos, de acordo com a ONU, o Ocidente e organizações de direitos humanos.
"No que respeita às Forças de Defesa e Segurança (FDS), 694 violações dos direitos humanos, ou 35% do número total de violações, são atribuíveis aos seus elementos, por vezes acompanhados por pessoal militar estrangeiro", considerou a ONU.
Estes números não incluem as violações cometidas em Moura de 27 a 31 de março de 2022, onde as forças armadas malianas acompanhadas por paramilitares suspeitos de pertencerem ao grupo Wagner executaram várias centenas de pessoas, segundo os peritos da ONU.
As tensões com a divisão de direitos humanos da Minusma aumentaram acentuadamente quando os militares chegaram ao poder há dois anos.
A junta militar bloqueia abertamente as investigações da Minusma sobre direitos humanos e abusos dos quais as forças malianas são regularmente acusadas.
Em fevereiro, o chefe da divisão de direito humanos da missão da ONU foi expulso pelas autoridades de Bamaco.
Desde 2012 que o Mali é flagelado pela propagação do fundamentalismo islâmico e da violência de todos os tipos.
O país, pobre e sem litoral está mergulhado numa grave crise, não só em termos de segurança, mas também em termos políticos e humanitários.
A violência é perpetrada por elementos armados ligados à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado islâmico, mas também por milícias e grupos criminosos organizados.
A Minusma foi criada em 2013 para ajudar a estabilizar o Estado do Mali, que corria o risco de ruir sob a pressão dos extremistas islâmicos, para proteger os civis, contribuir para o esforço de paz e defender os direitos humanos.
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