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Sánchez acusa PP de estar a deixar-se contaminar pela extrema-direita

O primeiro-ministro de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, disse hoje que ideias xenófobas e antidemocráticas podem vir a ganhar eleições no país por causa da aproximação do maior partido da oposição, o PP, à extrema-direita do VOX.

Sánchez acusa PP de estar a deixar-se contaminar pela extrema-direita
Notícias ao Minuto

16:11 - 21/03/23 por Lusa

Mundo Espanha

"O VOX por si só não vai ganhar umas eleições. O que pode acontecer é que ganhem as ideias do VOX e acabem por impregnar a agenda conservadora, que acabem por atrair a direita tradicional. E é precisamente o que está a acontecer", afirmou Sánchez, no arranque do debate parlamentar de uma moção de censura ao Governo, apresentada pela extrema-direita.

Para Sánchez, o Partido Popular (PP, direita) está a aproximar-se do VOX (atualmente a terceira força política no parlamento depois socialistas e populares) e este partido acabará por "impor a sua agenda e hegemonia cultural na direita".

O líder do Governo espanhol, uma coligação de socialistas e da plataforma de extrema-esquerda Unidas Podemos, lembrou que em 2020, na anterior moção de censura ao executivo, apresentada também pelo VOX, o PP votou contra, mas agora, e quando tem um novo presidente, Alberto Núñez Feijóo, anunciou a abstenção.

"Passinho a passinho, do não à abstenção, estão a um passo de dar-lhe o sim", afirmou Sánchez, dirigindo-se ao presidente do VOX, Santiago Abascal.

"O que vai fazer o PP com esta abstenção é um pagamento em diferido. Um adiantamento de caixa, passando de um decente não para uma indecente abstenção. Mas, senhores do PP, tenham cuidado porque este negócio é dos que deixam mancha e mais cedo do que tarde a extrema-direita vai exigir-lhes um segundo pagamento em diferido para saneamento de dívidas", disse Sánchez.

O primeiro-ministro disse que a moção de censura do VOX é "um manifesto de extremismo de direita de mais de 70 páginas", com ideias antidemocráticas, xenófobas e alinhadas com as da ditadura de Francisco Franco, mas que "deixa indiferente" o PP e não provoca "nem frio nem calor" a Feijóo.

O parlamento de Espanha começou hoje a debater uma moção de censura ao Governo que, à partida, só terá os votos favoráveis dos 52 deputados do VOX e a abstenção dos 88 do PP, numa câmara com 350 assentos.

O VOX avançou com esta moção de censura, segundo o texto da iniciativa, perante o que considera ser "a demolição" da ordem constitucional em Espanha por causa dos acordos de Sánchez com "forças separatistas", numa referência a acordos dos partidos do Governo, que não têm maioria absoluta no Congresso, com forças nacionalistas e independentistas do País Basco e da Catalunha.

Para o VOX, estes partidos, que querem acabar com a unidade e a integridade de Espanha, "conseguiram determinar a governabilidade da Nação" e decidir "o sentido das políticas que se aplicam a todos os espanhóis", além de "ditarem indultos e modificações 'ad hominem' [à medida] do Código Penal" para tirarem da prisão ou diminuírem potenciais penas de independentistas catalães.

O líder do VOX repetiu hoje estas acusações, na abertura do debate parlamentar, e acusou Sánchez de entregar o país "aos inimigos de Espanha".

Santiago Abascal dirigiu-se também ao PP, para criticar o partido e Feijóo, que optou pela estratégia de retirar importância à moção de censura e, não sendo deputado, não foi hoje ao Congresso, apesar de poder ter estado na assistência.

"Lamento não poder dirigir-me ao autoproclamado líder da oposição. Digo autoproclamado porque para ser líder da oposição teria de estar aqui e opor-se a alguma coisa de vez em quando", afirmou Abascal, que disse a Feijóo que "não é sério aproximar-se ao mesmo tempo do PSOE [o partido socialista] e do VOX".

O PP só deve intervir neste debate na quarta-feira, dia em que também será votada a moção, mas nos últimos dias os dirigentes do partido defenderam que a censura ao Governo deve ser feita com os votos dos eleitores, nas eleições municipais e regionais de maio e nas legislativas nacionais de dezembro.

Na defesa do Governo, e em resposta às críticas do VOX, Sánchez voltou a afirmar o que tem repetido sobre a Catalunha, que a confrontação que havia na região quando chegou ao executivo, em 2018, após uma declaração unilateral de independência em 2017, foi substituída pela convivência.

Atualmente, acrescentou, citando sondagens recentes, menos de 40% da população catalã apoia a causa do independentismo e a percentagem continua a baixar.

Em longas intervenções, aproveitando não haver limites de tempo neste debate, Sánchez optou também por, reiteradamente, referir os que considera serem bons resultados da economia espanhola no último ano e as revisões em alta das estimativas de crescimento do país em 2023 que as instituições internacionais têm feito.

A legislação espanhola prevê que as moções de censura incluam o nome da pessoa que automaticamente liderará o Governo caso sejam aprovadas, tendo o VOX optado pelo economista e antigo membro do Partido Comunista de Espanha Ramón Tamames, de 89 anos, que tem um percurso de oposição à ditadura de Francisco Franco.

Apesar de não ser deputado, Tamames esteve hoje no parlamento espanhol, ao lado de Santiago Abascal, e assumiu diferenças ideológicas e outras em relação ao VOX, em áreas como as alterações climáticas (de que o partido é negacionista).

No entanto, mostrou-se alinhado com o VOX na defesa da unidade de Espanha e invocou o consenso que existiu entre os partidos na designada "transição espanhola", após o fim da ditadura, e que desembocou na aprovação da Constituição de 1978, a instituição formal da democracia no país.

Tamames pediu aos partidos que estiveram na base da Constituição que façam "o mínimo" e cheguem a um acordo para um pacote de medidas que considerou necessárias para Espanha neste momento, como uma reforma da lei eleitoral ou o controlo da corrupção, de forma a que o país, onde o debate político é marcado por uma permanente tensão, "recupere uma certa concórdia, paz e entendimento".

Na história da democracia parlamentar espanhola, houve seis moções de censura ao Governo e só uma foi aprovada, em 2018, levando ao poder um novo primeiro-ministro sem eleições, o socialista Pedro Sánchez.

Leia Também: Histórico comunista encabeça moção de censura a Sánchez

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