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Família de coveiro vive em cemitério após abalo na Turquia. As imagens

As crianças são vistas a brincar entre as campas e com os materiais que vão, depois de tratados, servir para fazer os caixões.

Notícias ao Minuto

16:13 - 16/03/23 por Notícias ao Minuto

Mundo Sismo Turquia

Ali Dogru é um dos sobreviventes do terramoto que assolou, a 6 de fevereiro, a Turquia. Apesar de o abalo, com uma magnitude de 7,8 também ter chegado à Síria, só em território turco morreram mais de 54 mil pessoas,  e milhões ficaram sem casa. À medida que o país tem vindo a recuperar do sismo, os civis têm sido realojados em tendas, hotéis, residência universitárias, contentores e outros locais que estejam prontos para dar teto a quem ficou sem ele, de forma inesperada.

Mas há outros sítios que aqueles que estão desalojados começam a ocupar, como é o caso da família de Dogru. O homem, de 46 anos,  levou a esposa e os quatro filhos para um cemitério na cidade de Iskenderun, onde trabalha há mais de seis anos.

Antes deste acontecimento, Ali enterrava cerca de cinco pessoas diariamente. Na primeira noite depois o sismo, enterrou o dobro, e, a partir daí, os números dispararam. Nos primeiros dez dias, o coveiro tinha enterrado mais de 1.200 mortes.

Garantindo que lidava bem com a sua 'morada', o homem explicou que enterrar tantas pessoas lhe deixou muitos traumas, havendo momentos em que se recorda da sua antiga profissão, como talhante e do momento em que ocorre um ritual que sucede a peregrinação a Meca.

"Como talhante, costumava ver as pessoas trazerem borregos para serem sacrificados. Afeta-me muito quando vejo pessoas a trazerem os filhos, ou companheiros", explicou à Reuters.

À agencia de notícias, o homem conta também que só quer "trabalhar noite e dia para terminar" de enterrar as vítimas do sismo, e que, quando são filhos e pais que morrem nos "nos braços" uns dos outros ele enterra-os na mesma campa, contra a tradição islâmica de enterrar cada corpo separado. "Digo a quem os quer separar: 'Se a morte não conseguiu separar este filho da mãe ou do pai, por que razão o devemos fazer?'", explicou.

Mas o trabalho de ali no cemitério não se cinge apenas aos enterros, ajudando este também na recolha de  impressões digitais e amostras de ADN e sangue. Quando é necessário, ajuda também as autoridades a identificarem as vítimas, a partir das fotografias que lhe vão chegando.

O regresso a casa (?)

Com as escolas fechadas, as crianças passam, a maior parte do tempo com a mãe, ou com o resto da família. Isto porque, para além da família de Ali, que vive num autocarro no cemitério, também o irmão deste se mudou para uma tenda que montou no terreno.

"Planeio levá-los de férias quando ficarmos estabilizados", confessou Ali, acrescentando: "Viram tantas pessoas a carregar corpos, e tudo  por causa de mim".

Apesar de as crianças brincarem hoje junto das campas, a adaptação foi complicada, não tendo as crianças feito uma refeição durante três dias, já que todos estavam a trabalhar para realizar os funerais. Também no início não tinha camas, dormindo em cima de cobertores e depois, em tábuas de madeira.

A esposa, Hatice, conta que a maior parte dos corpos que têm visto são de crianças, e conta também à Reuters que já está a preparar as coisas para se ir embora, no final de abril. "Estou a pensar ir para casa depois do Eid [festival que marca o fim do jejum do Ramadão]", contou, referindo que já começou a arrumar algumas coisas.

Apesar de as autoridades dizerem que o risco de voltarem para casa é reduzido, Ali está mais reticente do que Hatice. à Reuters, confessa: "Ainda estamos a tentar ultrapassar os nosso medos".

Conheça a família de Ali nas imagens na galeria acima

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