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PR da Tunísia diz que foi mal interpretado em palavras sobre imigrantes

O Presidente da Tunísia, Kais Saied, afirmou que houve "má interpretação" das suas palavras sobre imigrantes da África subsaariana, conotadas como racistas, numa declaração conjunta com o chefe de Estado guineense, Umaro Sissoco Embaló.

PR da Tunísia diz que foi mal interpretado em palavras sobre imigrantes
Notícias ao Minuto

23:54 - 09/03/23 por Lusa

Mundo Kaïs Saïed

O Presidente da Guiné-Bissau e em exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) manteve na quarta-feira na Tunísia um encontro com o seu homólogo depois de no passado 21 de fevereiro, o Presidente tunisino, Kais Saied, ter sugerido "medidas urgentes" contra a imigração clandestina de africanos subsaarianos no seu país, afirmando que a sua presença é fonte de "violência e de crimes".

"Penso que tudo se tratou de incompreensão das minhas palavras, mas também estamos a falar do respeito da lei e da legalidade da Tunísia. Penso que houve uma má interpretação das minhas palavras, de um termo que eu disse em árabe e que culminou nesta infeliz campanha, que não é inocente", disse Kais Saied, numa declaração conjunta com Umaro Sissoco Embaló.

O Presidente em exercício da CEDEAO explicou que muitos dos subsaarianos que "encontram na Tunísia são originários da África Ocidental".

"Na sequência deste mal-entendido, se me permite dizer que foram mal interpretadas as suas declarações, porque eu não posso acreditar que você, Presidente tunisino, país de 'Habib' Bourguiba [fundador da Tunísia moderna] pode ser xenófobo ou racista. Você é africano", afirmou Umaro Sissoco Embaló, dirigindo-se ao seu homólogo.

"Eu sou africano e tenho orgulho nisso", salientou, por seu lado, o Presidente da Tunísia.

O Presidente guineense disse que na Europa, os passaportes provenientes de África são de pessoas africanas, independentemente da cor da pele.

"É por isso que eu digo que às vezes há interpretações e as pessoas interpretam mal algumas das nossas declarações. Isso chegou-me e após esta audiência que tivemos estou seguro ao afirmar que a Tunísia é um país de acolhimento dos irmãos africanos, sobretudo daqueles que vêm de países da África subsaariana", disse.

"Somos africanos. Vocês são da África do Norte, eu sou da África Ocidental, outros estão a sul do Saara. Mas o mais importante é que eu vou transmitir esta incompreensão a alguns chefes de Estado da nossa sub-região, sobretudo à nossa região que é a CEDEAO para lhes dizer quais as razões da má interpretação", afirmou Umaro Sissoco Embaló.

O Presidente guineense disse também que viu um vídeo divulgado nas redes sociais com declarações racistas sobre africanos subsaarianos, mas que percebeu que a "pronúncia não é tunisina".

"Como eu lhe disse, independentemente da nossa cor de pele não podemos mudar o nosso continente, somos todos irmãos africanos. Penso que se tratou desta incompreensão e os tunisinos também vão compreender que estas declarações, deturpadas, não são o espírito, não são a lógica do senhor Presidente", disse Umaro Sissoco Embaló.

As declarações do Presidente da Tunísia que provocaram mal-estar foram proferidas durante uma reunião do Conselho de Segurança Nacional "dedicada às medidas urgentes que devem ser adotadas para enfrentar a chegada à Tunísia de um grande número de migrantes clandestinos provenientes da África subsaariana", segundo um comunicado da presidência, citado pela France-Presse.

No decurso desta reunião, Saied fez um discurso particularmente duro sobre a chegada de "hordas de migrantes clandestinos" e que cuja presença na Tunísia tem originado "violência, crimes e atos inaceitáveis", insistindo na "necessidade de pôr rapidamente termo" a esta imigração.

O chefe de Estado tunisino também defendeu que esta imigração clandestina denuncia "uma organização criminal urdida no início deste século para alterar a composição demográfica da Tunísia" e para a transformar num país "apenas africano" e terminar com o seu caráter "árabo-muçulmano".

Saied pediu às autoridades para agirem "a todos os níveis, diplomáticos, securitários e militares" para enfrentar esta imigração e uma "aplicação estrita da lei sobre o estatuto dos estrangeiros na Tunísia e sobre a transposição ilegal nas fronteiras".

"Aqueles que estão na origem deste fenómeno efetuam tráfico de seres humanos pretendendo defender os direitos humanos", disse ainda, de acordo com o comunicado da presidência citado pela agência noticiosa AFP.

Esta acusação de Saied contra os migrantes subsaarianos surge alguns dias após cerca de 20 organizações não-governamentais (ONG) tunisinas terem denunciado o aumento do "discurso do ódio" e do racismo para eles dirigido.

Segundo estas organizações, "o Estado tunisino faz orelhas moucas sobre o aumento do discurso do ódio e racista nas redes sociais e em certos 'media'".

Este discurso "é mesmo promovido por alguns partidos políticos, que promovem ações de propaganda no terreno facilitadas pelas autoridades regionais", acrescentaram.

As ONG também denunciaram "violações dos direitos humanos" que vitimizam os migrantes e apelaram às autoridades tunisinas a "combater os discursos do ódio, a discriminação e o racismo e intervir em caso de urgência para garantir a dignidade e os direitos dos migrantes".

A Tunísia, onde diversas zonas do litoral se encontram a menos de 150 quilómetros da ilha italiana de Lampedusa, regista regularmente tentativas de partida de migrantes, na maioria subsaarianos, em direção a Itália.

Leia Também: Presidente tunisino quer "medidas urgentes" contra migração subsaariana

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