"Devo anunciar que o Presidente de Cabo Verde foi escolhido como 'champion', que significa líder, da preservação do património natural e cultural da África", disse José Maria Neves, durante a conferência de imprensa em que esta manhã, na Praia, fez o balanço da recente participação na assembleia da União Africana, em Adias Abeba (Etiópia) nos dias 18 e 19 de fevereiro.
"A partir de agora assumo a responsabilidade de, a nível do continente africano, liderar todo este programa de preservação do património natural e cultural. Portanto, será uma enorme responsabilidade e, enquanto Presidente da República de Cabo Verde, juntamente com todos os meus pares africanos, vamos investir fortemente na preservação do património natural e cultural de toda a África", afirmou José Maria Neves.
"E é claro que para isso quero contar com todos os chefes de Estado e de Governo africanos e todos os parceiros internacionais para, em conjunto, destacarmos o que de mais belo existe em África, mas também o que de mais ténue e frágil existe e que merece a atenção de todos em termos de património natural, património construído pela humanidade e a engenhosidade cultural que se expressa em canções, danças, artes, rituais sagrados", acrescentou.
Para José Maria Neves, também antigo primeiro-ministro de Cabo Verde (2001 a 2016), a "valorização desta riqueza" é um "imperativo categórico para o desenvolvimento sustentável, redução da pobreza e manutenção e consolidação da paz em África".
"Com esse potencial, se ousarmos combinar e unir nossos esforços e o nosso conhecimento, podemos construir bases sólidas para progredir na esfera económica de forma inclusiva", apontou.
Enquanto 'champion' da União Africana para preservação do património natural e cultural, José Maria Neves revelou que será acompanhado por cinco vice-presidentes, representando o norte do continente, a África austral, a África oriental, a África central e a África ocidental.
"Trata-se de um importante ganho para Cabo Verde e podemos valorizar todo o esforço que Cabo Verde tem feito relativamente a esta matéria, não só a da preservação do património natural como também do seu património cultural", sublinhou.
"Teremos possibilidades não só de mobilizar muito mais recursos para o país e para o continente africano nestes domínios, mas também mobilizar parcerias, conhecimentos e outros bens espirituais que são fundamentais para que possamos preservar todo o património cultural e natural da África, um continente extraordinariamente rico e que pode dar um contributo fundamental na construção do futuro", acrescentou o Presidente cabo-verdiano.
De acordo com José Maria Neves, entre os países que integram a União Africana há atualmente mais de 140 bens inscritos na lista do património natural e cultural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), mas 12 países não têm qualquer inscrição. No que diz respeito ao património imaterial, estão registadas 107 expressões culturais em 33 dos 54 países da União Africana.
"Só a Etiópia tem cerca de 80 línguas. Há outros países, como os Camarões, com cerca de 300 línguas específicas para as diferentes comunidades, onde há uma enorme diversidade e uma enorme riqueza canções, danças, contos tradicionais, artes culinárias, farmacopeia", exemplificou.
"A África é também muito rica em paisagens e uma biodiversidade exuberante que se torna um destino privilegiado para o turismo internacional. Todavia, todo este património esconde ainda muitas fragilidades que se traduzem em vulnerabilidades tanto ao nível da integridade física como de gestão e práticas naturais", reconheceu igualmente.
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