Meteorologia

  • 19 ABRIL 2024
Tempo
17º
MIN 14º MÁX 21º

Casos de corrupção na Ucrânia? Não é "doença", mas "sinal", diz ativista

A ativista considera que as recentes demissões de altos responsáveis ucranianos por suspeitas de corrupção são "um sinal" de que a luta tem de prosseguir para evitar perda de confiança da população e dos aliados do país.

Casos de corrupção na Ucrânia? Não é "doença", mas "sinal", diz ativista
Notícias ao Minuto

10:00 - 02/02/23 por Lusa

Mundo Ucrânia/Rússia

O governo ucraniano anunciou na terça-feira a demissão formal de seis membros e aceitou a renúncia de outros cinco governadores regionais, no que constitui a maior mudança na administração desde o início da invasão russa do país.

O chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, procura mostrar que tais atividades não serão toleradas, num momento em que o país precisa de unidade interna e de ajuda internacional para acabar com a guerra com a Rússia, e vários dirigentes europeus já alertaram para a necessidade de credibilidade, com a subsecretária de Estado norte-americana para Assuntos Políticos, Victoria Nuland, a alertar que o combate à corrupção na Ucrânia é uma condição para a continuidade do apoio a Kyiv.

"Até agora, gozamos deste crédito de confiança e, naturalmente, se os nossos parceiros virem problemas na Ucrânia, se virem que a Ucrânia regressa aos velhos hábitos (...) é claro que teremos cada vez menos confiança ao longo do tempo", alerta em entrevista à Lusa Tetiana Shevchuk, responsável pelas relações e programas internacionais do Centro de Ação Anticorrupção (AntAC), sediado em Kyiv.

Na véspera da cimeira entre a Ucrânia e a União Europeia, a realizar na capital ucraniana, a ativista vê os recentes casos de corrupção "não como uma doença em si, mas um sinal" e o assunto estará nas discussões de alto nível sobre o processo de adesão ao bloco europeu.

"Espero que seja um sinal de combate à corrupção e que estejamos a lidar com os problemas e a caminho da recuperação, porque um dos nossos obstáculos à UE é a corrupção no país e temos de mostrar não só aos europeus, mas a nós próprios, ao nosso povo, que a Ucrânia está a combater a corrupção, e que o sistema de governação está a tornar-se melhor", declarou.

Tetiana Shevchuk não tem, no entanto, "expectativas muito altas" em relação à cimeira, porque esta é uma fase de implementação de requisitos de Bruxelas e depois é preciso esperar uma avaliação - "provavelmente uma avaliação positiva na maioria dos aspetos da integração europeia" -- e por fim dar os passos necessários, o que não deverá acontecer antes de 2026.

"A corrupção é uma erosão de confiança ao nível local ou relacionada com as relações internacionais", defende, apesar de considerar que "atualmente a Ucrânia goza de um crédito muito grande de confiança dos parceiros internacionais", o que leva ao envio em larga escala de armamento e ajuda financeira, que está sob escrutínio.

A ativista recorda que quase 60% do orçamento ucraniano provém de ajuda externa, "porque a economia está paralisada devido à agressão russa", e, nesta situação de dependência dos aliados, "não se pode permitir esta situação [corrupção]".

Eleito com a "bandeira" da luta anticorrupção, o presidente ucraniano afirmou que as remodelações do seu governo são necessárias para a "aproximação às instituições europeias" e assegurou que vai continuar a "tomar as medidas adequadas".

Tetiana Shevchuk considera que a chave encontra-se precisamente em Zelensky, separando o seu mandato, iniciado em 2019, em duas fases, a primeira das quais em que "ele estava realmente a manter a sua palavra, realmente a promover e lutar" contra a corrupção.

"No ano passado, na segunda fase do seu mandato, o caminho de anticorrupção foi retardado na política interna, nas relações habituais dos oligarcas, voltando aos negócios como de costume, levando a muita frustração, devido à invasão russa, que reiniciou tudo", sustentou.

Após os escândalos recentes, Zelensky e os membros do seu partido "têm a oportunidade de dar um novo impulso à luta contra a corrupção", porque "desfrutam do mais alto crédito de confiança pública de todos os tempos" e uma popularidade, sobretudo o líder ucraniano.

"Ele pode demitir ou fazer demitir todo e qualquer político porque ele é o mais popular e tem a maior autoridade do país como presidente em tempo de guerra", segundo a responsável da AntAC, avisando, porém, que, o esforço anticorrupção sofrerá "tentativas de sabotagem e de continuação dos negócios como de costume".

"Mas, neste momento, Zelensky será capaz de apresentar com sucesso o processo anticorrupção, porque é nele que a sociedade confia", reforça.

Entre as saídas do governo estão a do vice-ministro da Defesa e vários altos funcionários do Estado ucraniano após notícias publicadas na imprensa da Ucrânia sobre alegadas compras de material logístico militar a "preços inflacionados", nomeadamente alimentos.

Noutro escândalo recente, o vice-procurador-geral Oleksiy Symonenko esteve recentemente de férias em Espanha, embora as viagens ao estrangeiro, exceto para fins profissionais, sejam proibidas aos ucranianos do sexo masculino, com idade para combater.

Elogiando as demissões, como "um primeiro passo e um gesto político, sinalizando ao público em geral e ao sistema que haverá uma luta contra a corrupção ou certos escândalos de corrupção são levados a sério", Tetiana Shevchuk considera que o processo não termina aqui.

"Não é a cura para o problema. A corrupção deve ser devidamente investigada e acusada, e, se as pessoas realmente cometeram crimes, elas devem assumir a responsabilidade", num processo que "nunca é da noite para o dia, pode levar meses, ou mesmo às vezes, em casos complicados, anos", para que pessoas "com reputação questionável" não voltem aos cargos que ocupavam.

O último Índice de Perceção de Corrupção Transparência Internacional, divulgado na terça-feira, coloca a Ucrânia na 116.ª posição, uma subida de cinco lugares em comparação com o ano anterior, mas Tetiana Shevchuk coloca reservas em relação à credibilidade do documento.

"Não reflete o progresso que a Ucrânia fez em oito anos e ainda é capaz de continuá-lo", após mudanças políticas, mudança de estruturas governamentais, a forma como a governação é feita, "e é muito difícil colocar isto em números e especialmente em comparação com outros países".

A ativista sustenta ainda que a legislação ucraniana é satisfatória, melhor inclusive do que em alguns países europeus, justificando que o país tem vindo "a renovar ativamente as leis nos últimos anos para acomodar a acusação adequada de crimes de corrupção".

Leia Também: Lavrov critica visita de Von der Leyen: "Isto não é racismo? Nazismo?"

Recomendados para si

;
Campo obrigatório