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Sahel. Ressentimento contra a França abre caminho para a Rússia em África

Analistas ouvidos pela agência de informação financeira Bloomberg consideram que o ressentimento dos países do Sahel relativamente à antiga potência colonial, a França, está a abrir caminho para o fortalecimento da presença militar e política da Rússia.

Sahel. Ressentimento contra a França abre caminho para a Rússia em África
Notícias ao Minuto

11:42 - 30/01/23 por Lusa

Mundo Sahel

"A Rússia quer o apoio de todos os seus aliados africanos, estamos a tentar reforçar os nossos esforços na luta por um mundo multipolar", respondeu o embaixador da Rússia no Burkina Faso quando lhe pediram para confirmar se os habitantes locais querem que a Rússia seja o principal parceiro.

Também na região do Sahel, o Mali é outro dos países que se tem aproximado consistentemente da Rússia, um movimento que não tem tanto a ver com a Rússia, como tem com o afastamento de Paris.

"A tendência pró russa tem pouco a ver com a popularidade da Rússia, é mais uma expressão da impopularidade da França", disse o antigo primeiro-ministro do Mali Moussa Mara, que ocupou o cargo durante a presidência de Ibrahim Boubacar Keita, deposto num golpe de Estado em 2020.

A França, de resto, tem mantido uma influência muito significativa na política, economia e segurança dos países do Sahel nas últimas décadas, desde que ganharam a independência do país europeu, nos anos 1960, o que, juntamente com o falhanço das tropas francesas na redução dos ataques armados nestes países, contribuiu para o ressentimento analisado no artigo da Bloomberg.

O Sahel é uma extensa faixa de território que atravessa horizontalmente o continente africano, incluindo os países do Burkina Faso, Camarões, Chade, Gâmbia, Guiné-Conacri, Mauritânia, Mali, Níger, norte da Nigéria e Senegal, sendo uma das regiões mais pobres do continente e assolada por conflitos e uma forte presença de terroristas e rebeldes.

O Burkina Faso, tal como o Mali e a República Centro-Africana, iniciou a partir do golpe de Estado de setembro de 2022 uma aproximação à Rússia, com Paris a acusar Ouagadougou de ter concluído um acordo com o grupo paramilitar russo Wagner.

Mais de nove anos depois de serem recebidos no Mali como "salvadores" face à atividade armada de movimentos fundamentalistas islâmicos, os 2.400 soldados franceses concluíram a sua retirada do país em 15 de agosto de 2022.

A retirada foi ordenada em 17 de fevereiro pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, devido à deterioração das relações com a junta militar no poder em Bamaco e perante a crescente hostilidade da opinião pública do Mali.

Quatro meses após a retirada do Mali, os últimos 47 soldados franceses destacados na República Centro-Africana deixaram em 15 de dezembro de 2022 o aeroporto de Bangui.

"A saída dos militares franceses destes países ocorreu na mesma altura em que os líderes fortaleciam as suas ligações ao Kremlin, que tem usado mercenários para ganhar presença e influência na República Centro-Africana, Líbia e Sudão", escreve a Bloomberg, notando que muitas tropas francesas já se reagruparam no Níger, que faz fronteira com o Mali e o Burkina Faso.

Os governos ocidentais há anos que alertam para a ameaça da campanha de desinformação que Moscovo tem feito em África, liderada por empresas ligadas ao Kremlin, como o famoso Wagner, um grupo privado de segurança paramilitar liderado por Yevgeny Prigozhin.

"Através de empresas que exploram os recursos naturais africanos, de operacionais políticos que minam os atores democráticos, de empresas que se fazem passar por Organizações Não Governamentais, de manipulação das redes sociais, Prigozhin lidera a desinformação para influenciar a política africana a favor da Rússia", disse o Departamento de Estado dos Estados Unidos em maio de 2022.

A presença do grupo Wagner está também a ser a principal responsável pelo "colapso em câmara lenta" da missão das Nações Unidas no Mali, que chegou a ter 13 mil operacionais, desde 2013.

No ano passado, a Alemanha, o Reino Unido e a Costa do Marfim anunciaram que iam sair da missão, seguindo o exemplo da Dinamarca e da Suécia.

"É o que se passa no Mali e no Burkina Faso, é um roteiro que consiste em afastar os parceiros inconvenientes, ou seja, aqueles que insistem nos direitos humanos, querem criar condições democráticas para o apoio militar e defendem autoridades civis", disse a investigadora Ornella Moderan, do instituto holandês Clingendael, à Bloomberg.

Leia Também: G5 Sahel convidam Mali para reforçar luta contra terrorismo

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