Emmanuel Macron e o Presidente gabonês, Ali Bongo Ondimba, tinham anunciado em novembro, durante a cimeira do clima (COP27) no Egito, a realização no Gabão da "One Forest Summit", uma cimeira internacional dedicada à preservação das florestas.
"Com ou sem razão, os gaboneses interpretarão a sua chegada ao seu país como uma expressão do apoio da França ao atual regime, com vista a encorajá-lo a permanecer no poder", lê-se na carta a que a agência France-Presse (AFP) teve acesso.
Os doze signatários desta carta estão entre os principais líderes dos grupos de oposição e da sociedade civil mais ativos contra o regime de Ali Bongo.
"A chegada do Presidente Macron com o pretexto de uma cimeira sobre a floresta será muito mal interpretada pela opinião pública, mesmo que não esteja relacionada com questões políticas. Mas a comunicação do governo levará as pessoas a pensar que Macron veio apoiar Ali Bongo na sua próxima candidatura", disse à AFP Marc Ona Essangui, fundador do coletivo Tournons la Page, que promove a "mudança democrática" e luta "contra a candidatura" do atual President, no poder desde 2009.
Por enquanto, Bongo ainda não anunciou oficialmente a sua candidatura, mas o chefe de Estado, 63 anos, que foi reeleito por pouco em 2016 nas eleições contestadas pela oposição, é amplamente esperado como o candidato de 2023 do todo-poderoso Partido Democrático Gabonês (PDG), do qual é o líder e que há um ano o tem chamado a ser o seu "candidato natural".
Uma fonte diplomática em Paris confirmou à AFP a receção da carta, acrescentando que a embaixada francesa em Libreville está "em contacto com os interlocutores da classe política e da sociedade civil gabonesas para expor e explicar os objetivos da cimeira em que o Presidente francês participará.
A França sempre apoiou o sistema Bongo durante 50 anos, de pai para filho, e tem mantido esta família no poder, isto não é segredo para ninguém", acrescenta Ona. O Eliseu não quis comentar.
Vítima de um derrame em outubro de 2018 que o manteve afastado da cena política durante muitos meses, Ali Bongo foi eleito presidente após a morte do seu pai, Omar Bongo Ondimba, em 2009, depois de mais de 41 anos no poder.
Antiga colónia francesa independente desde 1960, este estado centro-africano de dois milhões de habitantes, rico em petróleo, é um país-chave para a França no continente.
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