Ataques no Brasil são "resultado de anos de polarização política"
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, realçou hoje que os ataques à democracia no Brasil, no domingo, começaram antes e apontou que durante o mandato do ex-Presidente Jair Bolsonaro, as instituições "foram continuadamente atacadas".
© Philipp von Ditfurth/picture alliance via Getty Images
Mundo Brasil
"O ataque às principais instituições do Brasil não começou no último domingo. São o resultado de anos de polarização política", salientou o Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, no novo artigo publicado no seu blogue.
O diplomata espanhol destacou também que "durante o mandato do ex-Presidente Jair Bolsonaro, os fundamentos de uma sociedade pluralista e das instituições democráticas foram continuamente atacados".
"Os partidos políticos foram demonizados, o judiciário foi perseguido, a imprensa foi menosprezada e a sociedade civil foi deixada de fora dos principais debates", vincou, lamentando que as redes sociais agravassem a divisão na sociedade brasileira.
"Sabemos que essas bolhas de informação alimentam 'guerras culturais' e políticas de identidade", acrescentou.
Borrell lembrou que, logo após ter sido eleito, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a sua intenção de "curar as feridas da sociedade" e voltar a unir o país.
"Isto é agora mais necessário, mas provavelmente também mais difícil", analisou Borrell, alertando para a existência de "forças políticas dispostas a alimentar a radicalização e o caos num esforço descarado para forçar a intervenção das Forças Armadas".
Com o regresso da ordem a Brasília, o chefe da diplomacia europeia sublinhou, no entanto, que ainda restam muitas dúvidas sobre as causas do ocorrido no domingo, quando apoiantes de Bolsonaro invadiram as sedes da Presidência, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), os três poderes democráticos do Brasil.
Para Borrell, o que aconteceu em Brasília é muito parecido com o assalto ao Capitólio em Washington em janeiro de 2021: "O fato de duas grandes democracias da América terem sofrido um ataque físico contra as principais instituições, que encarnam a sua ordem constitucional, deve-nos fazer parar e refletir", apontou.
O político espanhol, que vê as teorias da conspiração e as notícias falsas com um papel central nestes processos, realçou porém que as desigualdades "podem ameaçar esvaziar a democracia" e "destruir a confiança no bem comum".
"Seria errado e complacente acreditar que somos imunes a estas dinâmicas" na UE, alertou ainda.
Borrell frisou ainda que, por vezes, as "dinâmicas antiliberais são muitas vezes alimentadas desde o exterior por esforços poderosos e bem dirigidos de manipulação de informação levados a cabo por regimes autoritários".
Neste ponto, Borrell aludiu à Rússia, "cujo objetivo é simplesmente destruir a democracia na Europa e em outros lugares", mas também mencionou "partidos de extrema-direita e regimes autoritários em escala global".
Para lidar com estas circunstâncias, o chefe da diplomacia europeia pediu uma limitação na disseminação de notícias falsas e garantiu que a UE está disposta a cooperar com o Brasil nessa área.
O ataque aos três ramos da democracia brasileira durou quatro horas e resultou na prisão de quase 1.800 pessoas, embora quase um terço delas tenha sido libertada por "razões humanitárias".
As investigações estão agora a concentrar-se na identificação dos financiadores da tentativa de golpe, incluindo comerciantes, empresários agrícolas e vendedores de armas das regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, de acordo com o ministro da Justiça, Flávio Dino.
O Ministério Público pediu também ao Supremo Tribunal que investigue três deputados pró-Bolsonaro por "incitar" à violência de 08 de janeiro em Brasília.
O Supremo Tribunal retirou também o governador de Brasília, Ibaneis Rocha, do cargo durante 90 dias, e ordenou a prisão do antigo secretário de segurança Anderson Torres, que era ministro da justiça de Bolsonaro, e do antigo comandante da polícia militar, Fábio Augusto Vieira, pela sua "omissão" nos atos de golpe.
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