"Aprovamos em Conselho de Ministros um decreto que declara a imobilização social obrigatória [recolher obrigatório) em Puno por um período de três dias, das 20:00 às 04:00. Esta medida é para salvaguardar a vida, a integridade e a liberdade de todos os cidadãos de Puno", realçou Otárola perante o Congresso (Parlamento) peruano, onde apresentou o seu programa de governo.
O primeiro-ministro acrescentou que o governo declarou um "luto nacional" para esta quarta-feira, "em respeito aos que caíram" nos protestos, que em menos de um mês somam 47 pessoas mortas, a última um polícia de Puno.
O líder do governo adiantou que um suboficial da Polícia Nacional (PNP) morreu após ser "queimado vivo" por uma multidão que o atacou na cidade andina de Juliaca.
"A polícia (...) confirmou que um agente foi espancado e algemado e o outro, (...) José Luis Soncco Quispe, morreu, foi queimado vivo dentro da sua viatura", realçou.
Otárola também mencionou que esta manhã chegou à região de Puno, fronteira com a Bolívia, uma comissão governamental "multissetorial" integrada pelo chefe da assessoria da presidência e vários vice-ministros, além de meia tonelada de material médico que, lamentou, não podem ser transportados para os centros de saúde da zona devido aos protestos.
O chefe do governo, liderado pela Presidente Dina Boluarte, apelou também às autoridades regionais e aos manifestantes para permitirem a passagem de medicamentos "por razões humanitárias".
Durante a apresentação do seu programa de governo, denominado "paz social", Otárola lamentou a "perda irreparável" dos peruanos mortos nos protestos.
"O fantasma da violência irracional voltou a pairar no Peru", sublinhou, manifestando novamente o seu apoio às forças policiais.
Otárola acrescentou que o seu executivo "responderá firmemente para conter e anular" a "ressaca golpista", em referência à tentativa de autogolpe de Estado do ex-Presidente Pedro Castillo, em 07 de dezembro, após o qual Boluarte assumiu a presidência do país por sucessão constitucional.
O Peru atravessa uma crise política e social devido às manifestações que abalam o país desde a destituição do ex-Presidente Pedro Castillo, que quis dissolver o parlamento para convocar uma assembleia constituinte, criar um governo de emergência e governar por decreto, o que foi interpretado como uma tentativa de golpe de Estado.
Após a detenção de Castillo, que ficará em prisão preventiva de 18 meses decretada por um tribunal, o poder passou para a vice-presidente, Dina Boluarte, mas os protestos e manifestações continuaram.
Entre outras reivindicações, os manifestantes exigem a antecipação das eleições, marcadas pelo novo Governo para a primavera de 2024, a dissolução do Congresso, a convocação de uma Assembleia constituinte, a demissão de Boluarte do cargo de vice-presidente e a libertação do ex-Presidente Pedro Castillo, no poder entre 2021 e 2022 e condenado a 18 meses de prisão preventiva sob a acusação de promover um "golpe de Estado".
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