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Timor. Xanana Gusmão desafia setor privado a ser motor de desenvolvimento

O líder histórico timorense Xanana Gusmão desafiou no fim de semana o setor privado do país a ser motor de desenvolvimento, sem estar dependente do Estado, reconhecendo as várias dificuldades dos empresários, incluindo no acesso ao crédito.

Timor. Xanana Gusmão desafia setor privado a ser motor de desenvolvimento
Notícias ao Minuto

07:39 - 10/01/23 por Lusa

Mundo Timor-Leste

Num discurso distribuído durante um evento da Câmara de Comércio e Indústria (CCI) timorense, Xanana Gusmão disse que o país não pode continuar "dependente dos recursos do petróleo e do gás" e que há que diversificar a economia.

"Isto significa que temos que dar um novo impulso ao setor privado, para que cumpra com as suas obrigações de participar da melhor forma no desenvolvimento do país, pela criação do emprego e pela entrada de divisas no nosso país", disse.

"O que tem vindo a acontecer até agora é que o dinheiro, que sai do Orçamento do Estado vai todo para fora, porque Timor-Leste importa tudo ou quase tudo", vincou.

O texto de Xanana Gusmão foi distribuído no fim de semana a convidados que participaram na tomada de posse dos novos responsáveis da Câmara de Comércio e Indústria e onde o líder timorense tinha sido convidado a discursar.

Num texto sob o tema "política económica externa e estratégia de investimento em Timor-Leste", Xanana Gusmão refere-se em particular a setores como o turismo e a indústria, que carecem de mais investimento e desenvolvimento.

De lado, propositadamente, deixa de lado o setor que tem sido a principal fonte de receitas do país, o de petróleo e gás, com uma critica ampla aos novos responsáveis setoriais nomeados pelo atual executivo.

"No campo de Investimento, não falarei de investimento no Petróleo e nos Minerais, porque os atuais responsáveis destas áreas são simplesmente pessoas ignorantes e que não mereciam estar à frente de tarefas tão importantes para o país", escreve.

Xanana Gusmão pediu à CCI que seja uma força dinamizadora do setor privado, para ver o que pode ser produzido nacionalmente, incluindo na indústria e na produção de ferro ou zinco, apostando em setores onde Timor-Leste pode exportar, como a agricultura.

"Depois de uma análise profunda sobre estes aspetos, a Câmara de Comércio e Indústria pode estabelecer uma visão, donde virá a estratégia e o plano de ação adequada para incentivarmos a nossa produção, que terá como objetivo 'reduzir a importação' de bens consumíveis que podemos produzir no nosso país e, sempre que possível, exportarmos para que comecem a entrar divisas para Timor-Leste", refere.

"Esta é, quanto a mim, a essência de uma `política económica externa' e de 'uma estratégia de investimento em Timor-Leste", considera.

No campo do turismo, onde destacou o turismo comunitário e as potencialidades da economia azul, Xanana Gusmão pediu melhor estratégia afirmando que "os turistas estrangeiros não regressarão com boas impressões, se tiverem que comer o `supermi' e beber os sumos, tudo importado e que ficará mais caro do que passar as férias em Bali".

O 'supermi', a tradicionalmente massa indonésia, é um dos produtos mais consumidos em Timor-Leste.

Xanana Gusmão referiu-se à dificuldade de acesso ao crédito, com juros elevados, retomando uma ideia antiga sua de estimular a criação de um Banco de Crédito em Timor-Leste.

"Os investidores que vinham constantemente a Timor-Leste e estavam realmente muito interessados na iniciativa, aplicaram o seu desejo de investimento ao Banco Central de Timor-Leste, que, entretanto, reparou nalgumas falhas, eu diria técnicas, o que atrasou tudo, mais ainda dificultado pela pandemia da Covid-1 9", referiu.

"Esses investidores perceberam as exigências que lhes fiz e que eram de iniciar com juros muito baixos, para motivar o crédito e, sobretudo no setor de agricultura, pesca e criação de animais e, para acompanhar o desenvolvimento desses setores, a abertura de créditos a pequenas e médias indústrias", escreve,

O texto surge num contexto de quase pré-campanha para as eleições legislativas previstas para maio próximo, com a máquina política das principais forças já ativa em ações de consolidação em todo o país, incluindo do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), presidido por Xanana Gusmão e atualmente na oposição.

Num recente encontro com militantes e dirigentes do partido, Xanana Gusmão referiu-se à ambição do CNRT -- a conquista de uma maioria absoluta -- afirmando que só aceitará ser novamente primeiro-ministro se tiver esse apoio alargado.

"Se me pedirem só para ser primeiro-ministro eu não aceito, mas se trabalharem comigo eu aceito ser primeiro-ministro", disse.

"Mas com uma pré-condição: se for para trabalhar pela nossa nação e para ganhar a maioria absoluta no parlamento sim", vincou.

Vinte anos depois da restauração da independência (assinalados em maio do ano passado), Xanana Gusmão considera que é necessário analisar de forma premente e com profundidade o estádio de desenvolvimento nacional.

"Depois de 20 anos, independentemente das condições políticas que o país enfrenta, como cidadãos devemos compreender com clareza que o setor da Economia deve agora ocupar as nossas preocupações. A economia é o sangue que dá força e vigor neste processo de desenvolvimento do país. Sem uma economia planeada por um futuro e as dificuldades que enfrentamos, não estaremos capazes de pensar a longo prazo", afirmou.

Um processo, enfatizou, em que todos têm um papel e onde as duas tarefas principais -- "construção do Estado e construção da nação" -- foram, considerou, fragilizadas pelo que considere ser ataques à estrutura constitucional e política.

"Infelizmente, nestes últimos anos, o nosso Estado tornou-se ainda mais frágil, pela constante violação da própria Constituição da República, pela violação de todo o sistema político e financeiro, criando assim as bases para o total desrespeito pela lei e pela ordem jurídica e enfraquecendo o nosso Estado de Direito democrático", escreve.

"O que transpareceu desses comportamentos políticos, deploráveis e inaceitáveis, é a ambição do poder para a satisfação pessoal e pelos interesses dos partidos, em detrimento dos interesses nacionais", sublinhou.

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