Horas depois da invasão por apoiantes de Jair Bolsonaro nas sedes dos três poderes do Estado brasileiro, no domingo, o jornal Folha de São Paulo publicou um editorial em que descreveu com fortes palavras os invasores, apelando a consequências na justiça contra quem "afronta a democracia".
No texto de opinião, assinado pelo jornal, é dito que "o punhado de imbecis criminosos que vandalizou prédios da cúpula dos três poderes em Brasília não conta com o apoio da imensa maioria da sociedade brasileira, que endossa os valores democráticos e respeita o resultado das urnas".
Deixando críticas diretas à propagação de notícias falsas sobre fraude eleitoral, especialmente por parte de Jair Bolsonaro - um ex-presidente que, diz o texto, "se escafedeu em silêncio para o exterior" -, a Folha deixa claro que os atos de "cobardia, estupidez e espírito de manada" não vão derrubar a democracia brasileira. "As instituições do Estado de Direito, que se fortalecem há quatro décadas, estão a salvo da boçalidade de poucos vândalos", afirma.
O jornal, um dos mais prestigiados do país, assume um tom ríspido, ao declarar que "a marcha dos idiotas será em um futuro próximo apenas um parágrafo vexatório da história do país".
O que a Folha pensa: Punhado de idiotas https://t.co/qeuFuWjcVR
— Folha de S.Paulo (@folha) January 8, 2023
"Não pode, no entanto, ser minimizada agora. O que fizeram os arruaceiros de Brasília, por patéticos que se mostrem, foi gravíssimo", realça.
Assim, a Folha de São Paulo apela que "os líderes da malta" sejam "identificados, investigados e punidos nos limites máximos da lei", nomeadamente "eventuais financiadores e apoiadores instalados em cargos públicos, idem, com agravantes".
"A desídia das forças de segurança, em particular do governo do Distrito Federal, é indesculpável e merece apuração rigorosa. O governador Ibaneis Rocha (MDB), um bolsonarista dissimulado, exonerou o secretário responsável, Anderson Torres, ex-ministro e sabujo de Jair Bolsonaro (PL). É pouco", refere ainda o jornal, relativamente à aparente conivência por parte das forças de segurança em Brasília. De recordar que várias imagens circularam nas redes sociais de polícias a tirar fotografias com os invasores, permitindo a livre circulação de milhares de pessoas para o interior do Palácio do Planalto.
Entretanto, o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, afastou o governador do Distrito Federal durante 90 dias, apontando para uma "conduta dolosamente omissiva".
Numa nota final, a Folha de São Paulo acrescenta que as autoridades, o governo e Lula da Silva devem "demonstrar à população que a normalidade democrática está e será preservada, a despeito de rosnados de minorias raivosas que imitam os derrotados do Capitólio americano".
"O país tem problemas mais importantes a enfrentar", remata.
Até esta madrugada, as autoridades tinham detido cerca de 300 pessoas pela invasão e vandalização no Congresso, no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal.
Enquanto Lula da Silva condenou os atacantes num discurso inflamado, considerando os invasores "nazistas, fascistas e vândalos", o ex-presidente demarcou-se da violência e falou em acusações "sem provas".
Leia Também: AO MINUTO: Bolsonaristas roubaram armas; Governador afastado