"Com detalhes minuciosos, este resumo executivo documenta a conspiração sinistra para subverter o Congresso, rasgar a Constituição e interromper a transferência pacífica de poder. O comité chegou a conclusões importantes sobre as evidências que desenvolveu e eu respeito essas descobertas", disse a Democrata num comunicado enviado à imprensa local.
Pelosi pronunciou-se logo após a última reunião da comissão que ao longo de 18 meses investigou o ataque ao Capitólio norte-americano e que acusou o ex-presidente Donald Trump de quatro crimes: incitamento à insurreição, conspiração para fraude, obstrução de ato do Congresso e falsas declarações, encaminhando o processo ao Departamento de Justiça.
"Os nossos fundadores deixaram claro que, nos Estados Unidos da América, ninguém está acima da lei. Este princípio fundamental permanece inequivocamente verdadeiro e a justiça deve ser feita", acrescentou Nancy Pelosi, que anunciou no mês passado a sua saída da liderança Democrata no Congresso norte-americano, após a confirmação que os Republicanos venceram a corrida pela maioria da câmara baixa, na sequência das eleições intercalares.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse hoje numa conferência de imprensa que o Presidente norte-americano, Joe Biden, tem sido "muito claro" sobre os impactos do ataque ao Capitólio, avaliando que a "Democracia permanece ameaçada" no país.
Entre as vozes que comentaram hoje as ações de Donald Trump está o governador do estado de Maryland, Larry Hogan, um Republicano que avalia a uma candidatura à Casa Branca em 2024 e que disse acreditar que o ex-chefe de Estado está "no ponto mais baixo da sua história", classificando o dia 6 de janeiro de 2021 como "um dos dias mais sombrios da história americana".
Em entrevista à Associated Press pouco antes de o comité divulgar as suas conclusões, Hogan disse acreditar que o ex-presidente deveria ser responsabilizado, depois de "inflamar uma espécie de multidão turbulenta para atacar a sede da democracia" dos Estados Unidos.
No entanto, o governador não especificou como é que Trump deveria ser responsabilizado.
"Não sou advogado e não sei que tipo de responsabilidade legal ele deveria ter, mas achei que foi um dos dias mais sombrios da história americana. As pessoas que tentam encobrir o 6 de janeiro como se nada tivesse acontecido estão a delirar. Foi um atentado à democracia", afirmou o Republicano.
Numa reunião final na tarde de hoje, os sete Democratas e dois Republicanos que integram a comissão recomendaram de forma unânime acusações criminais contra Trump e associados que o ajudaram a lançar uma campanha multifacetada para tentar travar a eleição de 2020.
Ao encerrar uma das investigações do Congresso mais exaustivas da história norte-americana, a comissão concluiu que Donald Trump tentou subverter a transferência do poder presidencial para Joe Biden - primeiro pressionando aliados em todos os níveis do Governo e depois com a ajuda de uma multidão violenta.
Donald Trump "perdeu a eleição de 2020 e sabia disso, mas escolheu tentar permanecer no poder", disse o Democrata Bennie Thompson, chefe da comissão, na abertura da reunião, à qual se seguiu a exibição de um vídeo com muitos dos momentos-chave da investigação, como imagens da violência dentro do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
"Temos toda a confiança de que o trabalho desta comissão ajudará a fornecer um guião para a justiça", acrescentou Thompson.
Já a 'número dois' na comissão, a Republicana Liz Cheney, avaliou que as ações de Trump em todo este caso mostram que está "inapto" a ocupar um novo cargo público.
O encaminhamento da comissão não têm peso legal, nem obriga a qualquer ação por parte do Departamento de Justiça, que já conduz a sua própria investigação sobre o 6 de janeiro e as ações de Trump e seus aliados que levaram ao ataque.
Contudo, esta longa investigação envia um forte sinal de que uma comissão bipartidária do Congresso acredita que o ex-presidente cometeu crimes.
De acordo com a imprensa norte-americana, esta é a primeira vez na história do país que o Congresso encaminhou um ex-presidente para um processo criminal.
Caberá aos procuradores federais decidir se darão seguimento a eventuais acusações.
Logo após a reunião de hoje, Bennie Thompson disse à rede televisiva CNN que "não tem dúvidas" de que o Departamento de Justiça acusará Donald Trump assim que avaliar as evidências compiladas pelo comité.
"Estou convencido de que agora que divulgamos as nossas informações, eles [Departamento de Justiça] pegarão nelas e prosseguirão com a investigação. Não tenho dúvidas de que, uma vez que a investigação prossiga e seja concluída, se as evidências forem como as apresentamos, o Departamento de Justiça acusará o ex-presidente Trump. Ninguém - incluindo um ex-presidente - está acima da lei", disse o Democrata.
Além de Trump, os nomes de quatro membros do Congresso também foram encaminhados ao Comité de Ética da Câmara dos Representantes pelo seu alegado envolvimento em todo o plano para invalidar a eleição presidencial de 2020.
Em maio último, o comité havia emitido intimações ara o depoimento de Kevin McCarthy - que está compete para se tornar presidente da Câmara dos Representantes em janeiro - assim como dos congressistas Jim Jordan, Scott Perry e Andy Biggs, argumentadi que todos tinham informações cruciais para compartilhar sobre o ataque e as ações de Trump.
Mas todos eles desafiaram essa ordem de depoimentos e documentos, pelo que tiveram agora os seus nomes enviados ao Comité de Ética.
Numa declaração à rede norte-americana NBC News, o porta-voz do deputado Jim Jordan, um dos congressistas visados, criticou o trabalho da comissão.
"Este é apenas mais um golpe partidário e político feito por um comité seletivo que conscientemente alterou as evidências (...) e falhou em responder às inúmeras cartas e preocupações do Sr. Jordan em torno da politização e legitimidade do trabalho do comité", disse Russell Dye.
Em 6 de janeiro de 2021, convocados por Donald Trump, milhares de norte-americanos dirigiram-se a Washington para protestar contra o resultado da eleição presidencial, que deu a vitória a Joe Biden.
Depois de passarem pela polícia, ferindo muitos agentes, os manifestantes invadiram o Capitólio e interromperam a certificação da vitória de Biden, ecoando as alegações infundadas de Trump sobre fraude eleitoral generalizada e levando os congressistas presentes no edifício a esconderem-se ou a fugirem para protegerem as suas vidas.
Cinco pessoas, agentes e invasores, morreram na sequência da invasão.
[Notícia atualizada às 22h36]
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