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Ativista ucraniana premiada quer alargar conceito de genocídio

A ativista dos direitos humanos que representou esta semana no Parlamento Europeu o "corajoso povo ucraniano", vencedor do Prémio Sakharov 2022, garante que a Rússia está a praticar genocídio no seu país e quer ver o conceito atualizado.

Ativista ucraniana premiada quer alargar conceito de genocídio
Notícias ao Minuto

07:18 - 15/12/22 por Lusa

Mundo Nobel da Paz

"O significado de genocídio não está totalmente atualizado no direito internacional, mas é muito lógico: se se quer destruir total ou parcialmente um grupo étnico, não é preciso matar todas as pessoas, pode-se mudar a sua identidade e o grupo desaparecerá", defendeu Oleksandra Matviychuk, em entrevista à Lusa, em Estrasburgo, França.

Presente na sede do Parlamento Europeu, na cidade francesa, como uma das representantes da sociedade civil ucraniana, a advogada de direitos humanos e fundadora do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, que no sábado passado, recebeu o Prémio Nobel da Paz, denuncia que os russos praticam genocídio nos territórios ocupados da Ucrânia.

"Eles proíbem a natureza ucraniana. Fornecem crianças ucranianas para adoções forçadas. Fornecem toda a educação com os chamados padrões russos. Quando falei com professores de uma escola sob ocupação, disseram-me que a primeira coisa que os soldados russos pediram nas escolas foi para lhes entregarem todos os livros de História ucraniana. Portanto, querem apagar na totalidade a identidade ucraniana", descreveu.

Segundo adiantou, a Rússia quer, à força, fazer as pessoas acreditarem que não são ucranianas, são russas.

"Isto é um genocídio, porque se tiverem sucesso nessa política, cumprirão o seu objetivo total ou parcialmente, destruindo grupos étnicos nas suas próprias terras", afirmou.

Para Oleksandra Matviychuk, é preciso desenvolver as leis internacionais e voltar a dar ao conceito de 'genocídio' o significado que foi pensado pelos fundadores do termo.

"Muitos advogados com quem falei avisaram-me que isso é muito difícil porque há poucos precedentes. Mas no século passado também era muito difícil imaginar que haveria uma organização internacional que poderia interferir nos assuntos da vida interna de Estados que violam massivamente os direitos humanos. A ideia também era chocante e foi marginalizada. Por que é que agora ainda temos esta barreira mental?", questionou.

Sublinhando não ter "qualquer dúvida" que a Rússia ocupará outros países se não for travada na Ucrânia, a ativista defendeu que se trata de um problema cultural.

"O problema é que esta não é a guerra do [Presidente da Federação Russa, Vladimir] Putin, é uma guerra da nação russa", defendeu.

Segundo referiu a advogada, "Putin governa o país não apenas com repressão e censura, mas com um contrato social especial baseado na chamada 'glória russa' e na Rússia como uma nação imperialista".

Os russos "acham que a 'glória da Rússia' é restaurar, nem que seja à força, o império soviético. É por isso que concordam com a ida de tropas para território de outros países", disse.

Um conceito que Oleksandra Matviychuk acha "muito difícil explicar para pessoas com outra mentalidade", mas que compara à crença de algumas pessoas de que a Terra não é redonda, mas sim plana.

"Faz parte da cultura russa e merece uma reflexão histórica. Mas isso significa que, se não se conseguir deter Putin na Ucrânia, ele irá mais longe. Só o sucesso da Ucrânia pode levar a Rússia, como nação, a repensar o que é a 'glória russa'", defendeu.

De acordo com a ativista, a 'coragem' do povo ucraniano, que lhe valeu a atribuição pelo Parlamento Europeu do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2022, baseia-se "em valores".

"Estamos a lutar com os russos pela nossa independência há séculos. E quando se tenta fazer uma investigação sociológica para perceber como é que ainda existimos - depois do império russo, depois da União Soviética, depois de Holodomor, que foi o genocídio de milhões de pessoas à fome, depois da repressão, quando os russos mataram toda uma elite de escritores e historiadores --, o que vemos é que as pessoas têm como principal valor a liberdade", argumentou.

"É algo muito difícil de explicar porque não é materializável, tem a ver com espírito", concluiu.

Leia Também: "Se estamos a lutar pela Europa, porque não nos fornecem armas?"

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