"Não lutamos apenas pela Ucrânia, lutamos pela Europa", disse Yarosalv Bozkho, do Movimento de Resistência Fita Amarela, numa intervenção no seminário realizado no PE, na cidade francesa de Estrasburgo.
O seminário coincidiu com a atribuição pelo PE do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento ao povo ucraniano pela sua resistência à invasão lançada pela Rússia em 24 de fevereiro deste ano.
A advogada Oleksandra Matviychuk, fundadora do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, reconheceu ser estranho uma defensora dos direitos humanos e da paz pedir armas, mas justificou que essa "é a única forma de travar os russos".
"Eles acreditam que podem fazer tudo o que quiserem", disse Matviychuk, cuja organização recebeu o prémio Nobel da Paz deste ano, juntamente com o grupo russo de direitos humanos Memorial e Ales Bialiatski, diretor do grupo bielorrusso de direitos humanos Viasna.
A advogada acusou as forças russas de perseguirem os civis e disse que Centro de Liberdades Civis está a tentar documentar todos os alegados crimes cometidos contra os ucranianos.
"Há 20 anos que luto pelos direitos humanos, entrevistei centenas de pessoas, que contam historias horríveis de como foram torturadas e violadas. (...) Mesmo eu, com a minha experiência, não estava preparada para o que tenho ouvido, é demasiado", disse.
Matviychuk insistiu no pedido para que a comunidade internacional tenha consciência do que se está a passar na Ucrânia e coopere na criação de um tribunal para julgar crimes de guerra que disse estarem a ser cometidos pelas tropas russas.
"Queremos que [o Presidente russo, Vladimir] Putin, os comandantes militares e os que cometeram os crimes com as suas próprias mãos sejam levados à justiça, e para isso pedimos ajuda", afirmou.
"Só a justiça poderá devolver a dignidade às vítimas", justificou a advogada de 39 anos.
Matviychuk queixou-se de que muitos políticos de vários países com que tem falado demoram tempo a perceber que é preciso parar a guerra iniciada pela Rússia.
Disse que o líder russo "não tem medo da NATO, mas tem medo da liberdade", e que se não for travado não irá parar na Ucrânia.
"Temos de ser corajosos e parar este comportamento", afirmou, acusando Putin de ter começado a guerra em 2014, quando a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia, e não apenas há cerca de 10 meses.
Ivan Fedorov, presidente eleito da câmara de Melitopol (sul), uma cidade ocupada pela Rússia, agradeceu aos europeus terem acolhido milhões de refugiados ucranianos e todo o apoio político que a União Europeia (UE) tem dado à Ucrânia.
Insistiu, no entanto, que os europeus devem esclarecer o que entendem ser uma vitória da Ucrânia na guerra, alegando que os ucranianos estão a defender os valores da democracia, e não apenas o seu território.
"A Ucrânia tem de ser um país independente e democrático, temos de recuperar todo o nosso território, caso contrário não há futuro para nós", disse o autarca de 34 anos.
Fedorov manifestou-se preocupado com as crianças e os idosos que vivem em Melitopol, referindo que os residentes na cidade da região de Zaporijia não têm acesso a alimentação, a cuidados médicos ou a informação.
A 'designer' e atleta Yulia Paievska, 53 anos, conhecida internacionalmente por ter fundado o serviço voluntário de ambulâncias "Taira's Angels", também acusou a Rússia de cometer crimes de guerra na Ucrânia.
"Há imensos compatriotas meus civis que estão detidos e são torturados, sem assistência médica, sem informação, sem que seja respeitada uma regra que seja da lei internacional sobre prisioneiros de guerra", denunciou.
Paievska esteve presa entre março e junho, tendo sido sujeita a torturas, cujos pormenores não quis partilhar no seminário, apesar de um jornalista lho ter pedido.
"Já informei [as autoridades] sobre o que sofri, baterem-me e usaram instrumentos elétricos, não vou dizer mais nada", referiu apenas.
O diretor dos serviços de emergência e socorro da Ucrânia, coronel Oleksandr Chekryhin, referiu-se às dificuldades nas operações para tentar salvar civis em cidades bombardeadas pelas forças russas e acusou Moscovo de mentir sobre as suas operações visarem apenas alvos militares.
As informações sobre a situação na Ucrânia divulgadas pelas duas partes não podem ser verificadas de imediato de forma independente, mas a ONU também acusou as forças russas de cometerem alegadamente crimes de guerra e contra a humanidade.
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