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Mães russas: "Ansiedade pelo futuro dos filhos mais forte que nunca"

Com o apoio de membros da Resistência Feminista Anti-guerra (FAR, na sigla em inglês), as mães de soldados e recrutas das forças de Moscovo denunciaram o conflito que traz, há nove meses, "destruição, luto, sangue e lágrimas".

Mães russas: "Ansiedade pelo futuro dos filhos mais forte que nunca"

Em pleno Dia da Mãe, celebrado a 27 de novembro, as progenitoras russas lançaram uma petição contra a “operação militar especial” lançada na Ucrânia pelo presidente Vladimir Putin, exigindo “a retirada das tropas do território da Ucrânia, e o regresso de todos os soldados a casa”.

Com o apoio de membros da Resistência Feminista Anti-guerra (FAR, na sigla em inglês), as mães de soldados e recrutas das forças de Moscovo apontaram que o conflito “traz destruição, luto, sangue e lágrimas” há nove meses, unindo “as mães da Rússia […] num desejo: viver em paz e harmonia, criar os nossos filhos sob um céu de paz e não ter medo do seu futuro”, lê-se na petição destinada à presidente do Comité de Política Social do Conselho da Rússia, Inna Yuryevna, e à responsável pela pasta da Família, Mulheres e Crianças no país, Ostanina Alexandrovna.

"O estado encoraja-nos a dar à luz, mas depois atira-nos para a pobreza ou sacrifica os nossos filhos pelas suas ambições"

Nós, mães, estamos numa posição difícil e vulnerável. Apesar de todas as promessas de apoio do estado, o padrão de vida está a diminuir e a pobreza bate à porta da grande maioria das famílias russas”, complementaram, assegurando que “a situação só piora” desde o brotar do conflito, a 24 de fevereiro

“As sanções impostas pela operação militar na Ucrânia levaram a um aumento da inflação e, nesse contexto, o capital da mãe e todos os benefícios, que mal eram suficientes, estão a dissipar-se. [...] O estado encoraja-nos a dar à luz, mas depois atira-nos para a pobreza ou sacrifica os nossos filhos pelas suas ambições”, acusaram, lançando que a reintrodução do título de “mãe-heroína” garante somente “uma vida abaixo do limiar da pobreza para as mulheres”.

Não precisamos de títulos inúteis, precisamos de medidas reais que nos proporcionem uma vida digna!”, defenderam.

Nessa linha, condenaram “o dinheiro gasto todos os dias” no conflito, que poderia ser investido no seu bem-estar. “Mas, em vez de novos jardins de infância, maternidades, escolas e hospitais, recebemos apenas conversas vazias sem fim, na TV, sobre o nosso ‘sucesso’ e ‘grandeza’”, lançaram.

Citando o presidente russo, que disse que 318 mil homens foram mobilizados para a guerra na Ucrânia, até ao momento, as mães questionaram quem sustentará os dependentes dos soldados, lançando, logo de seguida, que “todas [as] adversidades serão um fardo adicional para os [seus] ombros já sobrecarregados”, uma vez que “muitos dos homens sobreviventes perderão a sua saúde e capacidade: o nosso estado também confiará o seu cuidado às mulheres, apenas em palavras prometendo apoio e benefícios”, indicaram.

"A ansiedade pelo futuro dos nossos filhos está mais forte do que nunca. O mundo em que viverão depende muito das decisões que nós, adultos, tomamos hoje"

“As autoridades demonstram a sua verdadeira atitude para com as mães. A voz das mães no nosso país só é necessária nas eleições: quando é bom para o estado, lembram-se de nós. No resto do tempo, ficamos sozinhas com os nossos problemas, com a nossa dor. E o nosso governo simplesmente não aceita os corpos mutilados dos nossos parentes mortos. São deixados numa terra estrangeira e não pertencem às suas famílias, mesmo após a sua terrível morte”, denunciaram.

Além do conflito e dos problemas económicos que surgiram em virtude deste, o grupo deu também conta do aumento da violência doméstica, face um cenário de “pobreza e incerteza do futuro”. Contudo, apesar das tentativas, nenhum projeto de lei foi aprovado pela Duma, em 10 anos.

"A ansiedade pelo futuro dos nossos filhos está mais forte do que nunca. O mundo em que viverão depende muito das decisões que nós, adultos, tomamos hoje. Alusões constantes da alta liderança do país à possibilidade de usar armas nucleares geram desespero e medo nas nossas almas pelo destino dos nossos filhos", consideraram, acusando que a “ação militar é sempre um desastre, por mais que seja oficialmente convocada”.

"Estamos horrorizadas com o que está a acontecer. Somos contra a participação dos nossos filhos, irmãos, maridos e pais [neste conflito]. Nós próprias não queremos participar nisto - afinal, entre as mulheres há médicas passíveis de serviço militar", acrescentaram, apontando o dedo diretamente àqueles que "fecham os olhos" por ter os seus entes queridos "protegidos".

Na mesma linha, as progenitoras argumentaram que "o apoio a uma ação militar agressiva é incompatível com a proteção da família, das mulheres e das crianças", razão pela qual escolheram este dia para apelar junto dos governantes russos para que se lembrem "do seu dever e das promessas de campanha que fizeram aos eleitores", usando, por isso, "toda a sua influência para acabar com as hostilidades o mais rápido possível".

Recorde-se que, na sexta-feira, o presidente russo esteve reunido com 17 mães de soldados que lutam na Ucrânia, para assinalar o Dia da Mãe. Nesse encontro, que decorreu na sua residência em Novo-Ogaryovo, nos arredores de Moscovo, o chefe de Estado assegurou entender a ansiedade e a preocupação das progenitoras, assim como a dor daquelas que perderam filhos na Ucrânia.

Contudo, o responsável apontou que não se arrepende de lançar a chamada "operação militar especial" contra aquele país, e exortou as mães a não confiar no que leem na Internet, onde “há todo tipo de falsificação, engano, mentira”. No final, as mulheres foram autorizadas a colocar questões, mas nem isso decorreu sem o controlo do Kremlin.

Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva russa na Ucrânia já causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, de acordo com os mais recentes dados da Organização das Nações Unidas, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A entidade confirmou ainda que já morreram 6.595 civis desde o início da guerra e 10.189 ficaram feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.

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