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Único deputado italiano de origem africana critica tratamento a migrantes

O único deputado italiano de origem africana criticou as escolhas do Governo de Giorgia Meloni na recusa de desembarque de migrantes resgatados, chamando-lhe uma conduta "desumana e ilegal".

Único deputado italiano de origem africana critica tratamento a migrantes
Notícias ao Minuto

08:30 - 13/11/22 por Lusa

Mundo Itália

O deputado da Federação dos Verdes, Aboubakar Soumahoro, considerou que "o Governo adotou uma linha de desvio desumana e ilegal que levou Itália a ser convocada pela ONU e pela União Europeia por violar os direitos humanos".

Soumahoro, um ex-trabalhador agrícola e ex-sindicalista que se tornou conhecido pelo compromisso contra a contração ilegal nas campanhas agrícolas no sul de Itália.

No primeiro dia da abertura do novo parlamento, apresentou-se no tribunal com um par de botas verdes de borracha, sujas de terra, como "símbolo do sofrimento e da esperança do país real e em memória dos mortos no trabalho".

Na Itália, o protocolo prevê a obrigatoriedade do uso de fato, mas não há disposições sobre sapatos.

O novo Governo italiano, de extrema-direita, bloqueou, esta semana, o acesso de navios de resgate humanitário aos seus portos, deixando centenas de migrantes vários dias no mar à espera de ajuda e criando tensão sobretudo com França.

As organizações não-governamentais e vários especialistas em direitos humanos e direito internacional defendem que as nações costeiras são legalmente obrigadas a resgatar pessoas em perigo e a fornecer um local seguro para o desembarque de migrantes.

No entanto, a Itália afirma que os países de bandeira dos navios são os responsáveis por receber os migrantes e que os navios de resgate apenas incentivam o tráfico de pessoas.

Na quinta-feira, a França acabou por dizer que recolhia os migrantes, sublinhando que a situação tinha "caráter excecional" e que implicava sanções para Itália.

Soumahoro embarcou num dos navios parados no porto de Catania para verificar as condições de saúde dos migrantes antes de os médicos decidirem desembarcar 250 pessoas.

"O governo italiano agiu num contexto de total ilegalidade. A nossa constituição estabelece que o sistema político italiano está de acordo com as regras do direito internacional e o direito internacional diz que os náufragos devem ser desembarcados no porto seguro mais próximo. Não podemos devolver os navios carregados», salientou Soumahoro.

O ministro do Interior, Matteo Piantedosi tentou trabalhar para encontrar na malha da lei um sistema para impedir o desembarque sem ser acusado de sequestro, como aconteceu com o ex-ministro do Interior e líder da Liga - partido que integra a coligação de direita e extrema-direita-, Matteo Salvini.

Piantedosi esperou dias antes de atribuir um "porto seguro" aos navios carregados de migrantes e um destes, o Ocean Viking, pediu ajuda a outros países europeus.

O governo francês criticou duramente o comportamento do governo italiano, enquanto a Comissão Europeia pediu que os migrantes a bordo desse navio fossem "todos desembarcados imediatamente no local seguro mais próximo".

Para a Comissão, "a situação a bordo do navio tinha atingido "um nível crítico" e devia ser tratada com urgência para evitar "uma tragédia humanitária".

Segundo a jornalista política do diário Libero, de centro-direita, Paola Tommasi, existe uma relação entre a crise migratória e a elaboração da lei orçamental.

"Essas polémicas surgem sempre quando se discutem questões económicas e surge a dúvida de que a Europa queira conceder a flexibilidade económica da dívida pública tão solicitada pela Itália apenas em troca do acolhimento de migrantes. Enquanto o que o governo quer é que os migrantes sejam redistribuídos por toda a Europa".

Segundo analistas, a linha do governo é sempre a mesma do passado: "ajudá-los em casa", um slogan muito usado pelo centro-direita italiana já nos últimos anos.

"O governo gostaria de criar condições nos países de origem para que essas pessoas não saiam, mas decidam ficar em seus países", adiantou Tommasi.

Leia Também: Caso 'Ocean Viking' mostra necessidade de "política migratória única"

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