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Irão. Manifestações estão a ser instigadas por opositores, diz embaixador

O embaixador do Irão em Lisboa acusa "algumas figuras do país e de fora dele" que estão "contra o Governo" de instigarem as manifestações de protesto pela morte de uma jovem detida pela polícia dos costumes em Teerão.

Irão. Manifestações estão a ser instigadas por opositores, diz embaixador
Notícias ao Minuto

08:28 - 02/10/22 por Lusa

Mundo Morteza Damanpak Jami

"Infelizmente, algumas figuras no país, aqueles que estão contra o Governo, tentam aproveitar-se deste tipo de situações e apropriaram-se dos protestos, tornando-os violentos. Em dois ou três dias, emergiu a violência. Alguns foram detidos pela polícia na posse de facas e de armas. A polícia não tem facas e só dispõe de armas com balas de borracha. Alguns agentes da polícia foram mortos com facas e com balas reais. Depois atacaram bancos, mesquitas, edifícios religiosos, empresas privadas, enfim, houve uma disrupção na sociedade", afirmou Jami.

Segundo a organização não-governamental (ONG) Iran Human Rights, com sede em Oslo, até sexta-feira, pelo menos 83 pessoas tinham morrido no Irão durante os protestos iniciados há duas semanas pela morte de uma jovem detida pela polícia.

Mahsa Amini, de 22 anos e originária do Curdistão (noroeste), foi detida pela polícia da moralidade a 13 de setembro em Teerão, por "vestir roupas inadequadas", tendo morrido três dias depois num hospital quando ainda estava sob custódia policial.

A unidade é responsável por fazer cumprir o rígido código de vestuário no Irão, onde as mulheres devem cobrir os seus cabelos e não é permitido usar roupas curtas ou apertadas, entre outras proibições. 

No mesmo dia, gerou-se um movimento de protesto que se espalhou por várias cidades do país, onde manifestantes gritaram frases antigovernamentais, segundo a imprensa local.

Nas declarações à Lusa, Jami acrescentou que as instigações veem também de fora do país, nomeadamente de comentadores que, nas televisões britânicas, apoiadas pela administração norte-americana, "começaram a 'bombardear' notícias a dizer ter chegado a hora de uma nova revolução".

Esses comentadores, acrescentou, exigem mudanças na lei do emprego e no comportamento da polícia da moralidade, "o que tem desencadeado violência" com o objetivo de "obrigar o sistema a cair".

"Inicialmente, há 10 dias, não era um protesto nacional. Eram protestos pequenos e pacíficos em Teerão e noutras cidades. As nossas leis permitem reuniões de protesto, até contra o governo. Nessa altura, as forças da ordem foram bastante pacíficas em relação aos protestos", defendeu Jami.

Sobre o que está na base dos protestos, o diplomata iraniano admitiu, porém, tratar-se de um "incidente triste e lamentável".

"Isto aconteceu a uma jovem, oriunda de uma pequena localidade, que veio a Teerão para visitar a família e que não estava vestida decentemente, sem o 'hijab', de acordo com o que disse a polícia da moralidade. Aconteceu algo que preocupa muitos iranianos. Todos ficaram preocupados com o incidente", sublinhou Jami, lembrando que até o Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, exigiu uma investigação ao incidente.

Segundo o diplomara iraniano, foi criada uma comissão especial para investigar o incidente, que elaborará um relatório e entregá-lo-á às autoridades judiciárias.

"Se houver má conduta, ou crime, as autoridades e responsáveis serão julgados. A imprensa tem exagerado e empolado [a situação] e todos devem aguardar pelos resultados da investigação", referiu.

Questionado pela Lusa sobre a necessidade de, no Irão, ainda existir uma polícia da moralidade, Jami admitiu que já há uma força de segurança responsável pela segurança da sociedade, que poderia garantir as competências de moralização.

"Uma mulher que não cumpriu a vestimenta correta não pode ser vista como uma criminosa. Essa discussão entrou na nossa imprensa, na nossa sociedade e algumas personalidades têm pedido uma revisão à forma como se poderá lidar com tudo isto, porque se trata de uma questão cultural. Talvez devessem existir outros métodos, outros órgãos para analisar e responsabilizarem-se por estas questões", declarou.

Jami afirmou-se convicto de que, após o fim dos protestos, "regressará a calma e a tranquilidade" e que, depois, poderá haver uma "grande revisão da lei sobre a polícia da moralidade", lembrando que alguns deputados iranianos já defenderam que o Parlamento deveria envolver-se na questão.

Sobre o encontro que manteve, quarta-feira, no Ministério dos Negócios Estrangeiros português, onde foi recebido pelo Diretor-Geral de Política Externa, Rui Vinhas, o diplomata disse ter ouvido as preocupações de Portugal face aos protestos e à violência.

Na ocasião, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Rui Vinhas transmitiu a Jami a "firme condenação de Portugal pelo uso desnecessário e desproporcionado da força contra manifestantes pacíficos e pelas detenções e mortes daí resultantes".

"Tenho encontros frequentes com diplomatas portugueses, em que analisamos as relações, revemos processos, analisamos a forma como enfrentar eventuais problemas e remover obstáculos. O encontro de quarta-feira foi, de facto, sobre a questão dos protestos. Foi um encontro muito aberto e franco. Explicamos a nossa posição e Portugal expressou preocupação quanto à situação", explicou.

O embaixador do Irão no entanto, voltou a responsabilizar alguns países europeus, que não nomeou, por estarem a "tentar apoiar uma disrupção e a apoiar a violência, o que é lamentável".

"Disse no encontro [com Rui Vinhas] que se trata de uma violação aos assuntos internos por parte de um país terceiro.

Leia Também: Manifestantes denunciaram repressão violenta sobre ativistas no Irão

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