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Eleições na Bósnia-Herzegovina acentuam fosso entre partidos e população

As eleições gerais que decorrem domingo na Bósnia-Herzegovina, dividida em duas entidades, vão estar centradas na corrida para a presidência colegial, e em particular na disputa para a liderança da Republika Srpska (RS), a entidade sérvia bósnia.

Eleições na Bósnia-Herzegovina acentuam fosso entre partidos e população
Notícias ao Minuto

11:53 - 01/10/22 por Lusa

Mundo Bósnia-Herzegovina

No escrutínio, os eleitores são chamados a escolher os três novos membros da presidência tripartida do país - um bosníaco [muçulmano], um sérvio e um croata bósnios - e ainda o presidente da RS, os 42 deputados da Câmara de Representante da Bósnia-Herzegovina, a Assembleia Popular (parlamento) da entidade sérvia, o parlamento da Federação da Bósnia-Herzegovina (que inclui bosníacos e croatas) e as assembleias dos dez cantões da federação.

Este complexo processo eleitoral foi herdado dos acordos de paz de Dayton, assinados em finais de 1995 pondo termo a três anos e meio de violenta guerra civil e que promoveram a emergência das duas entidades, com o reconhecimento dos seus "três povos constituintes".

O fosso entre o 'jogo' político e as preocupações dos cidadãos tem-se acentuado, num país com cerca de 3,4 milhões habitantes e onde perto de 145 formações se apresentam aos diferentes escrutínios, mas com predomínio dos três grandes partidos etno-nacionalistas que continuam a insistir na "pertença étnica".

Nos últimos meses a situação económica degradou-se consideravelmente, num país pobre e com elevada taxa de desemprego, e emigração. Com a pandemia e a invasão russa da Ucrânia, o custo de vida e o preço da eletricidade aumentaram consideravelmente, mas com poucas medidas concretas avançadas pelos candidatos para ajudar a população a enfrentar o inverno.

A contenda eleitoral na Republika Srpska assume uma importância particular, porque será o novo presidente a designar o futuro primeiro-ministro, que formará o próximo governo da entidade que tem sido acusada de deriva secessionista.

A Federação Bósnia vai eleger dois membros para a presidência do país, que representam os croatas bósnios e os bosníacos, mas os eleitores deverão optar por duas listas.

Denis Becirovic, do Partido Social-Democrata da Bósnia-Herzegovina, apoiado por um amplo bloco da oposição dominado por três partidos, será o principal adversário de Bakir Izetbegovic, de novo designado pelo Partido de Ação Democrática (SDA), fundado por seu pai Alija Izetbegovic, líder dos bosníacos durante a guerra.

As sondagens têm admitido uma vitória de Becirovic, pelo facto de ser apoiado por uma coligação alargada, que também inclui a União para um Futuro Melhor (SBB) de Fahrudin Radoncic e algumas forças regionais.

De acordo com diversos analistas, responsáveis ocidentais terão sugerido que Bakir Izetbegovic não deveria apresentar-se a este escrutínio e retirar-se "discretamente", mas este recusou a sugestão.

Pelo contrário, o líder da União Democrática Croata da Bósnia-Herzegovina (HDZ-BiH), Dragan Covic, foi aconselhado a fazer o mesmo e aceitou. Já o líder da Aliança de Sociais-Democratas Independentes (SNSD) Milorad Dodik, o líder da RS, também decidiu voltar a concorrer à liderança da sua entidade.

Os principais países ocidentais envolvidos na região dos Balcãs, com destaque para os Estados Unidos e Reino Unido, definem Izetbegovic, Covic e Dodik como os principais promotores das políticas abertamente nacionalistas e os responsáveis pela prevalência das disfuncionais instituições bósnias, que bloqueiam o processo de aproximação à União Europeia, para além da profunda corrupção nas duas entidades, que justificaria o seu afastamento.

Na sequência da desistência de Covic, o HDZ bósnio designou Borjana Kristo como candidata para o lugar dos croatas na presidência bósnia, que na sua entidade disputa o lugar com Zeljko Komsic, da oposição interna.

A RS, uma unidade eleitoral separada, elege apenas um membro para a presidência colegial, com dois principais candidatos, Zeljka Cvijanovic, do SNSD de Dodik, e Mirco Sarovic, do Partido Democrático Sérvio (SDS).

No entanto, para os sérvios bósnios, a eleição de um seu representante para a presidência é menos importante que a corrida para a liderança da entidade, onde Dodik se confronta com Jelena Trivic, economista, membro do parlamento da RS, líder do Partido do Progresso Democrático (PDP) e apoiada pela oposição interna.

As últimas sondagens indicam uma vantagem de dez pontos para Trivic, um sério desafio para o dirigente nacionalista que dirige a RS desde 2006, e que ultimamente tentou restaurar os poderes da entidade que foram transferidos para o Governo central e agitou o espetro da secessão.

Estas promessas não foram cumpridas, também pela firme oposição do alto representante internacional, enquanto floresceram a corrupção e o crime organizado numa entidade onde a pobreza tem aumentado entre a população, com milhares a optarem pela emigração, um fenómeno generalizado nos Balcãs.

A campanha de Dodik centrou-se na contestação da viabilidade da Bósnia-Herzegovina enquanto Estado e na afirmação da identidade da RS. As suas posições "pró-russas" e as quezílias diárias com o ocidente foram um motivo recorrente da campanha, através da associação da oposição às lideranças de Washington, Londres e Berlim que "pretendem destruir" a RS.

A última cartada de Dodik foi uma visita a Moscovo, onde se encontrou com o Presidente Vladimir Putin, uma deslocação que poderá não ser suficiente para se manter na liderança da entidade.

A função do Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, é muito importante nesta disputa pela liderança da Republica Srpska, com o Governo da RS e a oposição a pretenderem o seu apoio.

Numa recente visita a Bijeljina, norte da RS, Vucic prometeu "não interferir" nas eleições, pelo facto de manter boas relações com a atual liderança e representantes da oposição, e remeteu a decisão para o "povo da Republika Srpska".

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