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"A Rússia precisa de um sinal". Navalny e a "obsessão sangrenta" do país

O opositor ao regime do presidente da Rússia sublinha, num artigo de opinião publicado no Washington Post, que os países do Ocidente têm que dar "um sinal" à Rússia e fala ainda do vice-presidente do Conselho de Segurança, Dmitry Medvedev, que diz ser "uma caricatura de Putin".

"A Rússia precisa de um sinal". Navalny e a "obsessão sangrenta" do país

O opositor ao regime russo Alexei Navalny, que se encontra detido numa prisão de máxima segurança defendeu, num artigo publicado esta terça-feira no Washington Post, que o "futuro modelo da Rússia não é 'um poder forte' ou uma 'mão firme', mas sim a harmonia e consideração pelos interesses de toda a sociedade".

O ativista escreveu que o caminho para a paz não depende apenas das ações da Rússia, nomeadamente, no que diz respeito ao cumprimento de uma democracia parlamentar no país. Navalny sublinhou que  os "russos são livres de seguir o caminho que querem para o desenvolvimento", mas que os países do Ocidente também são responsáveis por decidir sobre que tipo de "relações com a Rússia" querem manter.

O responsável afirmou que este "erro" já foi cometido na década de 90, perante um mundo pós-soviético. Na sua opinião, o Ocidente não pode pedir à Rússia para "controlar as armas nucleares" e dizer-lhes que "para fazerem o que quiserem por aí", quanto também lhes pedem que o fornecimento de gás e petróleo.

"A Rússia precisa de um sinal"

Repetindo a posição adotada no final do século passado, haverá vozes que dirão que a missão "ficou cumprida", no entanto, Navalny sublinha como resultado, houve o conflito na Crimeia - que se estendeu na guerra de 2022.

"A Rússia precisa de um sinal para perceber por que razão" a democracia parlamentar é "a melhor opção", referiu, explicando que, desta forma, "dá-lhes oportunidade para manterem a influência e lutar pelo poder enquanto garantem que não são destruídos por grandes grupos". A democracia parlamentar será, de acordo com Navalny, a escolha "racional e desejável" para muitas fações políticas à volta de Putin.

O Império russo ficou para trás?

Para além de uma eventual atuação dos países ocidentais na resolução deste conflito, Navalny, que foi condenado a sete anos de prisão, nota ainda a importância que o imperialismo da Rússia tem nesta guerra.

"A inveja da Ucrânia e do seu possível sucesso é uma característica inata do poder pós-soviético na Rússia", escreve, clarificando que este sentimento não é algo característico de Putin, já existindo na altura em que Boris Yealtsin, o primeiro-presidente do país, subiu ao poder.

"O falhanço da Ucrânia como Estado é não só uma obsessão duradoura de Putin, como para os políticos da sua geração", reitera, explicando que existe um "ódio" por parte das elites quando o assunto é a busca da Ucrânia pelos valores da União Europeia.

A maioria dos residentes de Moscovo e São Petersburgo , assim como os mais novos, são críticos da guerra e desta histeria imperial. O horror do sofrimento dos ucranianos e as mortes brutais de inocentes ressoam nos corações destes eleitores".

O ativista fala ainda da visão imperialista, que ainda está muito presente na Rússia - não só nas elites, mas também nos vários setores da sociedade. É essa visão que, no entender de Navalny, está a fé de alguns russos - e é nessa mesma visão que existe uma "Ucrânia subordinada" que "faz renascer a URSS [União Soviética] e o império". "Sem ela, a Rússia é um país sem possibilidade de dominação a nível mundial. [Com ela] Tudo aquilo que a Ucrânia tem vindo a ganhar, é algo que a Rússia vai perdendo", explica.

O russo aponta ainda a forma contrastante como a guerra é vista do país no Ocidente. "Aqui, a guerra é sempre sobre o sucesso e lucro", nota, explicando que sob a visão russa haverá sempre um líder ocidental - até porque estes  vão mudando - que "irá ter com o país" mais cedo ou mais tarde. "Não interessa aquilo que os move - os votos ou a busca por um prémio Nobel da Paz -, mas se mostrares alguma resistência e persistência, o Ocidente virá ter connosco para alcançara  paz. [Contrariamente à Rússia] No Ocidente, há quem perca apoio", desconstrói Navalny.

O ativista aponta as elites como principais 'motores' desta guerra, e acaba por fazer uma clara distinção entre quem apoia e não apoia este conflito. "É ingénuo pensar que a mudança de Putin por outro membro da elite vai mudar a visão da guerra", refere, exemplificando com o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia - antigo presidente e primeiro-ministro -, Dmitry Medvedev, que, nas palavras de Navalny, "parece uma caricatura de Putin" devido as declarações "tão agressivas" que faz.

Mas para além das elites, esta "obsessão sangrenta" não irá muito longe, na perspetiva de Navalny. "Caso contrário, Putin não teria que falar numa 'operação militar especial'", ou em "proibir o uso da palavra guerra". "Os imperialistas agressivos não têm dominância absoluta [...]. A maioria dos residentes de Moscovo e São Petersburgo , assim como os mais novos, são críticos da guerra e desta histeria imperial. O horror do sofrimentos dos ucranianos e as mortes brutas de inocentes ressoam nos corações destes eleitores".

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