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Propostas económicas mostram visões antagónicas sobre o papel do Estado

Os dois candidatos à Presidência do Brasil prometem reavivar a economia e mais crescimento na maior economia da América Latina, mas o caminho para a prosperidade mostra duas visões muito diferentes sobre o papel do Governo.

Propostas económicas mostram visões antagónicas sobre o papel do Estado
Notícias ao Minuto

10:08 - 27/09/22 por Lusa

Mundo Brasil

Luiz Inácio 'Lula' da Silva, um antigo sindicalista que liderou o Brasil entre 2003 e 2010, tem uma visão mais intervencionista, colocando o Estado no centro das decisões de políticas e usando as finanças públicas para impulsionar o crescimento económico, principalmente através de novas infraestruturas.

Jair Bolsonaro, pelo contrário, defende o mercado livre e promete continuar a agenda reformista favorável à melhoria do ambiente empresarial, deixando o seu ministro das Finanças, Paulo Guedes, manter o foco na redução da burocracia, na promoção das privatizações e na simplificação das leis laborais, escreveu o Financial Times num longo artigo sobre as eleições no maior país da lusofonia.

Durante o mandato de Lula, o Brasil conseguiu taxas de crescimento económico assinaláveis, ultrapassando os 6% nalguns anos da primeira década deste século, mas o pior veio depois: a sucessora pessoalmente escolhida por Lula para Presidente, Dilma Rousseff, foi impugnada, a economia afundou-se, a pobreza subiu e foi desvendado o escândalo financeiro do 'Mensalão', que abalou o país acabou por atingir o próprio Lula, que passou quase dois anos preso.

De acordo com a ronda de contactos com os investidores feita pela agência de informação financeira Bloomberg, Lula, mesmo sendo de esquerda, não é um Presidente que inspire receio nos investidores estrangeiros, antes pelo contrário.

"Com o líder trabalhista a centímetros de conseguir uma recuperação estonteante, com todas as sondagens a dar-lhe a liderança nas urnas, os investidores estão divididos entre os locais, que o odeiam, e os estrangeiros, que acolhem favoravelmente o seu regresso", escreve a Bloomberg.

Se o Brasil registou uma taxa média de crescimento acima de 4% entre 2006 e 2011, desde então o país só no ano passado terá conseguido ultrapassar os 4% de expansão económica, e muito à custa do efeito da recessão no ano anterior, motivada pela pandemia, o que faz com que o crescimento médio anual desde 2010 tenha sido uns magros 0,1%.

Os estrangeiros, sintetiza a Bloomberg, vincam-se no início dos anos 2000, quando o mercado estava em alta, e escolhem lembrar-se nos lucros de dois dígitos que garantiram nessa altura, ao passo que a comunidade financeira local escolhe focar-se na indumentária de presidiário de Lula e lembram sem saudade a quebra do crescimento nos primeiros anos da década passada, que foi afundando até uma recessão de 3,5% em 2015.

"Ambas as visões são verdadeiras. Lula foi realmente a face do crescimento económico do Brasil e da América Latina, mas também da queda subsequente", escreve a Bloomberg.

"O Presidente Bolsonaro assusta os investidores e afasta-os", considera o cofundador e diretor do Mar Asset Management, no Rio de Janeiro, Bruno Coutinho, acrescentando que "com Lula acontece o contrário".

Pelo contrário, o economista chefe da gestora de fundos Legacy Capital, Pedro Jobim diz que as perspetivas do país a médio prazo iam piorar com uma nova Presidência de Lula da Silva, nomeadamente através do controlo do Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil (BNDES), que poderia voltar a ter o peso político, económico e financeiro que tinha no primeiro mandato de Lula, o que seria "caótico para as frágeis finanças públicas".

Durante o mandato de Bolsonaro, houve uma reforma das pensões, cortes nos gastos com os funcionários públicos e outras iniciativas destinadas a tornar a economia mais competitiva, que é mais notada no estrangeiro do que propriamente no país, dizem os analistas.

"A agenda de Lula é o contrário da agenda reformista que tem sido levada a cabo", diz Jobim, simbolizando o apoio que Bolsonaro tem nas classes mais altas, que influenciam mais decisivamente a evolução dos mercados financeiros.

"Cada vez que Lula fala, penso em votar em Bolsonaro, mas cada vez que Bolsonaro abre a boca, penso em votar no Lula", sintetiza um corretor da bolsa, mostrando a grande divisão que existe nestas eleições no Brasil, em que cada candidato é encarado como a melhor das piores maneiras de derrotar o adversário.

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