Hungria opõe-se a sanções da UE ao nuclear russo
A Hungria, muito dependente da energia russa, opôs-se hoje a qualquer sanção da União Europeia relacionada com a cooperação nuclear com Moscovo, após as consultas do fim de semana em Bruxelas sobre novas medidas.
© Reuters
Mundo Ucrânia/Rússia
"Infelizmente, algumas entidades no interior da UE (...) não deixam de tentar impor obstáculos aos investimentos nucleares", assinalou o ministro húngaro dos Negócios Estrangeiros, Peter Szijjarto, na tribuna da conferência geral anual da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) em Viena.
Na sua perspetiva, estes obstáculos constituem "ataques contra a soberania" deste país da Europa central, que se opõe a outras sanções energéticas, incluindo indiretas (construção, engenharia ou serviços informáticos).
"Trata-se de uma linha vermelha" e semelhantes medidas "violariam as regras europeias", adiantou o chefe da diplomacia da Hungria, país sem acesso ao mar e que beneficia de derrogações ao embargo europeu ao petróleo russo.
A Hungria deverá iniciar em breve a construção de dois novos reatores nucleares, em colaboração com a empresa russa Rosatom. Destinam-se a completar os quatro em funcionamento, alimentados por combustível proveniente da Rússia e que asseguram cerca de metade da produção de eletricidade do país.
A rutura da cooperação nuclear com a Rússia é exigida pelos países que apoiam o reforço das sanções -- Estados Unidos, Polónia e Irlanda --, mas não obtém consenso entre os 27 Estados-membros, indicou fonte diplomática europeia citada pela agência noticiosa AFP.
A Bulgária, já privada do gás russo, também tem manifestado inquietação pelo facto de a sua única central nuclear produzir cerca de um terço da eletricidade do país.
O primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orbán, que defende a manutenção de relações de proximidade com o Kremlin, voltou a criticar hoje a estratégia da UE, num contexto de inflação galopante.
"A Europa deu um tiro no pé (...). Um anão impõe sanções a um gigante, e assim as sanções apenas podem funcionar no sentido inverso", referiu durante um discurso no parlamento de Budapeste.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e "desmilitarizar" a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para Kiev e imposição a Moscovo de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 5.916 civis mortos e 8.616 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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