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"Interesses do país" levaram Moçambique a abster-se de condenar Rússia

O primeiro-ministro de Moçambique disse hoje que a opção do país em se abster na condenação à agressão russa à Ucrânia deveu-se a princípios constitucionais e tendo em conta "o que é bom para os interesses" moçambicanos.

"Interesses do país" levaram Moçambique a abster-se de condenar Rússia
Notícias ao Minuto

21:19 - 24/09/22 por Lusa

Mundo Adriano Maleiane

Em resposta à Lusa após o seu discurso na 77.ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Adriano Maleiane afirmou que procurou "dar oportunidade ao diálogo" com a abstenção.

"O nosso voto significa aquilo que nós dissemos: a nossa Constituição é muito pela paz, pelo diálogo. E tudo o que nós estamos a fazer é seguir esses princípios, esses valores. Esta instituição em que nós estamos (ONU) é mesmo para garantir essa paz e estabilidade", justificou o primeiro-ministro.

"O que nós dissemos é: vamos dar oportunidade ao diálogo. (...) Não estamos a tomar posição nem de um lado, nem do outro. Estamos a tomar aquilo que a nossa Constituição nos diz para fazer e que é bom para o país e para os interesses de Moçambique. E colocar Moçambique numa situação que possa ser utilizada como, digamos, um mediador. (...) Na altura que tomamos a posição, infelizmente, já havia violência e o cenário de violência não mudou. Portanto, fica difícil dizer que vou continuar a tomar posição", acrescentou Maleiane.

A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou em 24 de março, com uma esmagadora maioria de 140 votos, uma resolução responsabilizando a Rússia pela crise humanitária na Ucrânia devido à guerra.

Dos 193 Estados-membros das Nações Unidas, a resolução, apresentada pela França e pelo México, e apoiada pela Ucrânia, obteve 140 votos a favor, cinco contra e 38 abstenções, entre elas a de Moçambique, Angola e Guiné-Bissau.

Adriano Maleiane chegou a Nova Iorque na sexta-feira para uma curta agenda nas Nações Unidas, na qual tem marcado um encontro com o secretário-geral, António Guterres.

O primeiro-ministro indicou que aproveitará essa reunião para convidar pessoalmente Guterres a visitar Moçambique e para reconhecer o papel das Nações Unidas e do secretário-geral no processo de consolidação da paz no país.

"As Nações Unidas, e em particular o secretário-geral, têm um papel importante neste processo de consolidação da paz e reconciliação em Moçambique. Até, por isso mesmo, tem lá o enviado especial do secretário-geral. Então, nós pensamos que era importante convidá-lo para testemunhar o fim desta primeira fase de desmobilização e reintegração", disse.

Nas declarações aos jornalistas no final do discurso, o primeiro-ministro explicou que a sua presença na Assembleia Geral da ONU se concentrou em dois objetivos: agradecer a eleição de Moçambique para membro não-permanente do Conselho de Segurança e chamar a atenção para a necessidade de se repensar o modelo de financiamento para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento.

"O lema desta sessão tem a ver com tempo de mudança, aquilo que coletivamente podemos fazer para nos ajustarmos ao tempo e nós trouxemos a ideia de manter os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. A avaliação que fazemos é que ainda continuam válida. O que é importante é repensarmos e ajustarmos o modelo de financiamento, porque há muitos objetivos e muitas metas, mas o financiamento foi basicamente deixado à mobilização de recursos internos", observou.

"Cada país tinha que fazer o seu máximo para poder financiar esses objetivos. E estamos a fazê-lo, mas com muita dificuldade. E a ideia é que tem de haver algum modelo para as instituições multilaterais, aquelas que são ligadas às Nações Unidas, poderem também adotar o financiamento dessa agenda", sugeriu.

O governante lamentou que esse financiamento parta de um esforço doméstico, avaliando que se "houvesse uma linha de crédito, se houvesse um modelo em que as pessoas saberiam que poderiam recorrer a instituição 'A, B OU C', poderia ser mais fácil".

Moçambique foi eleito, em junho passado, membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU para o biénio 2023-2024.

Para ter uma "presença digna" e conseguir "desempenhar o seu trabalho sem grandes constrangimentos", a delegação moçambicana na ONU será reforçada, disse Adriano Maleiane.

"Naturalmente, quando fizemos a nossa candidatura, tínhamos a dimensão do que será necessário neste momento (...) e é preciso reforçar a nossa capacidade, porque a procura vai ser maior. Moçambique passa a ser um dos membros que procura soluções. Os orçamentos para funcionamento da nossa comissão podem ser revisitados e estamos a trabalhar neste processo. Nós queremos ter a nossa presença digna e poder de facto desempenhar o trabalho sem grandes constrangimentos", afirmou o primeiro-ministro, que explicou que o Presidente moçambicano não esteve presente nesta Assembleia Geral por questões "de agenda".

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