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EUA. Homem ameaça à bomba Merriam-Webster por definições inclusivas

Jeremy David Hanson criticou duramente as definições de 'mulher' e 'identidade de género', prometendo matar os trabalhadores da editora do dicionário por respeitarem reivindicações linguísticas da comunidade LGBTI+.

EUA. Homem ameaça à bomba Merriam-Webster por definições inclusivas

Um homem nos Estados Unidos confessou-se culpado, na quarta-feira, de fazer ameaças violentas e odiosas contra a editora Merriam-Webster, responsável pelo dicionário de inglês com o mesmo nome, por o dicionário da mesma distinguir identidade de género de género biológico e pelas definições de pronomes de género.

Jeremy David Hanson, de 34 anos, oriundo da vila de Rossmoor, na Califórnia, foi acusado há cerca de um ano de assediar a editora ao enviar mensagens ameaçadoras, atacando particularmente pessoas com base na sua identidade de género ou orientação sexual. A acusação, conta a NBC News, partiu da procuradora-geral do distrito do Massachusetts, no estado norte-americano com o mesmo nome.

Na quarta-feira, em comunicado, a procuradora Rachael S. Rollins afirmou que "todos os membros da nossa comunidade têm o direito a viver e existir sem medo da sua identidade verdadeira". "Ameaças violentas motivadas por ódio violam esse direito e não serão toleradas no estado do Massachussets", acrescentou.

Numa mensagem utilizada como exemplo de discurso de ódio, publicada em outubro de 2021, Ganson acusou a definição de 'mulher' - que o dicionário define, numa das entradas relativas a adjetivos, como 'ter uma identidade de género oposta a um homem' - de ser "propaganda anti-ciência".

"Não existe 'identidade de género'. O imbecil que escreveu esta entrada deve ser caçado e morto", escreveu Hanson noutra ameaça - ao contrário do que o arguido diz, 'identidade de género' é um conceito reconhecido pela ciência e, segundo o dicionário online de Língua Portuguesa Priberam, pode ser definido como o "sentimento íntimo que alguém tem sobre o género a que pertence" ou "o género com o qual alguém se identifica", seja esse género igual ou não ao sexo biológico com o qual o indivíduo nasceu.

O mesmo dicionário diz ainda que a definição de 'mulher' é um "ser humano do sexo feminino ou do género feminino".

Segundo a acusação, citada pela NBC News, Hanson escreveu ainda uma mensagem no portal de contacto do site, afirmando que "seria justiça poética se alguém invadisse os vossos [da Merriam-Webster] escritórios e disparasse o local, não deixando nenhum dos comunistas vivos". E, numa ameaça ainda mais concreta, Jeremy David Hanson prometeu "disparar e bombardear" o local da organização.

As promessas do arguido foram levadas tão a sério que a empresa, sediada em Springfield, no estado do Massachusetts, viu-se obrigada a fechar durante cinco dias os seus escritórios em Springfield e em Nova Iorque.

Hanson foi detido a 20 de abril deste ano, tendo sido libertado depois do pagamento de uma fiança. O arguido confessou dois crimes de ameaças de comunicação em vários estados, uma contra a Merriam-Webster e outra contra o presidente da Universidade do Texas. A sentença deverá ser conhecida a 5 de janeiro de 2023, e o homem enfrente possivelmente cinco anos de prisão, três anos de liberdade condicional e uma multa até meio milhão de dólares, por crime confessado.

A mãe de Jeremy David Hanson contou às autoridades que o seu filho passou por enormes períodos de stress durante a pandemia, além de ter desenvolvido distúrbios mentais. O acusado confessou às autoridades estar arrependido pelas ameaças.

Ameaças dentro de uma 'moda'

Os alvos das ameaças de Jeremy Hanson foram para além da editora responsável por um dos mais respeitados dicionários de língua inglesa - o homem atacou outras instituições, que têm sido criticadas por políticos e dirigentes conservadores republicanos por procurarem criar mensagens e conteúdos mais inclusivos para a comunidade LGBTI+.

Por exemplo, depois do governador republicano Ron DeSantis ter criticado a Walt Disney pelas suas mensagens, Hanson fez o mesmo e enviou ameaças violentas contra a empresa - DeSantis, um acérrimo defensor de 'valores tradicionais', ao ponto de criar leis no estado da Flórida para proibir conteúdos e esclarecimentos sobre a comunidade LGBTI+ em manuais escolares e nas salas de aula, atacou a Disney por usar mensagens inclusivas no parque Disneyland, que fica no mesmo estado.

O arguido também enviou mensagens à Universidade do Texas, à Hasbro, ao governador da Califórnia, ao autarca de Nova Iorque e à Amnistia Internacional, entre várias outras pessoas com cargos públicos.

À Hasbro, Hanson replicou o discurso anti-LGBTI+ que encheu os órgãos de comunicação conservadores, como a Fox News, que dedicou horas de conteúdo a atacar a produtora de brinquedos por retirar as palavras 'Sr.' e 'Sra.' do brincado Cabeça de Batata.

Estes ataques por políticos conservadores, através também de legislação que ataca os direitos das comunidades LGBT+ nos Estados Unidos, surgem num ano em que este tema e a chamada "guerra cultural" se tornaram marcantes nas eleições intercalares (ao lado de outros assuntos como a proibição de livros críticos sobre a escravatura e o racismo no país).

Aproveitando a queda em popularidade dos democratas e de Joe Biden, devido ao crescimento dos custos de vida e dos combustíveis, os conservadores tentam reconfigurar a composição dos congressos estatais e nacional através de campanhas contra os direitos conservadores.

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