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Zelensky diz na ONU que Rússia deve parar com "chantagem nuclear"

A Rússia deve parar com a sua "chantagem nuclear" e retirar-se da central de Zaporijia, defendeu hoje o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) na qual participou por videoconferência.

Zelensky diz na ONU que Rússia deve parar com "chantagem nuclear"
Notícias ao Minuto

17:32 - 24/08/22 por Lusa

Mundo Ucrânia

"A Rússia deve parar incondicionalmente a sua chantagem nuclear e simplesmente retirar da central", disse Zelensky na reunião do Conselho de Segurança, órgão máximo da ONU devido à sua capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo, que assinalou seis meses da invasão russa da Ucrânia.

"Hoje o nosso país está a comemorar o Dia da Independência e agora todos podem ver o quanto o mundo depende da nossa independência", disse o chefe de Estado ucraniano.

Perante uma plateia composta por representantes diplomáticos e altos funcionários da ONU, que incluía o próprio secretário-geral da organização, António Guterres, Zelensky propôs realizar em Kiev em 2023 uma Cimeira do Futuro, sob os auspícios da ONU.

"O secretário-geral da ONU, António Guterres, ambiciona organizar a Cimeira do Futuro no próximo ano. Apoiamos esta iniciativa e reafirmamos: para construir o nosso futuro comum, é preciso deixar no caixote do lixo da história aquilo que não permitiu à humanidade viver em condições de paz, ou seja, agressão, ambições coloniais", disse.

E prosseguiu: "Seria simbólico realizar esta cimeira na Ucrânia, um país onde está a decidir-se se haverá algum futuro. Esta questão também está a ser decidida na central nuclear de Zaporijia, nos nossos portos, no Donbass (leste ucraniano), na Crimeia".

No seu discurso, marcado também por problemas técnicos que dificultaram a transmissão da sua mensagem, Zelensky declarou que "a Rússia colocou o mundo inteiro à beira de um desastre de radiação" e que é um "facto que a central nuclear de Zaporijia foi transformada numa zona de guerra".

O chefe de Estado ucraniano afirmou ainda que o bloqueio dos portos da Ucrânia desestabilizou os mercados, o que colocou o mundo numa situação de ter de "lutar para salvar dezenas de milhões [de pessoas] da fome provocada pela agressão insana de um país".

Logo após o início da reunião, a Rússia (um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e com poder de veto) opôs-se à participação de Zelensky através de videoconferência, afirmando que esse formato contradiz os requisitos do protocolo do órgão.

"A reunião foi anunciada com uma semana de antecedência e o Presidente da Ucrânia teve todas as oportunidades de vir a Nova Iorque (cidade sede da ONU). Constantemente observamos Zelensky encontrando-se com delegações estrangeiras, circulando pelo país e até posando para revistas de moda", criticou o diplomata russo, Vasily Nebenzya, opondo-se à participação virtual.

A questão foi então submetida a uma votação processual, sendo que 13 dos 15 membros do Conselho de Segurança votaram a favor da participação de Zelensky.

A Rússia votou contra, enquanto a China se absteve.

A reunião de hoje, que foi solicitada pela Albânia, França, Irlanda, Noruega, Reino Unido e Estados Unidos da América (EUA), marca seis meses desde o início das hostilidades russas em 24 de fevereiro. A reunião também coincide com o aniversário da declaração de independência da Ucrânia em 1991.

António Guterres, juntamente com a subsecretária-geral para Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz, Rosemary DiCarlo, fizeram um 'briefing' sobre a situação no país e forneceram números da destruição até ao momento.

Também vários diplomatas usaram da palavra para demonstrar apoio ao povo ucraniano.

"Presidente Zelensky, os Estados Unidos estão consigo e com o povo da Ucrânia, hoje e todos os dias. E cada bomba russa que cai apenas fortalece a nossa determinação de apoiar a sua soberania e a sua independência", disse a embaixadora dos EUA junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield.

"Hoje marca seis meses de guerra em grande escala premeditada, injustificável e brutal da Rússia contra a Ucrânia. Apenas seis meses desde que nós, sentados aqui na câmara do Conselho, vimos a Rússia, servindo na Presidência, tentar defender o indefensável. Seis meses de desafio da Rússia à comunidade internacional", acrescentou a diplomata.

Desde o início da guerra que os EUA se têm posicionado firmemente ao lado de Kiev. Para reforçar o apoio à Ucrânia, o Presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou hoje um pacote de ajuda de "longo prazo" no valor de 2,98 mil milhões de dólares (três mil milhões de euros), contemplando nomeadamente sistemas de defesa aérea e de artilharia.

Para Linda Thomas-Greenfield, o objetivo da Rússia é mais claro do que nunca: "desmantelar a Ucrânia como entidade geopolítica e apagá-la do mapa-múndi".

Porém, a embaixadora norte-americana advogou que a comunidade internacional nunca reconhecerá a tentativa da Rússia de mudar as fronteiras da Ucrânia pela força, independentemente da quantidade de "referendos falsos e autoridades ilegítimas que Moscovo tente instalar".

"Por toda a violência e carnificina, crises de fome e humanitárias, abusos dos direitos humanos e ameaças a grupos vulneráveis: a Rússia -- e somente a Rússia -- é a única responsável. E a Rússia sozinha é o único obstáculo para uma solução rápida para esta crise", pediu a diplomata.

Nem todos os embaixadores junto à ONU tiveram uma posição tão firme na defesa da Ucrânia, com países como o México e a China a apelarem a ambos lados que parem a guerra e a enfatizem a necessidade urgente de todas as partes retomarem o caminho do diálogo e da diplomacia para uma solução pacífica do conflito.

No seu posicionamento, o embaixador chinês, Zhang Jun, criticou as "sanções abusivas" impostas por alguns países à Rússia.

Pedindo soluções diplomáticas, Jun afirmou que a paz não deveria ser obtida através de sanções, "independentemente da complexidade da situação" e criticou as "constantes tentativas" de expansão da NATO.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.

Na guerra, que hoje entrou no seu 182.º dia, a ONU apresentou como confirmados 5.587 civis mortos e 7.890 feridos, sublinhando que os números reais são muito superiores e só serão conhecidos no final do conflito.

[Notícia atualizada às 18h49]

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