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Guterres realça estabilização de mercados e quer desmilitarizar Zaporíjia

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, identificou hoje sinais de estabilização dos mercados globais de alimentos e pediu, após uma reunião com os presidentes ucraniano e turco, a desmilitarização da central nuclear de Zaporijia (Zaporizhzhya), sob ocupação russa.

Guterres realça estabilização de mercados e quer desmilitarizar Zaporíjia
Notícias ao Minuto

17:43 - 18/08/22 por Lusa

Mundo Ucrânia/Rússia

"Desde a invasão russa da Ucrânia, tenho sido claro: não há solução para a crise alimentar global sem garantir acesso global total aos produtos alimentícios da Ucrânia e alimentos e fertilizantes russos. Quero expressar a minha gratidão a todas as partes pelo apoio" na implementação do acordo de exportação de cereais via Mar Negro, disse Guterres numa conferência de imprensa em Lviv, Ucrânia, ao lado do chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, e do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

"Temos visto sinais de que os mercados globais de alimentos estão a começar a estabilizar. Os preços do trigo caíram até 8% após a assinatura dos acordos. O Índice de Preços de Alimentos da FAO [Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação] caiu 9% em julho - a maior queda desde 2008. A maioria das 'commodities' alimentares está a ser negociada a preços abaixo dos níveis pré-guerra", salientou Guterres.

Firmada em julho, a denominada Iniciativa do Mar Negro para os Cereais foi impulsionada pela própria ONU e pela Turquia, para responder à alta inflação dos preços dos alimentos e à insegurança alimentar global, causada pela guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia.

Hoje, o líder da ONU admitiu estar especialmente satisfeito com o facto de o primeiro navio fretado pela ONU para transportar trigo ucraniano estar já a caminho, "para responder às necessidades das pessoas que sofrem com a pior seca das últimas décadas no Corno de África".

Contudo, o ex-primeiro-ministro português pediu para que "não haja ilusões", advogando que há ainda um longo caminho a percorrer antes de se verificar um maior impacto no quotidiano das pessoas, "nas suas padarias locais e nos seus mercados".

"As cadeias de abastecimento ainda estão interrompidas. Os custos de energia e transportes permanecem inaceitavelmente altos", frisou.

Guterres chegou na quarta-feira à cidade ucraniana de Lviv para um encontro trilateral com Zelensky e Erdogan, após encontros bilaterais com ambos os chefes de Estado, sobre a exportação de cereais, mas também o estado geral do conflito, a necessidade de uma solução política e outras questões, como a situação na central nuclear de Zaporijia e as tentativas de envio de uma missão de especialistas internacionais para avaliá-la no terreno.

Para Guterres, o "ímpeto positivo na frente alimentar reflete uma vitória da diplomacia -- do multilateralismo", "mas é apenas o começo" e compete "a todas as partes a garantir o seu sucesso contínuo".

"É vital ajudar a reverter a turbulência no mercado global de fertilizantes que agora ameaça as colheitas da próxima temporada -- incluindo o arroz, o alimento mais consumido no mundo. É essencial prestar socorro às pessoas e países mais vulneráveis", lembrou Guterres, garantindo que a organização que lidera continuará a trabalhar para fornecer apoio humanitário aos mais necessitados.

Porém, apesar dos apelos, o líder da ONU não deixou de sublinhar que o cerne do problema continua a ser a guerra iniciada pelapela Rússia em 24 de fevereiro.

Guterres voltou a afirmar que a invasão russa é uma violação da integridade territorial da Ucrânia e da Carta das Nações Unidas, que resultou em inúmeras mortes, destruição e deslocamento em massa e violações dramáticas dos direitos humanos.

Também a situação "preocupante" da central nuclear ucraniana de Zaporijia, que está sob controlo russo, foi abordada por Guterres, que destacou que a instalação - a maior da Europa - não deve ser usada como parte de qualquer operação militar.

"É urgentemente necessário um acordo para restabelecer Zaporijia como infraestrutura puramente civil e para garantir a segurança da área. (...) Não devemos poupar esforços para garantir que as instalações ou arredores da central não sejam alvo de operações militares. Equipamentos e pessoal militar devem ser retirados da central", exortou.

Em estreito contacto com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), a ONU avaliou ter na Ucrânia a capacidade logística e de segurança para apoiar qualquer missão da AIEA à central nuclear de Zaporijia, "desde que a Rússia e a Ucrânia concordem", disse Guterres.

"A área precisa de ser desmilitarizada. Devemos dizer as coisas como elas são -- qualquer dano potencial a Zaporijia é suicídio", afirmou o português.

Depois de Lviv (oeste), Guterres seguirá para Odessa (sul), cujo porto está a ser utilizado para a exportação de cereais ucranianos através do acordo impulsionado pela própria ONU e pela Turquia.

No sábado, o chefe das Nações Unidas viajará para Istambul, na Turquia, para visitar o Centro de Coordenação Conjunta que fiscaliza o cumprimento desse pacto.

A presidência ucraniana anunciou, em comunicado, que Guterres e Zelensky discutiram, no encontro bilateral entre ambos, formas de desenvolver o acordo sobre a exportação de cereais da Ucrânia, incluindo o envolvimento de mais navios na operação.

"A Ucrânia está pronta a continuar a ser um garante da segurança alimentar global", disse Zelensky, citado no comunicado.

O líder ucraniano e o chefe da ONU falaram ainda sobre a "deportação ilegal e forçada" de ucranianos para a Rússia e a "proteção dos ucranianos detidos ilegalmente" no país vizinho.

Zelensky pediu a assistência da ONU na libertação de militares e médicos ucranianos.

Pediu igualmente que representantes da ONU tenham "acesso permanente e sem entraves" aos deportados ucranianos.

Foi ainda abordado o envio de uma missão de averiguação da ONU a Olenivka, na região separatista de Donetsk (leste da Ucrânia), onde morreram dezenas de prisioneiros ucranianos no final de julho.

A Ucrânia acusa a Rússia de ter matado os presos, mas as autoridades russas negam e responsabilizam o exército ucraniano pelo bombardeamento da prisão onde se encontravam.

Zelensky propôs incluir no mandato da missão a questão do cumprimento, pela Rússia, dos acordos sobre a retirada dos combatentes ucranianos da fábrica Azovstal, em Mariupol (sul), segundo a presidência.

Zelensky disse que a Ucrânia quer participar na 77.ª sessão da Assembleia Geral da ONU e desenvolver iniciativas para responsabilizar a Rússia pela guerra.

Referiu, em particular, a "criação de um Tribunal Especial para o crime de agressão cometido por um Estado terrorista contra a Ucrânia", disse a presidência ucraniana.

Falou também num "novo mecanismo internacional de compensação por danos causados pela agressão russa".

Durante o encontro, Guterres garantiu a Zelensky que a ONU vai ajudar os ucranianos a superar as dificuldades no período de inverno.

Zelensky convidou ainda o secretário-geral da ONU a participar numa conferência 'online' da Plataforma Internacional da Crimeia, em 23 de agosto.

[Notícia atualizada às 17h50]

Leia Também: Zaporíjia. Zelensky exige a Guterres que ONU garanta segurança da central

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