Moderador que estava ao lado de Rushdie apela à proteção dos escritores
Henry Reese, conhecido pelo seu trabalho pela defesa da liberdade de expressão de escritores perseguidos, não saiu incólume do ataque.
© Getty Images
Mundo Salman Rushdie
Quando Salman Rushdie foi atacado violentamente num palco em Nova Iorque, o escritor não foi o único a sair da conferência em Chautauqua ileso. No palco, a assistir a tudo, estava Henry Reese, o moderador da conversa e cofundador de um programa de residência artística para escritores, que vivem sob receio de perseguição política.
A conversa ia focar-se numa análise aos Estados Unidos como um país de acolhimento para escritores que procuram asilo político, antes de Rushdie ser atacado. Durante a subida repentina a palco de um jovem norte-americano de origem libanesa, Henry Reese acabou por ser agredido e sofreu apenas uma lesão facial, tendo sido tratado no hospital.
Cinco dias depois do ataque, e com um olho bem negro e cerrado, Reese foi entrevistado pela BBC, e disse que a sua saúde estava a melhorar. "Estou bastante bem", garantiu.
Mas o moderador preferiu focar-se na recuperação de Salman Rushdie que, no domingo, terá conseguido falar, segundo contou o seu agente, Andrew Wylie.
"Acho que a nossa preocupação é com o Salman. Digo isso, tanto por ele como para o que ele representa no mundo, e ele é importante para o mundo", comentou Henry Reese.
Four days ago the author Salman Rushdie was attacked at a literary event in upstate New York. Henry Reese of @cityofasylum was about to lead the talk with Mr Rushdie on writers in exile when he was attacked too. On tonight’s @BBCWorld News America, Henry joins us. pic.twitter.com/AlBoTDH3J7
— Laura Trevelyan (@LauraTrevelyan) August 16, 2022
O ativista considerou que a resposta ao ataque contra o conceituado escritor deve representar vividamente uma "materialização dos nossos valores" em sociedade. "A nossa missão é proteger os escritores como um santuário, e ver Salman Rushdie ter a sua vida atacada... É difícil de descrever o que é ver aquilo acontecer em frente aos teus olhos", afirmou, lamentando que os escritores acolhidos pelo programa ao qual dedicou a sua vida "estavam na plateia a assistir a isto"
Apesar de Salman Rushdie ser, por motivos óbvios, o foco da atenção sobre o ataque, Reese é também considerado como uma voz importante para a liberdade de expressão nos Estados Unidos. Numa longa peça no The Atlantic, poucos dias depois do incidente, a revista norte-americana abordou o trabalho de Henry Reese na proteção de escritores em risco de vida através da fundação City of Asylum ('Cidade do Asilo', traduzido do inglês), escrevendo que ele e a sua mulher, Diane Samuels, "tornaram uma rua amaldiçoada de Pittsburgh num paraíso para escritores e artistas perseguidos por todo o mundo".
Para o The Atlantic, a City of Asylum é "a manifestação física do valor universal da liberdade de expressão".
A conversa entre Reese e Rushdie iria incidir, precisamente, sobre o trabalho da fundação, e o moderador espera que o debate volte à mesa quando o escritor estiver a salvo. "Isso seria ideal, isso acontecer e o que nós nos propusemos a fazer não ser impedido de qualquer forma. Demonstrar que estes valores serão defendidos, que podem ser defendidos", salientou.
Há anos que Salman Rushdie é alvo de ameaças por causa da sua opus magna, os "Versículos Satânicos", de 1988. A obra, que chocou a comunidade islâmica pela forma como aborda e ficciona o profeta Maomé, motivou a que o ayatollah Khomeini, do Irão, decretasse uma 'fatwa', o que constituiu praticamente uma condenação à morte pelo líder espiritual e chefe de estado iraniano, e o artista foi alvo de várias tentativas de assassinato que falharam.
Rushdie foi esfaqueado várias vezes e foi rapidamente hospitalizado, tendo sobrevivido ao ataque e encontrando-se a recuperar. O suspeito é Hadi Matar, um jovem norte-americano de origem libanesa, de 24 anos, que se declarou inocente da acusação de tentativa de homicídio.
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