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"Efeitos práticos da visita de Pelosi são menos para EUA e mais Taiwan"

O Notícias ao Minuto conversou com o embaixador Francisco Seixas da Costa sobre a visita da congressista Nancy Pelosi a Taiwan e as possíveis consequências.

"Efeitos práticos da visita de Pelosi são menos para EUA e mais Taiwan"

A líder da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos da América (EUA), Nancy Pelosi, visitou Taiwan, na passada terça-feira, tornando-se a primeira oficial a fazê-lo desde 1997. A visita durou menos de 24 horas, mas foi suficiente para fazer escalar a tensão entre a ilha e a China

Nas semanas que precederam a visita, a China alertou, várias vezes, os EUA das consequências que tal podia trazer, chegando a afirmar que Washington teria de “pagar o preço” da deslocação da congressista, que descreveu ainda como um “ataque”. 

O Notícias ao Minuto conversou com o embaixador Francisco Seixas da Costa, que explicou que “os efeitos práticos desta visita são menos para os Estados Unidos e mais para Taiwan”.

Passados dois dias da visita de Pelosi, é “necessário avaliar em que medida é que a China - que nos últimos meses já tinha vindo a aumentar a retórica sobre Taiwan, numa lógica que era lida como ameaçadora para a integridade e estatuto da ilha - ainda pode aproveitar este pretexto para criar mais medidas de coação, nomeadamente aquelas que têm a ver com uma espécie de embargo, quer de natureza militar, quer de natureza securitária da ilha”

No mesmo dia em que Pelosi se deslocou a Taiwan, o Ministério da Defesa da República da China informou que o Exército Popular de Libertação enviou 21 aviões militares para a Zona de Identificação da Defesa Aérea de Taiwan. Paralelamente, Pequim manteve as sanções comerciais impostas no dia anterior, proibindo a importação de vários bens e bloqueando a exportação de areia para a China.

Na ótica do embaixador, existem “dúvidas que esta visita favoreça Taiwan”, apesar de para a ilha “parecer uma vitória do ponto de vista de um maior reconhecimento norte-americano”, que mantém uma política de “ambiguidade estratégica” quando se trata do território insular, ou seja, não reconhece Taiwan como uma ilha, mas mantém relações. 

"No plano prático, tenho dúvidas que esta visita favoreça os interesses de Taiwan. Vamos ter de medir isto com o tempo e em função daquilo que são as perspectivas que a ilha tem relativamente à atitude chinesa", considerou.

Atitude que, explicou, “tem sido cada vez mais tensa” e tem levado Taiwan a “reforçar a sua capacidade militar, numa lógica defensiva, muito com a ajuda dos Estados Unidos, ao longo dos últimos anos”.

No entanto, o “comprometimento” que o país tem para com a ilha - apesar de o presidente norte-americano, Joe Biden, já ter afirmado que está preparado para a defender - “não significa que os Estados Unidos se comprometam a defender militarmente Taiwan, no caso de Taiwan ser atacada”

Os “compromissos” dos EUA, que datam até à presidência de Jimmy Carter, em 1979, prevêem o “armamento e toda a capacidade militar a Taiwan para se defender, mas não diretamente envolver-se numa ação militar”. “A doutrina americana face a Taiwan, a chamada ambiguidade estratégica, é uma doutrina que se baseia numa escassa clarificação ao modo como os Estados Unidos atuarão”, explicou.

Questionado sobre uma possível invasão de Taiwan por parte da China, Seixas da Costa considerou que esta será uma “opção limite”, sendo que o país chinês defende que a ilha “é um território deles”. “Há sempre a dúvida de que, se não houver condições, para que a integração se faça de forma dialogada, se a China estará disposta a fazer uma integração pelo uso da força. Portanto, o mundo vive desde há muitos anos para cá, a analisar as hipóteses que há de a China utilizar a força para invadir Taiwan. É um debate antigo na política internacional”, frisou.

Mesmo com as ameaças da China, Nancy Pelosi “correu um risco e avaliou o risco que correu” ao se deslocar a Taiwan, apesar das indicações do exército norte-americano, que consideraram a visita uma “má ideia”. “A estrutura institucional americana é uma estrutura democrática e há uma independência objetiva por parte da líder do parlamento que lhe permite ir a Taiwan, independentemente de os militares acharem bem ou acharem mal, independentemente de o presidente achar bem ou achar mal”, explicou Seixas da Costa.

“É evidente que Joe Biden não gostaria que ela fosse, é evidente que os militares americanos consideraram, em princípio, pelo facto de alguma provocação que pudesse trazer, que era inconveniente para aquilo que era a estratégia da administração. Mas tal não significa que Nancy Pelosi se sentisse vinculada”, explicou.

O embaixador descartou a ideia de que o objetivo de Pelosi com a visita fosse afirmar-se nos EUA para uma possível corrida à Casa Branca, considerando ser “estranho” devido à idade da congressista e à sua pouca popularidade no país. “Nós sabemos que, na política americana, não são os gestos de política externa que dão vantagem em matéria de política interna”, destacou.

Considerou ainda que existe uma “dissonância interna” na administração de Joe Biden, ao anunciar a morte de Ayman al-Zawahiri, líder da organização terrorista Al-Qaeda, horas antes da visita de Pelosi. “Esse facto, que foi importante do ponto de vista da estratégia americana contra o terrorismo, acabou por ser completamente abafado. Sob o ponto de vista da estratégia comunicacional americana, para aquilo que são os interesses do governo americano, foi um flop. É uma má coordenação”, atirou.

Sublinhe-se que as forças armadas de Taiwan disseram, esta quinta-feira, que se estão a "preparar para a guerra sem procurar a guerra", momentos depois da China ter iniciado as maiores manobras militares da história em torno da ilha.

[Notícia atualizada às 10h38]

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