No seu mais recente balanço da invasão russa, os analistas do Institute for the Study of War (ISW) consideram que as forças russas "comprometeram recursos suficientes para realizar ataques terrestres quase diários" no Donbass, "mas não conseguem sustentar um ritmo operacional ofensivo ou obter ganhos territoriais noutras partes da Ucrânia".
"A ofensiva russa, portanto, provavelmente culminará antes de tomar quaisquer outras grandes áreas urbanas na Ucrânia", concluem os analistas, que admitem que as forças ucranianas podem ter iniciado um contra-ataque a sudoeste de Iziyum, entre Kharkiv e Lugansk.
O Estado-Maior ucraniano informou que as suas tropas repeliram uma patrulha de reconhecimento russo em Pasika (aproximadamente 18 quilómetros a sudeste de Izyum) que tentava "expor as posições ucranianas" naquela zona, nos últimos dias.
O ISW diz que as forças russas controlam Pasika, a sul de Kharkiv, baseando-se em imagens geolocalizadas das forças russas que, desde meados do mês, avançam para sul, através de Bohorodychne, mas nem Kiev nem Moscovo confirmam estas informações.
Entretanto, as forças russas continuam a bombardear postos inimigos a noroeste de Slovyansk e a sudoeste de Iziyum, depois de terem bombardeado Chepil, cerca de 60 quilómetros a noroeste de Slovyansk, entre Kharkiv e Izyum.
O Estado Maior ucraniano reconheceu que as forças russas continuaram a atacar postos militares a sudeste e nordeste de Bakhmut e admitem que obtiveram ganhos territoriais significativos.
Na quarta-feira, as forças ucranianas atacaram a ponte Antonivskyi, que está controlada pelos russos, a leste da cidade de Kherson, tendo lançado oito projéteis sobre a parte rodoviária e dois sobre a parte ferroviária.
No mesmo dia, as forças russas tentaram um ataque na região de Bilohirka, a oeste de Mykolaiv, mas foram obrigadas a retirar-se sob fogo ucraniano, que destruíram um posto inimigo em Adriivka, a sudoeste de Davydiv Brid, passando a controlar esse posto.
Nas últimas horas, as forças russas também atacaram infraestruturas industriais, empresas de reparações e áreas residenciais na cidade de Mykolaiv, segundo o ISW.
Enquanto prosseguem trocas de prisioneiros entre os dois lados, os analistas do ISW constatam que o Kremlin mostra preferência por alguns grupos étnicos, alertando para o risco de tal causar distúrbios sociais na Rússia.
"O Kremlin continua a mostrar preferência por alguns grupos étnicos em detrimento de outros, durante a invasão russa da Ucrânia, o que pode desencadear distúrbios étnicos na Rússia", avisa o ISW, no seu mais recente balanço da guerra.
Os analistas deste instituto norte-americano citam a vice-ministra da Justiça ucraniana, Olena Vysotska, que disse que o Kremlin está a dar prioridade ao regresso de combatentes chechenos nas trocas de prisioneiros, nas quais parece não estar interessado em fazer trocas com soldados oriundos da República da Buriácia ou do extremo-oriente da Rússia.
Vysotska acrescentou que o Kremlin também não mostra consideração pelos prisioneiros de guerra das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk.
Para os analistas do instituto, esta discriminação, se vier a ser conhecida na Rússia, pode provocar distúrbios étnicos e problemas sociais para o regime do Presidente Vladimir Putin.
De acordo com o relatório do ISW, um outro problema para o Kremlin é a falta de colaboração dos ucranianos nos territórios ocupados, o que tem levado à necessidade de transportar cidadãos russos para cumprir tarefas básicas.
"As autoridades russas continuam a lutar para conseguir mão de obra suficiente para reabrir negócios, limpar escombros ou cumprir tarefas burocráticas em território ucraniano ocupado", constatam os analistas.
Para responder a esta dificuldade, o Kremlin começou a transferir funcionários do Governo russo para novas funções em regiões ucranianas ocupadas.
O Centro de Resistência Ucraniano também informou as autoridades russas de que não há pessoal médico suficiente na região de Lugansk, também por falta de cooperação da população local.
Este centro revela ainda que os oficiais russos nas zonas ocupadas continuam a mobilizar falsos movimentos de base para tentar criar condições para um referendo sobre a anexação russa, através de um movimento público intitulado "Estamos juntos com a Rússia".
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de 5.100 civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar russa causou a fuga de mais de 16 milhões de pessoas, das quais mais de 5,9 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A organização internacional tem observado o regresso de pessoas ao território ucraniano, mas adverte que estão previstas novas vagas de deslocação devido à insegurança e à falta de abastecimento de gás e água nas áreas afetadas por confrontos.
Também segundo as Nações Unidas, mais de 15,7 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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