"Pai, acabou. Ela morreu". As perdas entre civis continuam na Ucrânia
Na quinta-feira, Natalia saiu para alimentar os gatos e não regressou a casa.
© Reuters
Mundo Ucrânia/Rússia
Natalia Kolesnik tinha aprendido a viver com os riscos e com os súbitos bombardeamentos por parte das forças russas, tal como os restantes residentes de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia. Na quinta-feira, contudo, saiu para alimentar os gatos e não regressou a casa.
Viktor, esposo de Natalia, ficou em choque. Não a conseguia largar, conforme reporta a Associated Press.
“Pai, acabou. Ela morreu, levanta-te”, ouvia-se o filho do casal, Olexander, enquanto os socorristas esperavam para fechar o saco onde Natalia descansava.
“Não compreendes?”, questionou Viktor.
“O que é que não compreendo? Esta é a minha mãe. Pai, por favor. Pai, por favor”, apelou o filho.
“Não consigo ir embora”, replicou o pai que, de joelhos, abraçava a esposa com o queixo na sua cara.
“Estás coberto de sangue. As pessoas têm de a levar”, rematou Olexander.
Foi neste momento que Viktor fechou o saco, ficando, depois, sozinho num banco de jardim, a chorar.
“As pessoas sofreram, e para quê?”, lançou um vizinho que estava ali perto, enquanto observava os socorristas a auxiliarem os feridos.
“É horrível. Estou tão cansado disto. Todas as noites acordamos 10 vezes, esperamos que termine, esperamos até que comecem a disparar. O que é que os sacanas estão a fazer? Há prédios residenciais aqui”, reforçou.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 15 milhões de pessoas - mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Além disso, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A ONU confirmou ainda que mais de quatro mil civis morreram e mais de cinco mil ficaram feridos na guerra, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
A invasão russa - justificada pelo presidente russo pela necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores.
Leia Também: AO MINUTO: 6 mortos após ataque em Donetsk; Zelensky pede armas potentes
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com