Depois de criticar o seu próprio partido por não apoiar o governo italiano no envio de armas para a Ucrânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luigi Di Maio, anunciou esta terça-feira que vai abandonar o populista Movimento 5 Estrelas, para formar um novo grupo parlamentar que apoie o primeiro-ministro Mario Draghi.
A decisão de Di Maio traz nova instabilidade política ao governo italiano, que estabilizou durante o recente mandato do antigo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi. Ainda assim, a saída não deverá minar a maioria que serve de base ao governo.
O Movimento 5 Estrelas é um movimento populista fundado em 2009 como um movimento antiausteridade, e que se tornou no partido mais votado em Itália em 2018, com 33%. O grupo tem estado em desacordo desde que Di Maio acusou presidente do partido, Giuseppe Conte (também ele um antigo primeiro-ministro, entre 2018 e 2021) de limitar os poderes do governo no apoio à Ucrânia e de enfraquecer a posição italiana no contexto europeu.
Além disso, diz a Reuters, há especulação em Itália de que Conte poderá retirar o movimento do governo, de modo a recuperar tração nas sondagens - nas quais o partido caiu para metade das intenções de voto, comparativamente com o resultado obtido em 2018.
Numa conferência de imprensa, Di Maio contou que tomou "uma decisão difícil" e que levaria "muitos outros colegas e amigos" para outro grupo partidário. O ministro não indicou quantos deputados transitariam para o novo partido, mas deixou claro que a divisão seria grande o suficiente ao ponto do 5 Estrelas deixar de ser o maior partido no parlamento italiano.
O governante também não deu um nome ao partido, mas fontes políticas disseram à agência Reuters que o novo grupo parlamentar terá o nome de "Juntos Para O Futuro".
Quando Mario Draghi assumiu o cargo em fevereiro, convidado pelo presidente Sergio Mattarella para resolver a crise política e liderar a recuperação económica pós-pandemia, o antigo chefe do BCE prometeu que o faria apenas com um governo de "unidade nacional" - um governo que, além do partido de Conte, contém partidos à esquerda e à direita e que até recebeu na altura a bênção do líder da extrema-direita, Matteo Salvini (que chegou a ocupar o cargo de ministro do Interior).
Passado um ano, Draghi devolveu alguma estabilidade à vida política em Itália e a sua popularidade subiu a pique, devido à sua gestão da pandemia - e conquistou o eleitorado com "pequenos" gestos, como prescindir do salário de primeiro-ministro de mais de 100 mil euros anuais.
A saída de Luigi Di Maio do seu partido não implica uma perda de maioria parlamentar para Draghi, mas teme-se que a cisão no 5 Estrelas precipite uma perda de confiança no governo italiano e uma consequente crise política danosa.
As próximas eleições legislativas estão marcadas para o início de 2023 - as eleições legislativas em Itália acontecem de cinco em cinco anos - e o 5 Estrelas parece caminhar para esse sufrágio com menos de metade dos 33% conquistados em 2018.
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