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"Reduzir poderes" ou maioria absoluta para Macron? Parisienses indecisos

Os eleitores que se deslocam hoje às urnas no 4.º bairro de Paris estão indecisos entre "reduzir os poderes" de Macron, ao tirar-lhe a maioria absoluta, e o "verdadeiro problema" para a governabilidade do país que esse cenário representaria.

"Reduzir poderes" ou maioria absoluta para Macron? Parisienses indecisos
Notícias ao Minuto

13:41 - 19/06/22 por Lusa

Mundo Reportagem

Na escola primária de Moussy, perto da praça da Bastilha, Caroline, de 38 anos, acaba de votar em Clément Baune, o ministro e candidato neste círculo eleitoral da coligação que apoia Macron, e que defronta a candidata da coligação de esquerda NUPES, Caroline Mécary.

Indecisa até à última da hora, Caroline considera que o fim da maioria absoluta de Macron seria "um grande problema, porque faria com que fosse difícil agir e fazer o país avançar nos próximos cinco anos", vendo um voto na candidata da esquerda como uma escolha pelo "bloqueio".

"Tive muita dificuldade em votar, porque acho que há um problema no nosso sistema eleitoral: a cada vez que vimos votar, acabamos sempre por não votar consoante as nossas convicções, mas a votar ou contra alguém, ou para impedir que o país fique bloqueado", disse à Lusa a eleitora, que sai da assembleia de voto com um saco de pano a tiracolo e óculos de sol na testa.

Farta de ter de votar no "mal menor", Maude, de 60 anos, decidiu que, nesta segunda volta, não iria depositar nenhum boletim de voto na urna, apesar de se ter "sempre interessado" pelas eleições. À Lusa, diz que apenas se deslocou até à assembleia de voto porque um familiar lhe passou uma procuração.

Caracterizando-se como ecologista, a sexagenária, de cabelo pintado de laranja, diz que "nenhum candidato" lhe interessa e que mesmo a coligação Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES) não a convenceu.

"As convicções da esquerda não são partilhadas pela NUPES: o Jean-Luc Mélenchon [líder da coligação e do partido de esquerda radical França Insubmissa] não me representa", refere.

Yasmine, de 25 anos, discorda. O voto é uma "obrigação" e, com a união das esquerdas, as pessoas devem-se "mobilizar", sobretudo as que consideram que "não se está a ir pelo bom caminho".

Para esta jovem, Macron é "demasiado liberal" e a NUPES permitiria regressar a um "Estado mais protetor" e a um "reequilíbrio dos poderes".

"Iria permitir reequilibrar os projetos de lei no hemiciclo e faria com que voltasse a haver debates na Assembleia Nacional. Porque, agora, é verdadeiramente uma câmara de eco do Presidente. É muito dececionante", refere.

Com mais 54 anos do que Yasmine, Jean-Louis, quase a fazer 80, também defende que "seria bom para a democracia" que o atual Presidente perdesse a sua maioria absoluta, porque o obrigaria a dialogar com as outras forças políticas.

"Seria uma mudança para melhor na Assembleia Nacional. Há uma falta de diálogo e o senhor Macron decide sozinho. Na verdade, o Governo é completamente controlado pelo senhor Macron, que eu respeito, porque é o nosso Presidente da República. Mas não deixa de ter demasiados poderes", refere.

Pelo contrário, Michel, de 75 anos, teme que, sem uma maioria absoluta para Macron, a "voz da França comece a perder fulgor a nível internacional, sobretudo quando entra em concorrência com outras".

"Faria com que a França caísse no imobilismo, com muitas obstruções na Assembleia", refere o septuagenário, que vê com "preocupação" o crescimento dos extremismos, designadamente de extrema-direita.

Entre maiorias absolutas para Macron, ou vitórias para a esquerda, este círculo eleitoral irá também definir o próprio futuro do Governo, tendo em conta que um dos seus atuais ministros, Clément Beaune -- que tutela os Assuntos Europeus -- é candidato.

Caso perca as eleições -- na primeira volta, ficou em segundo lugar, com 35,81% dos votos, a cinco pontos percentuais da sua adversária de esquerda -- é 'praxe republicana' que também abandone o executivo.

No entanto, o destino do ministro -- visto como uma das estrelas em ascensão no universo 'macronista' -- parece importar pouco aos eleitores do 4.º bairro de Paris: a maioria dos entrevistados pela Lusa diz que não se deslocaram às urnas nem para 'salvar' Beaune, nem para o condenar.

Jean-Louis considera que Beaune deverá perder -- porque o "centro de Paris costuma votar à esquerda" -- e Jean-Pierre, a quatro dias de celebrar os seus 71 anos, também sustenta que o atual ministro escolheu "o sítio errado" e "devia ter ido para um lugar mais 'macronista'".

"O futuro dele depende da geração mais velha: se se levantar e for votar, tem hipóteses. Se ficar a dormir, não tem. Seria pena, porque há toda uma geração de jovens que começa a surgir -- seja à esquerda, seja à direita -- que está a substituir a velha guarda. Devíamos dar-lhes uma hipótese", sublinha.

Até às 12:00 locais (11:00 de Paris), tinham votado 18,99% dos eleitores franceses, um aumento relativamente a 2017, quando 17,75% tinham-se deslocado às urnas até à mesma hora.

Na primeira volta das legislativas, no último domingo, bateram-se recordes históricos de abstenção - 52,49% dos eleitores não votaram.

Leia Também: França/Eleições. BE saúda "caminho extraordinário" de Mélenchon e NUPES

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